Oficiais do Sudão rejeitaram, nesta sexta-feira (14), um pedido de conversa com os EUA sobre uma possível acolhida do país a palestinos expulsos de Gaza, para concretizar o plano de Donald Trump de transformar o território no Oriente Médio em uma “Riviera do Mediterrâneo”.
Além do Sudão, os EUA contataram autoridades da Somália e Somalilândia para receber palestinos deslocados, de acordo com fontes anônimas da Associated Press. Um dos oficiais sudaneses que confirmaram a aproximação do governo Trump disse que os contatos começaram antes mesmo da posse do republicano com ofertas de assistência militar na luta do exército contra as Forças de Apoio Rápido paramilitares e assistência na reconstrução pós-guerra, entre outros incentivos.
As duas autoridades que falaram sobre o tópico disseram que “essa sugestão foi imediatamente rejeitada”. “Ninguém falou sobre esse assunto novamente”. A ideia inicial era que Egito e Jordânia fossem os destinos dos palestinos forçosamente deslocados de suas terras, mas ambos se opuseram veementemente ao plano de limpeza étnica.
O plano de “Riviera do Mediterrâneo” de Trump inclui o deslocamento forçado permanente dos mais de 2 milhões de habitantes da Faixa de Gaza, para a construção de um “espaço de negócios e lazer internacional” para os ricos e super-ricos. Sobre o assunto, especialistas em direito internacional já relembraram diversas vezes que qualquer reassentamento ou deslocamento forçado de um povo é ilegal, sob a lei internacional, e configura crime de guerra.
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, já havia saudado o plano de Trump em seu perfil na rede social X, chamando-o de “audacioso”. Os próprios palestinos rejeitaram veementemente a ideia, e disseram que as alegações de Israel de que os deslocamentos seriam “voluntários” é completamente falsa.
Nova proposta de trégua pelo Hamas
Também nesta sexta, o Hamas anunciou que está disposto a libertar um prisioneiro israelense-estadunidense, além de entregar os corpos de outros quatro cativos com dupla nacionalidade como parte de um acordo que permitirá discussões sobre como continuar a trégua com Israel em Gaza.
No entanto, Israel acusou o movimento islamista palestino de não “ceder nem um milímetro” nas discussões em andamento em Doha e de recorrer “à manipulação e à guerra psicológica”.
“Ontem [quinta-feira], a delegação do Hamas recebeu uma proposta dos mediadores para retomar as negociações. De forma responsável, o movimento respondeu positivamente e entregou sua resposta esta manhã, indicando seu acordo com a libertação do soldado israelense Edan Alexander, que possui nacionalidade estadunidense, assim como o retorno dos corpos de outros quatro [prisioneiros] com dupla nacionalidade”, disse um comunicado.
Um dirigente do Hamas disse à agência de notícias AFP que os quatro corpos eram de prisioneiros com dupla nacionalidade. Outro líder do grupo, Taher al-Nunu, indicou que “as cinco pessoas que o Hamas concordou em libertar sob a nova proposta dos EUA são ou foram prisioneiros israelenses com nacionalidade estadunidense”.
Uma nova rodada de negociações indiretas sobre o frágil cessar-fogo em Gaza, que entrou em vigor em 19 de janeiro, após 15 meses de massacre e genocídio, começou na última terça-feira (11) no Catar, onde Steve Witkoff, enviado do presidente Donald Trump para o Oriente Médio, participou dos esforços de mediação.
Assim como as outras libertações de prisioneiros ocorridas desde 19 de janeiro, estas devem ser realizadas em troca da libertação de prisioneiros palestinos mantidos por Israel.
No entanto, “novos critérios foram acordados, incluindo um aumento no número de detidos palestinos a serem libertados em troca”, disse uma fonte próxima ao Hamas à AFP, sem fornecer mais detalhes.
Netanyahu se reunirá com vários ministros envolvidos na noite de sábado (15), após o Shabat, “para receber um relatório detalhado da equipe de negociação e decidir sobre os próximos passos para a libertação dos prisioneiros”, acrescentou o comunicado.
O Fórum de Familiares dos Reféns, que exige a libertação de todos os prisioneiros em uma única troca para encerrar as hostilidades, ainda não se pronunciou sobre o anúncio do Hamas.
Desde o início do impasse quanto à fase do acordo de cessar-fogo em Gaza, forças israelenses lançaram mais ataques ao enclave, e mataram pelo menos duas crianças nas cidades de Gaza e Beit Lahia. O bloqueio de Israel quanto à chegada de ajuda humanitária em Gaza completou 13 dias nesta sexta.
*Com The Guardian, Associated Press e AFP