Em evento aberto ao público na quarta-feira (26) no Sesc Bom Retiro, em São Paulo, o Brasil de Fato lança Território em Fluxo, uma série documental de cinco vídeos sobre a região conhecida como Cracolândia, no centro da capital paulista. Resultado de nove meses de apuração e 30 entrevistas – entre usuários, moradores, artistas, ativistas, pesquisadores e redutores de danos –, a produção se contrapõe a abordagens estigmatizantes para, a partir de quem atua na região, retratar a complexidade do território.
A despeito das insistentes promessas de campanha de “acabar com a Cracolândia” feitas por quase todos os políticos que assumem as gestões municipal e estadual de São Paulo, o chamado “fluxo” – cuja definição é tema do primeiro episódio da série – insiste, mais que as políticas repressivas, em permanecer.
Os intentos de gentrificação da disputada região central da capital paulista, alternando entre roupagens de brutalidade policial e planos de “revitalização”, tem como mais recente capítulo a intenção da gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos) de transferir para o bairro da Luz a sede do governo estadual.
Neste contexto, abarcando a história e as transformações da região, a série destaca pessoas e coletivos que implementam ali iniciativas de cultura, renda, cuidado e engajamento político, na contracorrente da guerra às drogas.
“Os coletivos trazem algo de diferente. Quarta à noite, cinema, doação de pipoca, doação de bolo, água, preservativo, e por aí vai. Pô, é diferente”, conta Renato Oliveira Junior, frequentador da Cracolândia. “O TTT [projeto Teto, Trampo e Tratamento] passa duas horas no fluxo, pessoal pára para ver, para participar, sabe? Tem o Blocolândia também, que é o bloco de carnaval da Craco. O Pagode na Lata também”, elenca Renatinho, como é conhecido.
“O centro da identidade deste território não é a marginalidade, não é a violência. É a cultura e a diversidade”, define Evelyn Lauro, articuladora social do Museu da Língua Portuguesa.
“Nesse momento, a escuta dessas pessoas é fundamental, algo que não tem sido feito pelo poder público – daí a relevância do papel da mídia”, ressalta Iolanda Depizzol, diretora do documentário. “É preciso que elas próprias [pessoas que vivem no território] relatem sua realidade e apontem caminhos possíveis para os desafios existentes”, pontua.
O evento no Sesc Bom Retiro integra a programação do “Festival Direitos Humanos para Todas as Pessoas” e, para além da exibição, terá bate-papo e intervenções. Às 18h haverá uma apresentação musical de MC Docinho e, em seguida, um debate com Francieli Silva, redutora de danos TTT; Veronika Verão, do Coletivo Tem Sentimento; e Giordano Magri, pesquisador de políticas públicas e direitos humanos. A mediação será conduzida por Iolanda Depizzol.