Aos gritos de “recua, fascista, recua” estudantes, professores, servidores técnico-administrativos e parlamentares protestaram, na tarde desta segunda-feira (24), em defesa da Universidade de Brasília (UnB) e contra os ataques recentes organizados por alunos de extrema direita. O ato aconteceu no campus Darcy Ribeiro e foi encerrado com uma marcha pelos corredores do Instituto Central de Ciências (ICC).
“A UnB é, historicamente, um território de resistência. Não vamos aceitar que um grupo minúsculo de pessoas queira de alguma forma manchar esse espaço com seu conservadorismo e sua agenda reacionária. Esse ato foi uma resposta a isso, para mostrar que a UnB não é território fascista e que não vamos aceitar nenhum tipo de anistia para quem é golpista”, explicou o coordenador-geral do Diretório Central dos Estudantes da UnB Honestino Guimarães (DCE-UnB), Maktus Fabiano.
No dia 14 de março, o Centro Acadêmico de Artes Visuais (Cavis) sofreu ataques de estudantes bolsonaristas, no que chamara de “ações de limpeza da UnB”. O caso gerou indignação dos estudantes, professores e administração, o que motivou a manifestação desta segunda (24).
A reitora da UnB, professora Rozana Naves, também participou do ato e afirmou ser importante que a comunidade acadêmica “se unifique contra o extremismo”.
“Essa é uma universidade de resistência. Resistiu ao longo da sua história e nesses 40 anos de redemocratização. Resistiu pelos professores que foram expulsos, resistiu pelos estudantes que foram desaparecidos, resistiu contra os cortes, resistiu contra os avanços indiscriminados de um governo fascista que não protegeu a população contra a pandemia. É muito importante que a gente esteja aqui hoje protegendo a nossa universidade, que é locus de desenvolvimento da ciência e que tem uma missão social importante no desenvolvimento brasileiro”, declarou.

“Essa é a relação da extrema direita desse país com o conhecimento: a tentativa de calar professores e estudantes. Por isso que esse ato é muito fundamental, porque essa semana é uma semana histórica para a vida democrática desse país”, destacou o deputado distrital Gabriel Magno (PT-DF), ao mencionar que Supremo Tribunal Federal (STF) decidirá nesta terça-feira (25) se aceitará a denúncia contra o ex-presidente Jair Bolsonaro por tentativa de golpe de Estado.
Bolsonaro é acusado dos crimes de organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da União, e com considerável prejuízo para a vítima e deterioração de patrimônio tombado, podendo pegar de 20 a 26 anos de cadeia.
Sindicato dos Servidores Técnico-Administrativos da Fundação UnB (Sintfub), que estão em greve desde quinta-feira (20), e a Associação dos Docentes da UnB (ADUnB) também se juntaram aos estudantes no ato antifascista.
“Os três seguimentos organizados realizaram este ato pra dizer que os fascistas não passarão. Que a Universidade de Brasília segue profundamente comprometida com seus valores basilares: democracia, liberdade de cátedra, educação publica de qualidade e compromissada com a produção de pesquisa e conhecimento engajada com o bem-estar da população. Nosso ato foi uma demonstração da força das três categorias da UnB”, afirmou a presidenta da ADUnB Maria Lídia Bueno.
O DCE da UnB é batizado em homenagem ao líder estudantil Honestino Guimarães, morto pela ditadura militar. O legado de resistência de Honestino e de outros estudantes, como Ieda Santos Delgado, foi lembrado durante o ato.
“Somos filhos e fruto da luta que essa universidade conquistou historicamente, derrotando todos os ataques que ela já passou”, afirmou o deputado distrital Max Maciel (Psol-DF). “O que eles querem [a direita] é, na verdade, perpetuar uma universidade que ainda seja para poucos. Uma universidade apenas para a elite. Porque vocês não vão ver essas caras indo para porta de ministério pedir mais recurso e valorização dos nossos professores e técnicos, nem se mobilizando para valorizar os corpos negros e periféricos que ocuparam a universidade e tão pedindo permanência aqui dentro”, avaliou.
Também participaram da mobilização o deputado distrital Fábio Felix (Psol-DF) e o presidente do Partido dos Trabalhadores no Distrito Federal (PT-DF) Jacy Afonso.

Em comunicado, a UnB afirmou que adotou medidas para reforçar a segurança da comunidade acadêmica, incluindo a criação do Comitê de Enfrentamento à Desinformação, regulamentação sobre direitos autorais e de imagem no contexto acadêmico, estudos para a ampliação do sistema de videomonitoramento e notificações à Polícia Federal sobre ameaças veiculadas nas redes sociais.