Com um chamado à unidade e à cooperação entre os povos do Sul Global, o 4º Colóquio Internacional Pátria, realizado na Universidade de Havana, chegou ao fim na quarta-feira (19). Sob o lema “Somos povos tecendo redes”, o evento reuniu, durante três dias, mais de 400 participantes de 50 países, entre jornalistas, comunicadores, acadêmicos, ministros e líderes sociais.
Eles debateram os desafios da comunicação, da tecnologia e da luta pela soberania da informação em um mundo dominado por hegemonias midiáticas, o tecno-feudalismo e o avanço da extrema direita. O documento final foi lido por Rosa Miriam Elizalde, coordenadora geral do Colóquio Internacional Pátria. Ela explicou que o evento surgiu para “articular projetos, experiências e estratégias comunicativas emancipatórias frente aos modelos dominantes, impostos por aqueles que usam a mídia e a internet para espalhar ódio, divisão e confronto entre os povos”.
Rosa Miriam também destacou que a coordenação do 4º Colóquio se comprometeu a construir uma rede permanente de trabalho, promovendo uma Rede do Sul, “consciente de que as ideias só ganham vida quando são acompanhadas de organização coletiva e constante”.
Ela lembrou que, embora a tecnologia tenha sido historicamente usada como ferramenta de dominação e exploração, também tem um potencial emancipatório quando reorganizada sob princípios de justiça social e soberania popular. No entanto, alertou que a corrida pela Inteligência Artificial permitiu que “as corporações globais assumissem a dianteira”, consolidando um modelo individualista de consumo que prioriza os interesses das elites em vez do bem comum.
Diante desse cenário, o Colóquio assumiu como uma de suas tarefas principais superar o modelo atual e construir um acervo comum, alinhado ao movimento do software livre. Isso significa não só denunciar o bloqueio tecnológico e econômico imposto a países como Cuba, que limita o acesso a tecnologias essenciais e viola seus direitos ao desenvolvimento e à soberania, mas também promover novas tecnologias baseadas na cooperação, na solidariedade e na equidade.
A declaração final do 4º Colóquio Internacional “Pátria” estabeleceu uma série de compromissos e resoluções para enfrentar os desafios atuais. Entre eles, destacam-se a continuidade na denúncia e no enfrentamento do bloqueio tecnológico e econômico contra Cuba e outros povos, que restringe seu acesso a tecnologias essenciais e viola seus direitos ao desenvolvimento e à soberania. O genocídio contra o povo palestino, vítima de “técnicas brutais de controle e aniquilação social”, também foi fortemente condenado.
Além disso, foi proposta a criação de uma “Carta dos Direitos Digitais” para garantir privacidade, pluralidade de vozes e acesso universal à tecnologia, pilares fundamentais para construir um mundo mais justo e igualitário. Os participantes também concordaram em criar uma plataforma de reflexão sobre tecnologia, baseada em ferramentas de software livre, que promova o uso de recursos colaborativos e ajude a definir agendas para o desenvolvimento econômico, cultural e político.
O Sul que não se ajoelha
Nesta quarta edição, o Colóquio homenageou os 20 anos da multiplataforma teleSUR. Na cerimônia de encerramento, Patricia Villegas, diretora da emissora, anunciou a criação de uma nova distinção chamada “Cidadão teleSUR”, que será concedida a pessoas que contribuíram para a defesa da soberania e a integração dos povos.
“Queríamos reconhecer que o teleSUR é feito por todos nós, muito mais do que por aqueles que estão nas redações, nos estúdios ou produzindo informações do Sul”, explicou. “Tivemos a ideia de criar essa distinção, que será entregue pela primeira vez em Cuba, um país que, junto com a Venezuela, é o pai e a mãe desse projeto de comunicação. Esse projeto mostra que somos capazes e que podemos fazer muito mais. Assim como fizemos com o teleSUR, seremos capazes de realizar outras coisas, como as que o presidente [Díaz-Canel] está nos incentivando a fazer, por exemplo, no campo da inteligência artificial.”
Em reconhecimento ao seu compromisso com a defesa da soberania e a integração dos povos do Sul, a condecoração foi entregue ao Comandante Raúl Castro Ruz, ao presidente cubano Miguel Díaz-Canel Bermúdez e ao presidente venezuelano Nicolás Maduro Moros.
“Juntos, os três representam o Sul que não se ajoelha. Ao receberem o prêmio Cidadão teleSUR do Sul, eles não estão ganhando um título, mas renovando um pacto: ser teimosos contra a subjugação. Para aqueles que leem sob bombas, como na Palestina; para aqueles que cantam canções de ninar revolucionárias; para aqueles que acreditam que outro mundo é possível no nosso Sul”, concluiu Villegas.