Após uma desconexão geral nas subestações elétricas de Cuba, que causou o colapso do sistema elétrico e deixou o país no escuro pela quarta vez na última sexta-feira (14), a empresa de energia de La Habana informou no fim de domingo (16), que os circuitos de transmissão foram retomados na totalidade do território cubano, assim como os circuitos de distribuição primária da capital cubana.
A empresa também destacou que, durante o apagão, conseguiu manter o fornecimento de eletricidade para os locais de serviços essenciais, como hospitais e estações de abastecimento de água, para que estes continuassem sendo garantidos para a população da província de Havana.
A empresa Unión Elétrica também informou que já retomou as redes de fornecimento de energia das províncias de Pinas del Río até Guantánamo, além de ativarem a central termoelétrica da província de Matanzas, que já em processo de elevação de carga.
Segundo a empresa cubana de eletricidade, as províncias mais afetadas pelo apagão foram a de Artemisa e Pinar del Río, além de outras regiões em menor grau, e que, apesar das retomadas, os circuitos ainda estão afetados pela queda.
A Unión Elétrica havia anunciado um acréscimo de 400 megawatts no sistema de provisão elétrico entre a noite de domingo e a manhã desta segunda-feira (17), que reduzirá ainda mais o déficit no sistema de energia.
Colapso geral
O apagão geral que atingiu toda a ilha na última sexta, faz parte de uma grave crise energética que só tem piorado nos últimos anos. Esse já é o quarto colapso do sistema elétrico que o país enfrenta em apenas seis meses.
Segundo um breve comunicado do Ministério de Energia e Minas (Minem), o colapso aconteceu por volta das 20h15, horário local, devido a uma falha numa subestação em Diezmero, perto de Havana. A pane causou uma “perda significativa de geração no oeste de Cuba”, o que levou ao desligamento total do sistema elétrico nacional.
Desde 2020, a ilha tem enfrentado cortes de energia constantes, principalmente no interior do país, onde os apagões se tornaram algo comum, e duram várias horas por dia.
A situação foi piorando progressivamente e, a partir de 2022, começaram a ocorrer apagões prolongados em várias províncias. Com mais de 40% do território nacional afetado, o governo declarou uma “emergência energética” em outubro de 2024.
A medida incluiu o fechamento temporário de escolas e a suspensão de atividades culturais e recreativas, priorizando o fornecimento de energia para hospitais e centros de produção de alimentos.
Mas, poucas horas depois do anúncio, Cuba sofreu uma nova queda geral do Sistema Elétrico Nacional, deixando a ilha completamente no escuro. A situação já era crítica, mas piorou dramaticamente quando, 48 horas depois, no dia 20 de outubro, o furacão Oscar atingiu a ilha. Em meio ao apagão nacional, que dificultou as ações de prevenção, o furacão causou a morte de oito pessoas.
E a crise não parou por aí. No dia 6 de novembro, outro furacão, o Rafael, atingiu a ilha, causando uma nova queda do sistema elétrico e deixando todo o país sem energia. Os maiores danos ocorreram no oeste do país, afetando áreas densamente povoadas como as províncias de Artemisa, Pinar del Río e a capital Havana.
Bloqueio dos EUA
Atualmente, mais de 95% da energia do país vêm de combustíveis fósseis, enquanto apenas 5% é gerado por fontes renováveis. O combustível usado nas termoelétricas é, em grande parte, importado. No entanto, as importações de combustível – assim como de outros produtos – são dificultadas pelo bloqueio econômico imposto pelos Estados Unidos.
Estima-se que as importações de energia custem ao Estado cubano até três vezes mais do que o preço médio internacional. Isso afeta diretamente a economia do país, limitando os recursos disponíveis para modernizar o sistema elétrico.
O bloqueio também impede que Cuba tenha acesso ao mercado financeiro internacional. Diferente da maioria dos países, Cuba não consegue fazer os investimentos necessários para reformar seu sistema elétrico. Esse é um dos principais obstáculos ao desenvolvimento da nação e uma das causas – embora não a única – da profunda crise econômica enfrentada por ela.
Segundo cálculos da Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), somente entre março de 2023 e fevereiro de 2024, o bloqueio causou uma perda estimada de US$ 5,5 bilhões (R$ 29 bi), o que significa mais de US$ 421 milhões (R$ 2,4 bi) por mês, de acordo com estimativas do governo cubano.
Além disso, a energia de Cuba é gerada por várias usinas termoelétricas que funcionam a combustível. Essas instalações são antigas, algumas com mais de 30 anos, e precisam de manutenção constante para continuar operando. Como a infraestrutura é muito velha, os problemas são frequentes, e as usinas ficam fora de serviço para reparos.
A escassez de combustível, necessário para manter essas usinas funcionando, obriga o governo a desligar vários motores de geração de energia espalhados pelo país, para racionalizar o uso.
*Com Telesur