Na manhã deste sábado (22), um indígena Avá Guarani foi encontrado morto e decapitado em uma estrada rural na cidade de Guaíra (PR), próximo ao aeroporto. O seu corpo foi jogado na vegetação e sua cabeça pendurada em uma estaca feita de galho de mamona. Imagens chocantes circulam em grupos de Whatsapp.
Lideranças Avá Guarani afirmaram ao Brasil de Fato, em condição de anonimato, que o homem assassinado se chama Marcelo Ortiz e atendia pelo apelido de Ku’i. “Era um jovem trabalhador, morador do Tekoha Jevy”, contou um indígena ouvido pela reportagem.
A autoria e a motivação do assassinato seguem desconhecidas. Agentes da Força Nacional, da Polícia Federal (PF) e da Polícia Civil foram ao local e o corpo de Ortiz foi encaminhado ao Instituto Médico Legal (IML) de Toledo (PR).
Em nota, a PF informa que “iniciou investigação policial no início da manhã” e que “foram realizadas diligências policiais e perícia visando a identificação dos autores do crime”.
Escalada da violência em área de disputa por terra
A aldeia onde Ku’i morava faz parte da Terra Indígena (TI) Guasu Guavirá que, sobreposta por 165 fazendas, já teve seus 24 mil hectares identificados e delimitados pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) em 2018. Desde então, no entanto, o processo demarcatório está parado por conta de uma ação impetrada pelas prefeituras de Guaíra (PR) e Terra Roxa (PR) e acatada pela Justiça Federal em primeira instância.
Confinados em pequenas áreas ou vivendo em territórios retomados, os Avá Guarani pressionam pela reocupação e demarcação de suas terras no Oeste do Paraná. Desde julho de 2024, quando os indígenas retomaram parte de seu território, a violência escalou na região e a cidade de Guaíra (PR) se tornou o centro do conflito.
Neste município, que faz fronteira com o Paraguai, um acampamento de não indígenas foi montado próximo à retomada Yvy Okaju. A aldeia, alvo de diversos ataques armados, já teve 12 de seus moradores alvejados. Entre eles, uma criança e um jovem. Os indígenas também relatam sofrer ameaças e boicote dos comércios locais, vivendo sob um cerco e, por vezes, passando fome. Na última quinta-feira (20), mulheres do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) doaram cinco mil quilos de alimentos aos Avá Guarani.
É neste contexto que acontece o homicídio brutal de Marcelo Ortiz. “A cabeça foi colocada em um toco de mamona para todos verem. Foi posta em um lugar que é a única via para chegar na aldeia e também para sair para a cidade”, relata uma liderança Avá Guarani.
“Não sabemos quem fez, nem porque isso aconteceu. Queremos que as investigações sejam feitas o quanto antes”, demanda outra Guarani, ouvida pelo Brasil de Fato.
Na manhã deste sábado (22) indígenas e integrantes de organizações indigenistas estavam no Tekoha Hité para uma reunião previamente marcada quando chegou a notícia sobre o corpo encontrado. Alguns se deslocaram até a estrada e acompanharam a chegada da perícia. Os Avá Guarani fizeram cantos e rezas.
O episódio acontece dois dias antes do início da assembleia geral da Comissão Guarani Yvyrupa (CGY), organização que reúne indígenas do povo Guarani das regiões Sul e Sudeste. Cerca de mil lideranças devem se reunir na cidade Itaipulândia (PR) entre segunda (24) e sexta-feira (28).