Nesta quinta-feira (20), mulheres do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) realizam uma ação de solidariedade ao povo indígena Ava Guarani, em Guaíra, no oeste do Paraná. A iniciativa vai distribuir cerca de 5 mil quilos de alimentos produzidos por famílias camponesas que vivem em acampamentos e assentamentos do MST no estado.
Ataques a indígenas e contexto de violência
A comunidade Yvy Okaju é uma das sete ocupações feitas pelo povo Ava Guarani na Terra Indígena (TI) Guasu Guavirá, em julho de 2024. Desde então, os indígenas sofrem ataques de grupos armados ligados a fazendeiros locais. O episódio mais violento ocorreu entre o final de 2024 e o início de 2025, quando pistoleiros atiraram em quatro indígenas, incluindo uma criança e um adolescente, e incendiaram casas na comunidade. Cinco pessoas seguem com balas alojadas no corpo, sem acesso a atendimento de saúde adequado.

Solidariedade e arte coletiva
Diante desse cenário, a doação de alimentos será feita na aldeia Yvy Okaju e também beneficiará outras comunidades indígenas da região. Além disso, a ação contará com a pintura coletiva de um mural, organizada pelo Coletivo de Juventude do MST junto a mulheres indígenas.
A distribuição das cestas integra a Jornada de Luta das Mulheres Sem Terra, mobilização anual realizada em março, mês do Dia Internacional das Mulheres. Neste ano, a campanha traz o lema: “Agronegócio é violência e crime ambiental, a luta das mulheres é contra o capital”.
Denúncia e cobrança por direitos
No Paraná, a iniciativa também busca chamar atenção das autoridades para as violações contra o povo Ava Guarani. “Além de levar acolhimento para essas famílias indígenas, também queremos chamar a atenção das autoridades para a violência que maltrata o povo indígena”, afirma Sandra Ferrer, assentada na comunidade Eli Vive, em Londrina, e integrante da direção estadual do MST.
A ação envolve famílias de acampamentos e assentamentos do MST, além de cooperativas da Reforma Agrária das regiões norte e noroeste do estado. As 450 cestas incluem alimentos como arroz, feijão, banana, batata-doce, abóbora, óleo e sal.

Histórico de expulsão dos Ava Guarani
Os Ava Guarani enfrentam um histórico de expulsão do território tradicional. A invasão de não indígenas na região remonta à década de 1930, mas se intensificou com a construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu, nos anos 1980, durante a ditadura empresarial-militar. A barragem submergiu 135 mil hectares de terra, grande parte pertencente aos Ava Guarani.
Para retomar o território, os indígenas realizaram sete ocupações na TI Guasu Guavirá em julho de 2024. A área foi identificada e delimitada pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) em 2018, mas segue sobreposta por 165 fazendas. A demarcação está travada na Justiça devido a uma ação movida pelas prefeituras de Guaíra e Terra Roxa, que suspendeu o processo em primeira instância. O impasse também depende da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a Lei do Marco Temporal, mantendo a comunidade sob constante ameaça.

Insegurança alimentar atinge 90% dos indígenas
O conflito territorial também impacta a segurança alimentar dos Ava Guarani. Um estudo do Núcleo de Promoção da Igualdade Étnico-Racial da Defensoria Pública do Paraná, divulgado em março, revelou que 90% dos indígenas de Guaíra têm acesso a apenas uma refeição por dia. O levantamento ouviu 67 famílias da aldeia Yvy Okaju.
A visita técnica realizada por assistentes sociais, assessores jurídicos e defensores públicos também apontou problemas urgentes em educação, saúde, moradia e renda. Além disso, muitos indígenas sofrem com problemas psicológicos decorrentes dos ataques armados e do preconceito por parte da população não indígena.
Jornada das Mulheres Sem Terra no Paraná
Além da ação em Guaíra, a Jornada das Mulheres Sem Terra no Paraná promoveu um Encontro Estadual em Reserva do Iguaçu, nos dias 6 e 7 de março. Na ocasião, militantes se uniram às famílias da comunidade Resistência Camponesa para protestar contra o despejo.
Outras mobilizações incluíram ações do Coletivo Marmitas da Terra, como mutirões de doação de sangue e rodas de conversa. Em São Luiz do Purunã, houve uma ação de solidariedade na retomada indígena Cristo Purunã. Além disso, assentamentos e acampamentos do MST promoveram formações sobre a urgência de superar o machismo.