A exposição Das Mátrias, em cartaz no Núcleo de Arte Contemporânea da Universidade Federal da Paraíba (NAC-UFPB), em João Pessoa, é mais do que uma mostra artística: é um manifesto visual que resgata a força e a resistência das mulheres camponesas na luta pela reforma agrária e pela soberania alimentar.

Com obras da comunicadora popular e fotógrafa Carla Batista e do artista visual Diego Rezende, a exposição traz retratos de mulheres do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), da Comissão Pastoral da Terra (CPT), da Marcha pela Vida das Mulheres e pela Agroecologia e de Elizabeth Teixeira, líder histórica das Ligas Camponesas.
A mostra contrapõe a visão tradicional de pátria ao conceito de Mátria, evocando a terra como corpo-mãe em conexão com as mulheres e a agroecologia. As fotografias em lambe-lambe ocupam as paredes do NAC de forma grandiosa, criando uma narrativa visual que reforça o papel das mulheres na transformação social e na resistência contra o agronegócio predatório, o machismo e a violência no campo.

Carla Batista ressalta a importância das mulheres sem terra na luta por direitos e na construção de políticas públicas voltadas para a agricultura familiar.

“As mulheres Sem Terra são protagonistas na luta pela terra e pela reforma agrária. Elas enfrentam desafios históricos e estruturais, como o latifúndio, o machismo, a violência no campo, a exploração do trabalho, mas se organizam coletivamente para resistir e conquistar direitos. Estão na linha de frente das ocupações e na resistência para impedir despejos, na produção agroecológica, na educação popular, na construção de políticas públicas voltadas para a agricultura familiar e a soberania alimentar. Um exemplo dessa força são as Jornadas de Luta das Mulheres Sem Terra, que todos os anos mobilizam milhares de trabalhadoras rurais em todo o Brasil para denunciar o agronegócio predatório, a invasão do capital energético em seus territórios, exigir direitos e fortalecera luta feminista dentro e fora do MST, na defesa das sementes crioulas e na resistência da organização coletiva da luta”, afirma a artista.

A exposição também homenageia os 100 anos de Elizabeth Teixeira, símbolo da resistência camponesa, com a Sala Elizabeth Teixeira, e apresenta a obra Contra-atacar, de Diego Rezende, que utiliza imagens e palavras para destacar a urgência da reforma agrária popular no Brasil.

Rezende, que idealizou a exposição, explica que a mostra nasceu de uma inspiração coletiva. “Em 2024, nos 40 anos do MST, 40 artistas produziram 40 cartazes em comemoração ao movimento. Isso me motivou a trazer essa exposição para João Pessoa, de forma coletiva. A luta pela terra é a mãe de todas as lutas”, destaca.

As mulheres representam cerca de 48% da força de trabalho no campo e ainda enfrentam o machismo estrutural e a falta de acesso a políticas públicas. A exposição Das Mátrias surge como um espaço de visibilidade e celebração dessa resistência, unindo arte, cultura e militância em uma narrativa poderosa e necessária. As obras convidam o público a refletir sobre as vozes silenciadas e as múltiplas formas de resistência das mulheres do campo .

A exposição segue até 31 de maio no NAC-UFPB, localizado na avenida das Trincheiras, 275, Centro, João Pessoa (PB). A entrada é gratuita, e o horário de funcionamento é de terça-feira a sexta-feira, das 9h às 17h, e aos sábados, das 10h às 14h.