Fruto da Marcha Mundial das Mulheres, a Horta Comunitária Periferia Feminista do Morro da Cruz foi criada em 2021 em meio à pandemia da covid-19, diante do agravamento da insegurança alimentar. A iniciativa é gerida pelo Coletivo Periferia Feminista, que conta com o apoio de diversas organizações e financiamento coletivo para garantir sua manutenção e expansão.

Além de fornecer legumes, verduras e temperos frescos, a horta é um espaço de acolhimento e segurança para a comunidade local. “Aqui é um espaço seguro para mulheres, crianças e adolescentes. A gente tem muitas crianças que circulam aqui na nossa horta, a gente tem uma ação conjunta também com a Escola Municipal aqui do território”, conta Any Moraes, integrante da Marcha Mundial das Mulheres, do Coletivo Periferia Feminista e gestora da Horta Comunitária do Morro da Cruz.
Na horta, também são realizadas atividades educativas e rodas de conversa, promovendo o debate sobre o cultivo de alimentos saudáveis, cidadania e direitos. “Plantar semente e semear essa soberania alimentar, essa agroecologia, essa autonomia e essa organização do coletivo”, elucida Cintia Barenho, integrante da Marcha Mundial das Mulheres, do Coletivo Periferia Feminista e gestora da Horta Comunitária do Morro da Cruz.
A horta tem por objetivo promover a autonomia das mulheres, fortalecendo laços comunitários e criando oportunidades de atuação conjunta. Muitas moradoras do bairro encontram no cultivo uma forma de empoderamento, ao mesmo tempo em que garantem alimentos frescos para suas famílias.
A moradora do Morro da Cruz e voluntária na horta comunitária Patrícia Melo compartilha sua experiência: “A minha função mesmo é na horta, de plantar, colher, limpar. Nosso chão é aqui, plantar verduras, legumes para manter a cozinha”, conta.
“Aqui nós plantamos tanto para nós, como também para a cozinha, temperos, hortaliças, verduras”, complementa Andrea Trindade, também moradora do Morro da Cruz e voluntária na horta.
O reconhecimento desse trabalho veio em dezembro de 2023, quando a Horta Comunitária Periferia Feminista do Morro da Cruz recebeu o Prêmio Periferia Viva, concedido pelo Ministério das Cidades, por meio da Secretaria Nacional de Periferias. O prêmio destaca a importância da iniciativa na promoção da soberania alimentar e no fortalecimento da comunidade.
Cultivando direitos
Em 2024, diante das enchentes que assolaram o estado do Rio Grande do Sul, a horta comunitária se transformou em uma cozinha solidária para atender as demandas da comunidade. “Nós fizemos a distribuição de cerca de mil ou mais marmitas ao dia para essas famílias”, relata Any.
“Fizemos mais de 1,5 mil marmitas para dar para o povo, da rua, das periferias, para as pessoas que estavam ajudando, com as moradias, as outras pessoas. Começou numa cozinha bem pequenininha, improvisada, que não foi nem inaugurada, agora o projeto vai crescer para ajudar todo o povo que precisa de alimento”, diz Nádia Meirelles, que lidera a cozinha da horta comunitária.
Para além de respostas emergenciais, o projeto visa reforçar a importância da horta como um espaço de luta, promovendo debates sobre o acesso à alimentação, à saúde e à água. Any destaca a insegurança hídrica como uma realidade enfrentada pelos moradores do Morro da Cruz. “Aqui no Morro da Cruz a gente sofre há muitos anos com racionamento de água em dias de calor extremo, com relatos de residências que ficaram mais de 60 dias sem água. Isso também atravessa muito os nossos debates aqui, a mobilização e a nossa organização popular”, conclui.
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