Estudantes, docentes e servidores técnico-administrativos da Universidade de Brasília (UnB) se organizam para um ato em defesa da democracia e repúdio as tentativas de avanço da extrema direita dentro da instituição. A manifestação ocorre nesta segunda-feira (24), a partir das 16h30, no Instituto de Central de Ciências, do Campus Darcy Ribeiro, localizado no Plano Piloto.
O ato é motivado por ataques da extrema direita no Centro Acadêmico de Artes Visuais (Cavis), que gerou indignação do movimento estudantil e corpo docente.
Para o coordenador-geral do DCE Maktus Fabiano, a unidade entre as organizações estudantis tem sido fundamental. “É muito importante ver que entre todas as organizações estudantis da UnB há um consenso sobre a necessidade do enfrentamento à extrema direita, que hoje está novamente em ascensão. O DCE é a entidade de máxima representação estudantil na universidade”, ressalta.
“Combater a extrema direita se faz com luta e o único caminho possível é junto aos trabalhadores, estudantes e professores. Por isso, a gente convida a todos para esse importante ato”, afirma a integrante do coletivo Faísca Revolucionária e estudante de Serviço Social, Luiza Eineck.

Foto: Divulgação/Cedida ao BdF DF
Resistência estudantil e resposta institucional
O DCE Honestino Guimarães publicou ainda uma nota pública reafirmando seu compromisso contra o avanço da extrema direita. O texto destaca que “o fascismo cresce quando o discurso de ódio da direita se torna comum e familiar. Ele ataca a educação pública e os direitos da classe trabalhadora e, é nosso dever impedir que discursos e atos de ódio e violência se espalhem na UnB”.
A nota também denuncia os cortes de verbas, perseguições a professores e estudantes e ameaças constantes às universidades durante o governo Bolsonaro, caracterizando esse período como “um dos piores momentos da educação pública no Brasil”. O documento enfatiza que “as universidades ainda são alvo de ódio, ataques e mentiras! A nossa luta é reverter esses retrocessos, garantir mais investimentos, acabar com as medidas que prejudicam a educação e impedir que os aliados desse projeto continuem dentro da nossa UnB. É urgente a nossa mobilização!”.
O DCE ainda relata que acionou as autoridades internas e externas para garantir a segurança da comunidade acadêmica e proteger os estudantes contra ameaças. A nota foi assinada por 32 Centros Acadêmicos da universidade.
A Reitoria da UnB também se manifestou oficialmente: “A Universidade de Brasília (UnB) repudia as ações de grupos de extrema-direita ocorridas durante a última semana na UnB, bem como qualquer ato de vandalismo e intolerância dentro de seus campi. A instituição preza pelo respeito à diversidade, à liberdade de expressão e ao debate democrático, pilares fundamentais de uma universidade pública e plural”.
O comunicado destaca as medidas adotadas para reforçar a segurança da comunidade acadêmica, incluindo a criação do Comitê de Enfrentamento à Desinformação, regulamentação sobre direitos autorais e de imagem no contexto acadêmico, estudos para a ampliação do sistema de videomonitoramento e notificações à Polícia Federal sobre ameaças veiculadas nas redes sociais. Desde o dia 13 de março, a Reitoria intensificou ações de segurança.
“A UnB não se intimida diante de tentativas de ataque aos seus valores e reafirma seu compromisso inegociável com a democracia. Com uma história marcada pela resistência, a Universidade reafirma seu papel como espaço de construção do conhecimento, do pensamento crítico e da promoção dos valores democráticos, essenciais para a manutenção de uma educação pública, gratuita e de qualidade”, destaca o comunicado.
Histórico de luta acadêmica
A professora do Departamento de Serviço Social da UnB Lúcia Lopes reforça a importância histórica da universidade na defesa da democracia e dos direitos sociais. “A UnB sempre foi um espaço de existência, de construção do pensamento crítico e de produção de conhecimento voltado para as necessidades da população. Foi uma universidade que assegurou cotas para pessoas negras, pessoas de baixa renda, indígenas, vestibular específico para indígenas, porque sempre esteve, desde sua criação, sob uma perspectiva plural”, explica Lopes.
Ex-aluno da UnB e hoje docente do curso de Serviço Social, Leonardo Ortegal relembra as transformações da universidade ao longo das últimas décadas e alerta para os riscos da extrema direita dentro do campus. “Vi a UnB se comprometer efetivamente com um projeto de inclusão e equidade de acesso à universidade. Isso trouxe novos sujeitos, novas cores para o campus, e fez a universidade expandir sua relevância para o DF, que tinham uma presença mínima até o início dos anos dois mil. Os ocorridos recentes são inadmissíveis, demandam a devida resposta, mas precisam ser entendidos como ofensivas que não estão desvinculadas do que tem acontecido em diferentes partes do mundo, incluindo o nosso país” ressalta.