A luta pela defesa do território uniu mulheres do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e do povo Ava Guarani nesta quinta-feira (20), em Guaíra, no oeste do Paraná. As camponesas do MST doaram cerca de 5 mil quilos de alimentos às comunidades indígenas da região. Os produtos foram cultivados em acampamentos e assentamentos das regiões norte e noroeste do estado.
“As mulheres, em uma semana de trabalho, já vêm fazendo a colheita, preparando essas cestas com muito carinho, com muito amor, trazendo o que temos de melhor para compartilhar. Fortalecer essa aliança tem um significado muito importante: o MST também defende a luta pela terra, também defende as causas indígenas. Para nós, é uma relação de parceria e companheirismo”, afirmou Sandra Ferrer, assentada na comunidade Eli Vive e dirigente estadual do MST.
As cestas contêm arroz, feijão, banana, batata-doce, abóbora, óleo e sal e serão distribuídas a outras comunidades indígenas da região. Para Ferrer, a iniciativa busca fortalecer a resistência dos Ava Guarani e denunciar as violações de direitos humanos.
“A gente entende que o MST é um movimento de luta, que também luta pela terra, pela preservação e pela continuidade da vida. Por isso, recebemos vocês aqui hoje com muito respeito e honra. Serão sempre bem-vindos. Contamos muito com a ajuda de vocês”, declarou Ilson Okaju, representante da aldeia Tekoha Yvy Okaju.

Violência contra o povo Ava Guarani
A distribuição dos alimentos ocorre em um contexto de ataques e violência extrema. A comunidade Yvy Okaju é uma das sete ocupações feitas pelos Ava Guarani na Terra Indígena (TI) Guasu Guavirá, em julho de 2024. Desde então, os indígenas sofrem ataques constantes de grupos armados ligados a fazendeiros.
Entre o fim de 2024 e o início de 2025, pistoleiros dispararam contra quatro indígenas, entre eles uma criança e um adolescente, e incendiaram casas da comunidade. Cinco indígenas seguem com balas alojadas no corpo, sem acesso a atendimento adequado de saúde.
Para Paulina Kunha Takua Rocay Ponhy Martines, líder da aldeia Yvy Okaju, o direito ao território não está em discussão. “A partir do momento que uma criança está dentro da barriga de uma mãe, ela já tem o direito de lutar e de ter um território garantido pelo governante do Brasil”, afirmou.
Ela também denuncia campanhas de desinformação na mídia local. “Dizem que somos paraguaios, que teríamos que voltar de onde viemos. Mas de onde viemos? Viemos desta terra. Não somos de outro mundo, não viemos do outro lado do mar. Sempre estivemos aqui. À nossa história não se pode colocar um marco temporal”, ressaltou.
Solidariedade e resistência cultural
Além da doação de alimentos, mulheres do Coletivo de Juventude do MST e indígenas realizaram um mural coletivo. Segundo Ana Clara Garcia Lazzarin, do Coletivo de Juventude, a iniciativa fortalece a identidade e a presença da juventude na luta. “Estamos aqui construindo, junto com o povo Ava Guarani e as mulheres Sem Terra, essa mensagem visual e escrita. Isso tem uma força muito grande”, destacou.

A jornada de luta das mulheres Sem Terra
A ação faz parte da Jornada de Luta das Mulheres Sem Terra, que ocorre anualmente em março, mês do Dia Internacional da Mulher. Em 2024, o lema é “Agronegócio é violência e crime ambiental, a luta das mulheres é contra o capital”.
No Paraná, a jornada também busca denunciar a violência sofrida pelos Ava Guarani e pressionar as autoridades. “Além de levar acolhimento para essas famílias indígenas, queremos chamar a atenção das autoridades para a violência que maltrata esse povo”, reforçou Ferrer.
A jornada inclui outras mobilizações no estado. Em Reserva do Iguaçu, militantes se uniram às famílias da comunidade Resistência Camponesa e marcharam contra o despejo. O Coletivo Marmitas da Terra organizou mutirões de doação de sangue, rodas de conversa e uma ação solidária na retomada indígena Cristo Purunã, em São Luiz do Purunã.