Em meio à violência policial que marcou a forte repressão ao protesto de quarta-feira (12) contra o presidente de extrema direita da Argentina, Javier Milei, em Buenos Aires, o brasileiro Caio Sigmaringa, de 30 anos, passou mais de 6 horas detidos pela polícia argentina.
“Foram seis, sete horas detido, a maior parte do tempo sequestrado, porque não informaram nada: nem para onde ia, nem porque, nem se estávamos detidos realmente”, disse Sigmaringa ao Brasil de Fato.
Pelo menos 45 pessoas ficaram feridas nos protestos, entre elas o fotojornalista Pablo Grillo, que permanece em tratamento intensivo após ser gravemente ferido enquanto cobria a manifestação.
Nas primeiras horas desta quinta-feira (13), a juíza Karina Andrade liberou 114 dos 124 detidos, argumentando que a informação recebida sobre as detenções era “imprecisa”, sem “detalhes sobre a hora e o local” ou dados sobre o “delito específico” que supostamente haviam cometido, segundo o veredicto publicado pela mídia local.
Estudante de ciência política, trabalhador e ativista pelos direitos de pessoas com HIV, Sigmaringa vive há nove anos na capital argentina e diz não ter vivenciado nada parecido nesse período. “É a primeira vez que eu vejo nesse nível, claramente uma intenção de prender gente para justificar uma narrativa posterior de que eram violentos, era algo organizado ou era um golpe de Estado como estão dizendo os porta-vozes do governo.”
Em uma coletiva de imprensa nesta quinta-feira, a ministra da Segurança, Patricia Bullrich, buscou criminalizar publicamente os manifestantes ao afirmar que pertencem a “diferentes setores que buscam a desestabilização total e absoluta” do governo Milei.
Sigmaringa foi em direção ao Congresso argentino acompanhado de um grupo de amigos para participar do protesto, por volta das 16h. Mas, quando chegou nas proximidades, o grupo já encontrou as ruas cercadas por policiais. Antes do início da manifestação, os manifestantes foram duramente reprimidos pela polícia com balas de borracha, gás lacrimogêneo e caminhões de jato d’água.
Devido à violência policial o grupo de manifestantes seguiu pela avenida de Maio em direção à Casa Rosada, sede do governo argentino, quando foi encurralado por policiais.
“Veio uma coluna enorme de policiais com o escudo fechando o acesso para não poder sair por nenhum dos lados. As pessoas começaram a correr, mas chegou outra coluna de policiais fechando a outra rua. Basicamente a gente ficou preso nessa quadra”, conta Sigmaringa.
Ele relata que todas as pessoas que estavam na quadra naquele momento foram empurradas para uma parede, enquanto duas delas foram jogadas ao chão e agredidas pelos policiais na frente dos demais. “Não informavam o porque, só gritavam.”
Jovens, famílias, pessoas mais velhas, aposentados, ambulantes que estavam vendendo bebidas, todos foram colocados juntos em furgões que partiram sem nenhuma informação sobre o destino. Sigmaringa relata que as pessoas também foram impedidas de fazer contato com advogados. “Botaram a gente nos furgões, não disseram pra onde, não disseram se a gente estava detido. Eu fui depois de uma hora e meia levado para outra caminhonete com outras pessoas detidas que estavam algemadas, fomos levados para uma comisaria de polícia [equivalente a uma delegacia] e ficamos mais duas horas sem nenhuma informação.”
Só por volta das 23h, a polícia argentina informou que daria início aos procedimentos de detenção das pessoas. Apreenderam todos os celulares e deram início aos procedimentos formais com médico legista e documentação das pessoas detidas. Logo após o início do procedimento, as pessoas acabaram sendo liberadas pela decisão da juíza Karina Andrade.