Chico Paiva tem 36 anos e é o neto mais velho de Rubens Paiva, avô que nem chegou a conhecer porque a ditadura militar sumiu com ele. Até hoje seu corpo não foi localizado. A viúva Eunice Paiva morreu em 2018, depois de viver 15 anos com Alzheimer. Dizem que Chico é o neto mais parecido com Rubens e ele estará aqui em Porto Alegre, assim como esteve em Hollywood há poucos dias para festejar o Oscar da vitória do filme que conta parte da história da família: a luta brutal de Eunice Paiva para cuidar dos cinco filhos, órfãos da ditadura.
Quem está trazendo Chico Paiva para Porto Alegre é o Psol, através de iniciativa da deputada federal Fernanda Melchionna em parceria com o mandato do vereador Roberto Robaina. Advogado, filho de Vera, a primogênita de Rubens, ele estará em duas sessões comentadas do filme Ainda Estou Aqui no Sindicato dos Bancários em Porto Alegre em datas a serem definidas. O filme está em cartaz no CineBancários até o dia 12 de março em sua programação habitual.

Chico Paiva receberá a Comenda Porto do Sol, proposição aprovada pela Câmara Municipal, no dia 3 de abril. “Seguimos firmes na luta para que as atrocidades da ditadura militar jamais sejam esquecidas e para que a verdade continue sendo defendida. Contamos com a presença de todas e todos para esse importante momento de reconhecimento e reflexão”, disse Robaina.
O nome completo de Chico é João Francisco Paiva Avelino e diz no seu Instagram que nasceu e cresceu em uma família que respira democracia. Afirma que se orgulha de ser neto de Rubens Paiva, engenheiro e deputado federal eleito em 1962 e cassado no golpe de 1964. Foi preso, torturado e morto pelo regime militar em 1971. “Meus pais, Vera e Avelino, se conheceram no movimento estudantil e foram lideranças da defesa da democracia, participando da redemocratização na resistência dos anos 1970 e 80”, diz.
Chico também enveredou pelo caminho da política, como o avô. Ele se candidatou a vereador pelo PSB em São Paulo em 2020, mas não conseguiu se eleger. Hoje participa de várias ações sociais e políticas em Brasília e São Paulo.
Sobre o livro Ainda estou aqui, base do filme e de autoria de Marcelo Rubens Paiva, seu tio, ele fala com carinho: “Ele ficou tetraplégico aos 19 anos, e é um grande exemplo no seu trabalho como escritor e jornalista, na luta democrática e pelos deficientes físicos”. Para o advogado, toda a história da família Paiva contribuiu para que ele se tornasse quem é: uma pessoa que acredita na política e no diálogo, que quer construir pontes.
“A política é a nossa ferramenta de transformação social e pode ser o exercício de mediação do cotidiano: desde o preço do arroz à Internet da qual dependemos em todas as casas; o acesso ao transporte público barato que permite usufruir das oportunidades de emprego, educação e lazer; e a qualidade do ar que respiramos para ter qualidade de vida”, analisa. “Acredito que só com muita escuta, colaboração e ação coletiva é possível fazer uma cidade, um país e um mundo melhor.”
Atualmente, se divide entre seu trabalho como diretor de Descarbonização e Finanças Verdes do Ministério de Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviço em Brasília e os estudos de Relações Internacionais, em São Paulo.
Tem sete mil seguidores no Instagram, onde posta assuntos de política e lembranças pessoais. Contou, por exemplo, que participou da entrega do Oscar nos EUA e do fato de ter conhecido todo o elenco do filme vencedor. “Foi um prazer ter a história da sua família lembrada em um filme vencedor. O Walter Salles e os atores foram extraordinários, geniais, perfeitos. Fiquei emocionado”, disse.
