Os Estados Unidos colocaram em vigor nesta quarta-feira (12) a tarifa de 25% sobre qualquer importação de aço e alumínio realizada de qualquer origem, inclusive do Brasil. A medida vai comprometer exportações brasileiras, principalmente do aço. O governo brasileiro considerou as medidas “injustificáveis”, e avalia medidas para defender os interesses dos produtores nacionais.
O Ministério das Relações Exteriores declarou nesta tarde que tais medidas estão sendo avaliadas junto com as empresas brasileiras. Existe a possibilidade de o Estado brasileiro recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC) contra as tarifas.
Eventuais retaliações, por ora, não foram anunciadas. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), disse que a prioridade do governo brasileiro é negociar.
Segundo economistas, essa postura do governo brasileiro está, em parte, relacionada a uma certa dependência do Brasil com relação aos EUA. Essa dependência já foi maior, apontam os especialistas. Ainda assim, ela existe e precisa ser considerada antes que o governo decida, por exemplo, taxar o que entra dos EUA para o Brasil.
“Brasil e EUA dependem um do outro. Mas essa dependência é assimétrica”, explicou Bruno de Conti, economista e professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “É mais fácil para os EUA encontrar ferro em outros lugares do mundo. O Brasil, por sua vez, compra muitos medicamentos. É mais difícil substituir isso.”
De Conti disse que esse tipo de relação é descrita na literatura econômica como centro-periferia. O Brasil, no caso, seria um país periférico para o mercado mundial. Segundo ele, toda a América Latina pode ser classificada da mesma forma.
O economista ainda ressaltou que os EUA é o segundo maior parceiro comercial do Brasil, estando só atrás da China. Para os EUA, a importância do Brasil é bem menor.
“O Brasil é dependente dos Estados Unidos, e não o contrário”, ratificou Marcos Cordeiro Pires, professor de economia política internacional da Universidade Estadual de São Paulo (Unesp) e pesquisador do Instituto Nacional de Estudos sobre EUA (INCT-INEU).
Segundo Pires, os EUA possuem a hegemonia financeira mundial por meio do dólar. Ele disse também que, tirando o nióbio, não há matéria-prima que o Brasil produza que não possa ser comprada em outro mercado.
“Os EUA compram aviões [brasileiros] da Embraer. Mas a Embraer necessita de motores, equipamentos e aviônica dos EUA”, acrescentou.
Melhor que antes
Roberto Goulart Menezes, professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e também pesquisador do INCT-INEU, ponderou que essa dependência do Brasil em relação aos EUA já foi maior.
Menezes aponta que a balança comercial entre os dois países é equilibrada, com pequena vantagem relativa para os EUA. “Temos relações maduras. Os EUA e o Brasil têm uma agenda estreita”, afirmou. “Na parte comercial, a relação com os EUA é mais equilibrada do que com a Europa e muito mais do que com a China.”
Em 2023, a China comprou do Brasil 104 bilhões de dólares em produtos (cerca de R$ 600 bilhões). Isso é mais do que as exportações para EUA e Europa juntos.
O economista Eric Gil Dantas, do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais (Ibeps), também vê uma grande interdependência entre Brasil e EUA. Ela se dá, em parte, porque empresas americanas atuam no Brasil.
“O principal importador brasileiro de turborreatores americanos – primeiro item da lista da pauta de importações – é a GE, uma empresa americana”, afirmou. “Quando Trump fala que ‘não precisamos deles’, soa mais como uma bravata genérica do que como uma afirmação que tenha uma base concreta.”
Dantas ressaltou que, independentemente disso, é saudável para o Brasil ser cada vez menos dependente dos EUA e de qualquer outro país. Para isso, “é preciso seguir a mesma receita de sempre”, disse: “diversificar parceiros”.