Cerca de 300 mulheres integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) realizaram um protesto em frente à empresa de energia solar, Atiaia Renováveis, na Usina Maravilha, localizada entre Paraíba e Pernambuco. A manifestação, que ocorreu nesta quinta-feira (13), denuncia os impactos negativos da expansão de parques eólicos e solares na região, que ameaçam a permanência de famílias camponesas e a produção de alimentos saudáveis.

As mulheres, oriundas de acampamentos do litoral paraibano, trouxeram como lema ‘Agronegócio é violência e crime ambiental, a luta das mulheres é contra o Capital!’. A marcha integra a Jornada Nacional de Lutas das Mulheres Sem Terra de 2025, que acontece entre os dias 11 e 14 de março, em defesa da agroecologia e contra o avanço do capital energético.

Impactos negativos das energias renováveis

A instalação de parques eólicos e solares na região da Usina Maravilha tem gerado conflitos territoriais e ambientais. Segundo o MST, as empresas de energia, muitas delas controladas por capital estrangeiro, utilizam contratos de arrendamento ou cessão de terras, pagando valores irrisórios às famílias camponesas. Essa prática, além de expulsar agricultores de suas terras, coloca em risco a produção de alimentos e a segurança alimentar da região.

Além disso, o Ministério Público Federal (MPF), a Defensoria Pública da União (DPU) e a Defensoria Pública do Estado (DPE/PB) têm investigado denúncias de impactos socioambientais causados por esses empreendimentos. Entre os problemas relatados estão transtornos mentais, insônia, problemas de pele e surdez nas comunidades afetadas. O MPF também alerta para o desequilíbrio ambiental e a interrupção das dinâmicas de vida tradicionais, que ameaçam a permanência das juventudes no campo.

Marcha das mulheres pela agroecologia
O MST da Paraíba também participou, nesta quinta (13), da Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia, que chegou à sua 16ª edição, e reuniu agricultoras, quilombolas e povos originários no município de Esperança (PB). Além do protesto, a programação incluiu uma feira de produtos agroecológicos e apresentações culturais, como a da cantora Lia de Itamaracá.


Resistência na Usina Maravilha

A Usina Maravilha, falida há mais de 20 anos, foi ocupada por famílias do MST em 2013. Desde então, cerca de 600 famílias transformaram a área antes dominada pela monocultura da cana-de-açúcar em um espaço diversificado de produção de alimentos, como macaxeira, abacaxi, inhame e feijão. No entanto, a ameaça de despejo e a expansão dos parques eólicos colocam em risco a permanência dessas famílias na terra.
Eva Vilma, dirigente estadual do MST, destacou que as mulheres não são contra as energias renováveis, mas rejeitam um modelo que prioriza o lucro de grandes corporações em detrimento dos direitos das comunidades. “Concordamos com as energias renováveis, desde que beneficiem os trabalhadores e não expulsem as famílias da terra, impedindo a produção de alimentos e agravando a fome no país”, afirmou.

Em dezembro de 2023, uma ação de despejo resultou na demolição de quatro casas no acampamento Nova Esperança. Agora, a instalação de parques eólicos na antiga fazenda da Usina Maravilha representa uma nova ameaça, intensificando a luta das famílias pela reforma agrária e pelo direito à terra.
Energias renováveis e Reforma Agrária Popular

O MST defende um modelo energético popular e descentralizado, que respeite a natureza e os direitos dos povos do campo. Para o movimento, a transição energética não pode ocorrer às custas da expropriação de terras e da destruição de modos de vida tradicionais. “Nossa luta é pela vida, pela dignidade e pelo direito de permanecer em nossas terras”, afirmou a assessoria de comunicação do MST na Paraíba.