Funcionários terceirizados da limpeza de pelo menos três escolas da região do Butantã, zona oeste da cidade de São Paulo (SP), estão em greve desde a última sexta-feira (21) para protestar contra o atraso de duas semanas no pagamento do vale-alimentação. Na maioria mulheres, têm contrato com a empresa Lume, que faz parte do grupo Life Service.
Até a noite desta segunda-feira (24), a situação não havia sido normalizada. Alguns funcionários também relatam não haver recebido os valores referentes a férias.
Trabalhadores da empresa Lume Serviços Gerais que atuam no Centro Educacional Unificado (CEU) Butantã, no CEU Uirapuru e na Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Ibrahim Nobre cruzaram os braços após duas semanas de atraso no benefício. Funcionários de pelo menos outras duas escolas também relataram atrasos nesses pagamentos.
Uma mensagem de WhatsApp encaminhada por um dos trabalhadores para o Brasil de Fato, supostamente de um representante da Lume, reconhece e justifica o atraso pois a empresa estaria esperando receber o pagamento de outros clientes. Houve a promessa de que os pagamentos seriam regularizados no dia 26, mas na tarde de hoje, trabalhadores alegam ter recebido o prazo do dia 28.
Outra mensagem, também alegadamente de representante da Lume, coloca regras de “comportamento” para os funcionários. Entre elas está a proibição de usar o celular e ameaças de advertência em caso de atrasos. “Onde já se viu um funcionário que sai da sua casa às 5h30 da manhã para voltar às 16h não poder pegar um celular pra falar com um filho nesse decorrer de tempo tão extenso”, reclama uma trabalhadora que não quis se identificar por medo de represálias.
Uma publicação no Instagram do perfil Jornal News Butantã mostra funcionários com o uniforme da Lume em frente ao CEU Uirapuru, protestando contra a situação.
Na Emef Ibrahim Nobre, o Conselho Escolar – colegiado composto por funcionários e famílias da escola – divulgou uma mensagem de apoio aos trabalhadores da limpeza. “Nós, professores e educadores da Emef Ibrahim Nobre, tivemos ciência da situação injusta que as trabalhadoras da limpeza da empresa Life Service estão enfrentando com o atraso de seus direitos, como o Vale Cesta. Situações como essas colocam essas trabalhadoras em uma situação que impacta suas vidas e a de suas famílias”, diz a mensagem.
“Consideramos que o trabalho de limpeza nas escolas é de fundamental importância para o atendimento de qualidade aos estudantes e é parte do fazer pedagógico escolar“, segue o texto.
“Nossa situação é que a empresa Lume a cada dois meses tem desses trâmites de pagar nossos benefícios com atrasos pagamento”, diz uma funcionária que não quis se identificar. “Estamos em paralisação, porém dentro da unidade fazendo o básico para não prejudicar as crianças e funcionários, que não têm culpa. Porém, estamos muitos descontentes com a empresa”, afirma. Ela diz que a reivindicação é a troca da empresa responsável pela prestação do serviço.
Outra funcionária, de uma unidade em que não há paralisação, relata que a equipe da escola conversou internamente sobre a possibilidade de aderir ao movimento. Ela afirma que recebeu, então, um áudio com ameaça de demissão caso as trabalhadoras parassem de trabalhar.
A Prefeitura de São Paulo informou em nota que realizou os pagamentos pelo serviço para o grupo Life Service no dia 7 de março e que a empresa foi notificada para realizar o pagamento dos funcionários.
“A Prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Municipal de Educação (SME), informa que o Grupo Life Service foi pago corretamente no último dia 7, conforme previsto em lei. A empresa foi notificada para regularizar o pagamento dos funcionários e está sujeita a penalidades, que podem, inclusive, resultar na rescisão do contrato. A Diretoria Regional de Educação (DRE) Butantã não registrou relatos de paralizações de profissionais nesta segunda-feira (24)”, informou o texto.
O Brasil de Fato entrou em contato com o grupo Life Service, mas não obteve retorno. O texto será atualizado se houver uma resposta.
Em 22 de janeiro de 2025, o prefeito Ricardo Nunes agraciou uma lista de personalidades, empresas e instituições com o prêmio Cidade de São Paulo. Entre elas estava a Lume Serviços Gerais. A reportagem do Brasil de Fato também questionou a prefeitura sobre os motivos para conceder a honraria para a empresa, mas não teve resposta.