Há 40 anos o Brasil voltava a ter um presidente civil à frente do país. Em 15 de março de 1985, José Sarney chegava ao poder por conta de uma situação particular. De forma indireta, ele foi eleito vice-presidente na chapa com Tancredo Neves. No entanto, o político mineiro estava adoecido e foi internado horas antes da posse, de forma que, às pressas, foi decidido que o maranhense assumiria o posto e posaria para foto emblemática decretando o fim do ciclo de militares à frente do poder.
“O Sarney foi presidente do partido da ditadura, do PDS, mas ele acabou sendo uma surpresa boa para democracia, digamos assim, porque ele se comportou como um democrata em todos os períodos do mandato dele. Embora ele tenha sido um político oriundo da ditadura, ele manteve todos os ministros do Tancredo, e poderia ter feito isso. Digamos que, ao poucos, ele foi se convertendo à democracia”, afirma o historiador Moacir Assunção, professor na Universidade São Judas, em São Paulo (SP), em entrevista ao Brasil de Fato.
Moacir Assunção, autor do livro Luiz Carlos Prestes: um revolucionário brasileiro; Nem heróis, nem vilões, sobre a Guerra do Paraguai, lembra que o movimento Diretas Já era realidade na época da eleição de Tancredo Neves e José Sarney. No entanto, foi rejeitado pelos parlamentares, que decidiram por manter a eleição de forma indireta.
O especialista destaca ainda que a chapa eleita só chegou ao poder por acordos que tinha feito com figuras do alto escalão de Brasília. “[Foi] uma negociação das elites dos setores mais poderosos, que estava embutida a promessa de que os militares que cometeram crimes não seriam punidos. O principal deles, Carlos Alberto Ustra, homenageado pelo ex-presidente Bolsonaro na famosa sessão do impeachment da presidenta Dilma [Rousseff].”
‘Extremamente danosos’, diz Sarney sobre tentativa de golpe
Os 40 anos da posse de Sarney foram celebrados em Brasília (DF) neste sábado (15) em um evento com autoridades da política brasileira, incluindo o ex-presidente e ex-senador. Na visão de Sarney, a democracia está em pleno funcionamento no país.
“Nós estamos num clima de absoluta liberdade que conquistamos o povo brasileiro através da transição democrática. Agora, o que devemos ter presente é sempre aquilo que nós, que eu fui membro da UDN antigamente, nós temos como bandeira: ‘Liberdade e eterna vigilância’”, afirmou durante o evento.
Sarney também foi questionado sobre o julgamento em curso sobre a tentativa de golpe e os acontecimentos de 8 de janeiro de 2023. “Eu acho que esses acontecimentos foram extremamente danosos e, ao mesmo tempo repugnados pelo povo brasileiro e por todas as classes, mas nós tivemos a certeza de que as instituições que foram criadas por nós durante a transição, elas foram tão fortes que já atravessaram dois impeachments, uma tentativa de mudança do Estado de lei. No dia 8 de janeiro e agora, livremente, o nosso Supremo Tribunal está julgando o que ele apurar que sejam culpados.”
Repercussão nas redes sociais
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se manifestou pelas redes sociais sobre o marco de 40 anos da redemocratização. “Mais que a posse de um presidente da República, 15 de março de 1985 será lembrado como o dia em que o Brasil marcou o reencontro com a democracia”, escreveu. “Hoje é dia de lembrar e homenagear todos os brasileiros e brasileiras que lutaram pela redemocratização do Brasil”, finaliza a nota.
Outros membros do governo também se pronunciaram, como a recém-empossada Gleisi Hoffmann, agora, ministra-chefe da Secretaria de Relações Institucionais. “O presidente Sarney cumpriu papel histórico naquele período de transição, em que foi votada a nova Constituição e realizada a primeira eleição direta para presidente depois da ditadura. É importante homenageá-lo nos tempos atuais.”
Anielle Franco, ministra da Igualdade Racial também publicou nas redes sociais. “É um dia de orgulho e chamado coletivo para a importância de cuidar da democracia, fortalecer as instituições, garantir o exercício pleno dos direitos e enfrentar todo dia a desinformação, amiga íntima do autoritarismo.”
Fora do governo, quem também se manifestou foi a presidenta Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ministra do Supremo Tribunal Federal (STF), Cármen Lúcia. “Quarenta anos se passaram desde aquele 15 de março. Depois de mais de 20 anos de regime autoritário, minha geração pode testemunhar a chegada a uma das margens que buscávamos: um Estado Democrático de Direito no qual tomasse posse como nosso representante na Presidência da República o grupo que tinha chegado exatamente a partir das lutas nas praças, da legitimação nas ruas do Brasil”, relembrou a ministra.