Levantamento feito pelo Brasil de Fato, usando dados da Câmara dos Deputados, mostram que houve uma redução da atividade parlamentar do ex-deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL) nos últimos anos.
O filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) assumiu seu primeiro mandato em 2015, ainda pelo PSC. Naquele ano, apresentou 118 propostas legislativas, sendo 14 Projetos de Lei, 12 assinados apenas por Eduardo Bolsonaro e outros dois coletivamente com outros parlamentares.
As propostas legislativas variam entre diversos formatos de requerimentos, Projetos de Lei, Projetos de Emenda Constitucional (PEC), pedidos de moções ou de formação de comissões para análise de matérias específicas, entre outros.
O auge de Eduardo Bolsonaro foi em 2023, quando participou de 341 propostas legislativas. Sete eram Projetos de Lei, sendo que apenas três partiram do seu gabinete.
Em 2024, esse número despenca para 124 propostas legislativas, com os mesmos três projetos de lei assinados por Eduardo Bolsonaro individualmente.
Os dados de 2024 de Eduardo Bolsonaro se tornam ainda mais tímidos quando comparados com a deputada federal Erika Hilton (Psol-SP), por exemplo, eleita a melhor deputada do ano passado, pelo prêmio Congresso em Foco.
Hilton participou de 538 propostas legislativas, sendo 25 Projetos de Lei, 15 deles formulados e produzidos pela própria parlamentar.
O ano que o filho do ex-presidente menos compareceu ao plenário foi 2018, com 66 presenças. Em 2024, foram 72 comparecimentos, o segundo pior índice. No ano de 2021, Eduardo Bolsonaro marcou presença em 120 oportunidades, sua melhor performance nesse quesito.
Mais preocupado com carreira internacional
Paulo Niccoli Ramirez, cientista político da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), credita a queda no rendimento de Eduardo Bolsonaro à sua ambição por uma carreira internacional.
“Esses números mostram que o Eduardo Bolsonaro, sobretudo na última legislatura, estava muito mais preocupado com dois aspectos. O primeiro deles é buscar ter um comportamento mais panfletário em redes sociais, com articulações políticas não necessariamente entre os bolsonaristas, mas também com forças externas”, pontua Ramirez.
Ainda de acordo com o professor da FESPSP, “essa redução do seu desempenho se dá em função, também, de que as investigações do 8 de janeiro e a trama que foi descoberta pelas investigações da PF poderiam chegar. Essas delações premiadas que serão negociadas podem chegar até ele. O fato dele se retirar do país são um indício de que há a possibilidade dele se tornar alvo da Polícia Federal, não é apenas uma decepção com a vida parlamentar”.
O cientista político Rudá Ricci considera “natural” a queda de desempenho, pois Eduardo Bolsonaro tem um perfil de um parlamentar de “bastidor e de organização, não um produtor de leis.”
“A produção dele sempre foi baixa, mas a queda produtiva mostra que desde as eleições de 2018 ele se articula com os EUA, para tentar ser uma liderança das Américas da extrema direita. Ele nunca conseguiu muitos espaços, mas ao se aproximar do Steve Bannon, conseguiu ser notado e passou muito tempo por lá. O caminho dele não é a produção legislativa, ele é um extremista”, finaliza Ricci.
Para Ricci, há similaridades na carreira de Eduardo Bolsonaro e do ex-presidente Jair Bolsonaro. “Ele seguiu os passos do pai, que durante 25 anos na Câmara foi um político inepto e incapaz de exercer a atividade parlamentar e ter projetos relevantes. Não basta ver a quantidade de projetos, mas entender a qualidade deles para a promoção da cidadania e a família Bolsonaro sempre esteve aquém dessa atividade”.
Saída do país
Na última terça-feira (18), Eduardo Bolsonaro anunciou que irá se licenciar do mandato e se mudar para os Estados Unidos. O parlamentar se encontra atualmente no país estrangeiro e disse por meio da rede social X que “não é seguro voltar para o Brasil”, em referência ao discurso de que estaria sendo supostamente perseguido pela atual gestão petista e pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
O filho número três do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) tem dito que busca atrair a atenção do governo Trump para obter apoio político à pauta da anistia aos participantes do 8 de janeiro. Além disso, pretende batalhar por sanções do país ianque ao ministro Alexandre de Moraes, alçado a inimigo número um da ala bolsonarista por conduzir processos que miram diferentes apoiadores do ex-capitão. Na lista está, por exemplo, o inquérito que enquadra o ex-presidente como réu por sua participação na intentona golpista que tramava um golpe de Estado e o assassinato de autoridades da República, entre elas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Moraes.