O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, recebeu nesta quinta-feira (20) familiares de venezuelanos deportados dos Estados Unidos e presos em El Salvador. O encontro foi realizado no palácio Miraflores, sede do Executivo venezuelano.
Os familiares falaram sobre as “injustiças” que os migrantes enfrentam por estarem detidos em um presídio de segurança máxima em um país que não está envolvido na questão entre Venezuela e EUA. Eles vincularam também a “insatisfação e revolta” de terem sido submetidos a “sanções” sem que tenham cometido qualquer tipo de crime.
O governo dos Estados Unidos alegou que os 238 venezuelanos que estão em El Salvador fazem parte do grupo criminoso Trem de Aragua. A Casa Branca, no entanto, não apresentou provas para essa vinculação. A decisão do republicano foi posta em prática no sábado, após a invocação da Lei de Inimigos Estrangeiros, de 1798. A legislação estabelece que qualquer pessoa que esteja nos Estados Unidos e seja considerada de uma organização terrorista está sujeita a ser deportada como “inimigo estrangeiro”, se tiverem mais de 14 anos e não forem naturalizados ou residentes permanentes dos EUA.
Segundo o governo da Venezuela, esses migrantes cumpriam com os requisitos para viverem nos Estados Unidos, mas foram “sequestrados de maneira violenta”. Ainda de acordo com o Ministério das Relações Exteriores da Venezuela, os migrantes venezuelanos sofrem uma “perseguição sistemática” por meio da “expropriação de bens e ameaça de separação familiar”.
Caracas pediu também o apoio da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) para uma articulação contra os “ataques à dignidade da América Latina”.
A reunião aconteceu depois de uma marcha e a coleta de assinaturas para demonstrar a insatisfação dos venezuelanos com a situação. Segundo 4 familiares ouvidos pelo Brasil de Fato, alguns dos migrantes trabalhavam no país com entrega de delivery e produção audiovisual.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, impôs uma promessa de campanha ao deportar 238 venezuelanos no último domingo (16). Por serem acusados de fazer parte do Trem de Aragua, foram levados à prisão de segurança máxima conhecida como Centro de Confinamento do Terrorismo (Cecot), em El Salvador.
Ao todo, 600 mil migrantes da Venezuela moram nos Estados Unidos de maneira irregular e podem ser afetados com a decisão. Caracas encampou as deportações e disse que o retorno dos venezuelanos cumpre com o programa do governo Retorno à Pátria, iniciado em 2023. O objetivo do governo de Nicolás Maduro era oferecer apoio logístico aos venezuelanos que estão fora do país em situação de vulnerabilidade e desejam voltar.
Para ter acesso ao programa, os venezuelanos só precisam se inscrever para receber orientações de como proceder. A ideia é disponibilizar inclusive passagens aéreas para os venezuelanos, além de apoio diplomático para esse retorno.
Um novo voo com venezuelanos deportados dos Estados Unidos chegou nesta quinta-feira (20) à Caracas. A aeronave voo com 311 migrantes que passaram antes pelo México. O governo da Venezuela agradeceu a cooperação com o México e disse que essa parceria é importante para uma relação de respeito entre as nações latino-americanas que sofrem com o projeto de Donald Trump.
Desde o começo das deportações, 5 aviões já chegaram à Venezuela com deportados dos Estados Unidos. Um deles veio com venezuelanos que estavam presos na base naval estadunidense de Guantanamo, em Cuba. Agora, 920 venezuelanos já voltaram ao país.
Idas e voltas
Caracas voltou a receber em março os deportados venezuelanos dos Estados Unidos. A medida foi firmada em reunião com o enviado especial estadunidense, Richard Grenell.
A decisão vem na esteira de um descompasso entre Caracas e Washington. Os dois governos anunciaram no começo de fevereiro um acordo para as deportações. Grenell viajou à Venezuela e foi recebido pelo presidente Nicolás Maduro. O governo venezuelano concordou não só em receber os voos, mas também em buscar os migrantes com um avião da companhia estatal Conviasa. O enviado estadunidense chegou a afirmar que o governo de Trump não quer uma “mudança de regime” para a Venezuela.
Mas em março, a Casa Branca anunciou que não renovaria a licença que permitia que a petroleira estadunidense Chevron atuasse na Venezuela. Em resposta, o governo venezuelano disse que não receberia mais os deportados. Depois dessa troca de declarações, os dois governos chegam agora a um acordo para retomar a deportação de venezuelanos.