Deputadas de nove legendas ingressaram, nesta quinta-feira (20), com uma representação no Conselho de Ética do Senado contra o senador Plínio Valério (PSDB-AM) por ter dado uma declaração sobre a possibilidade de agredir a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Durante participação em evento em Manaus (AM) no último dia 13, ao se referir a uma audiência da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das ONGs na qual a mandatária foi ouvida por parlamentares, Valério disse “imagine o que é tolerar Marina Silva por seis horas e dez minutos sem enforcá-la”. A declaração gerou diversas reações críticas à conduta do tucano, tendo como ápice agora a denúncia apresentada ao Senado.
Na denúncia apresentada ao Conselho de Ética, as parlamentares afirmam que o conteúdo da fala do senador extrapola os limites da imunidade parlamentar, direito previsto na Constituição Federal para membros do Poder Legislativo. As signatárias argumentam que a iniciativa de Valério tem “um evidente caráter de violência de gênero”. “A fala não apenas minimiza e desqualifica a presença da ministra no cenário político como também reforça um discurso de incitação à violência contra a mulher, um crime tipificado na legislação brasileira e que tem sido amplamente combatido, sobretudo no contexto da política nacional”, diz o texto.
As deputadas ressaltam ainda que “o uso do termo ‘enforcá-la’ direcionado a uma mulher em um contexto de discordância política carrega uma carga simbólica extremamente grave, pois remete à supressão da voz feminina pelo uso da força, à tentativa de desqualificar e intimidar uma liderança política pelo simples fato de ser mulher”. O grupo pede que o caso seja avaliado pelo Conselho de Ética e que o órgão dê “uma resposta institucional firme e imediata”, tomando as “providências cabíveis frente ao evidente descumprimento do Código de Ética e Decoro Parlamentar do Senado Federal”.
A denúncia é assinada pelas seguintes deputadas: Benedita da Silva (PT-RJ), Duda Salabert (PDT-MG), enfermeira Ana Paula (Podemos-CE), Gisela Simona (União Brasil-MT), Jandira Feghali (PCdoB-RJ), Laura Carneiro (PSD-RJ), Maria Arraes (Solidariedade-PE), Tabata Amaral (PSB-SP) e Talíria Petroni (Psol-RJ). O deputado Túlio Gadêlha (Rede-PE) também endossou o texto, em apoio à iniciativa.
Senado
Após as reações à declaração de Valério, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), disse que o tucano “foi muito infeliz nessa colocação”. “O senador Plínio Valério não poderia, em um evento, falar que acompanhou uma audiência pública de uma ministra de Estado por seis horas e que não sabia – em uma fala irônica ou despretensiosa, não quero julgar – onde [ele] estava [que] não enforcou a ministra”, continuou Alcolumbre.
Várias senadoras também criticaram o tucano. Atual procuradora da Mulher no Senado, Zenaide Maia (PSD-RN) disse repudiar o episódio e chegou a sugerir que Valério se desculpasse publicamente. Zenaide afirmou que o parlamentar cometeu um “explícito ato de violência de gênero contra uma mulher”. “As credenciais da ministra Marina, autoridade mundial em sustentabilidade, defesa dos recursos naturais e mudanças climáticas, nem precisariam ser elencadas, porque toda violência contra toda mulher tem que ser evitada, combatida e, sim, punida. Toda a minha solidariedade à ministra Marina Silva. Se o senador agrediu uma ministra, agrediu também a todas nós parlamentares e a todas as brasileiras. Todas nós somos Marina”, disse a senadora, em nota.
Após os apelos, Valério disse que a declaração teria sido “uma brincadeira”. “Se você perguntar ‘você faria de novo?’, não. ‘Mas está arrependido?’ Não, porque eu não ofendi. Eu passei seis horas e dez minutos tratando-a com decência, como merece toda mulher”, disse.
Na quarta (19), após a declaração do senador ganhar ampla repercussão nas redes sociais, Marina Silva disse que “com a vida dos outros não se brinca”. “Só os psicopatas são capazes de fazer isso”, emendou a ministra.
Sociedade civil
O Observatório do Clima, entidade composta por 133 organizações que atuam na área ambiental, divulgou nota em que condena a atitude do parlamentar e presta solidariedade à ministra. “Marina realiza trabalho competente no ministério, que em dois anos já resultou numa redução de 46% do desmatamento em relação a 2022. É mulher. É negra. É da Amazônia. Isso tudo a torna alvo preferencial de ataques misóginos e racistas, vindos especialmente de homens que defendem o que há de mais arcaico e degradante ao meio ambiente, à economia e às relações sociais do país. Os ataques do senador demonstram a truculência e o desespero de um parlamentar irrelevante, que não merece o mandato que tem”, diz o documento.