Fundada no início dos anos 1970, a Comunidade do Caribe (CARICOM) é uma organização internacional criada para fortalecer as relações na região caribenha. Atualmente, é composta por 15 países, e Cuba não faz parte desse grupo. Mas diante das várias ameaças que o governo dos Estados Unidos vem fazendo contra as missões médicas cubanas, autoridades do órgão têm se manifestado em apoio a Cuba, defendendo o que consideram uma assistência médica “inestimável” prestada pela ilha à região e ao mundo.
Desde o final de fevereiro, o Departamento de Estado dos EUA ampliou as restrições de vistos, aplicando-as não só a funcionários atuais ou antigos do governo cubano, mas também para autoridades de outros países que “participam ou facilitam” as missões médicas cubanas no exterior. Essas restrições, que já valem para funcionários venezuelanos, têm como objetivo dificultar a presença dessas missões em outros países.
Em resposta às ameaças dos EUA, a primeira-ministra de Barbados, Mia Amor Mottley, afirmou na quarta-feira (12), durante uma reunião ministerial sobre o orçamento do país — transmitida ao vivo pela TV barbadiana —, que não teriam superado a pandemia sem a ajuda das missões médicas cubanas. Diante das advertências de Washington sobre a possível perda de vistos, Mottley disse que estaria disposta a abrir mão do seu, se necessário.
“Barbados não tem mais profissionais médicos cubanos atualmente, mas serei a primeira a reconhecer que não teríamos superado a pandemia sem os médicos e enfermeiros cubanos”, afirmou.
“Estou preparada, assim como outros nesta região, para dizer que, se não chegarmos a um acordo sensato sobre essa questão, e se o custo for perder meu visto para os EUA, que assim seja”, declarou, sob aplausos dos presentes.
Ela acrescentou: “O que importa para nós são os princípios. E eu já disse várias vezes: os princípios só importam quando não é conveniente segui-los. Agora, não precisamos gritar, mas podemos ser firmes. Por isso, me junto aos meus irmãos da CARICOM para explicar o que os cubanos fizeram por nós. As Missões Médicas Cubanas, longe de serem um mecanismo de tráfico de pessoas, salvaram vidas, membros e a visão de muitos caribenhos”.
As declarações de Mottley fazem parte de uma série de pronunciamentos recentes de líderes caribenhos em solidariedade e defesa de Cuba.
Recentemente, o primeiro-ministro de São Vicente e Granadinas, Ralph Gonsalves, informou que os ministros das Relações Exteriores dos países da CARICOM estão reunindo informações relevantes sobre as Missões Médicas Cubanas, com o objetivo de “tratar do assunto em nível regional” para depois discutir com o governo dos EUA.
Com um tom irônico, Gonsalves disse: “Talvez algumas pessoas na Flórida, que estão promovendo essa linha política, não entendam direito o que está acontecendo. Quando tiverem as informações, vão ver que estão erradas”.
Gonsalves explicou que São Vicente e Granadinas paga aos profissionais cubanos o mesmo valor que paga aos seus próprios médicos. “Dizem que os profissionais cubanos que trabalham aqui, sob acordo com o governo cubano, precisam repassar uma parte do salário — não sei se 10% ou 15% — ao governo de Cuba. Mas isso não significa que eles sejam explorados. Eles receberam educação gratuita e, se vão para o exterior ganhar dinheiro com essa formação, não é absurdo que contribuam para que mais pessoas possam ser treinadas”, afirmou.
Para contextualizar a situação, Gonsalves comparou o sistema ao de seu próprio país, onde os estudantes acessam a educação por meio de empréstimos que precisam ser pagos depois. Sobre a presença dos profissionais cubanos em seu país, Gonsalves destacou o papel crucial deles na Unidade de Hemodiálise do Complexo Médico e de Diagnóstico Moderno, que eles supervisionam. “Temos 60 pessoas recebendo hemodiálise gratuita. Se os cubanos não estivessem aqui, talvez não conseguiríamos manter esse serviço. Devo deixar que 60 pessoas morram?”, questionou.
“Prefiro perder meu visto a permitir que 60 pessoas pobres e trabalhadoras morram”.
As Missões Médicas Cubanas
Por décadas, Cuba manteve diversos serviços médicos ao redor do mundo, tornando-se um símbolo de solidariedade e cooperação internacional. Desde o envio de brigadas médicas a países afetados por desastres naturais e epidemias até a formação de profissionais de saúde em várias nações, a ilha deixou uma marca indelével na saúde global.
Cuba já formou mais de 73 mil estudantes estrangeiros em suas escolas de medicina, incluindo a Escola Latino-Americana de Medicina (ELAM), a maior do mundo. Esses profissionais voltaram para seus países para fortalecer os sistemas de saúde locais. Além disso, a ilha caribenha ajudou a estabelecer sistemas de saúde pública em países como Argélia, Haiti e Venezuela. No Haiti, por exemplo, mais de 6 mil profissionais médicos cubanos realizaram 36 milhões de consultas e salvaram 429 mil vidas desde 1998.
O Contingente Internacional Henry Reeve, criado em 2005, atendeu milhões de pessoas em dezenas de países, incluindo a luta contra o ebola na África Ocidental e a resposta à pandemia de COVID-19 em 2020, atuando em mais de 20 nações.
Além disso, programas médicos como a “Operação Milagre” ofereceram tratamento gratuito, permitindo que mais de 4 milhões de pessoas em 34 países recuperassem a visão.