Funcionários terceirizados que trabalham na limpeza de escolas municipais da região do Butantã, zona oeste de São Paulo (SP), relataram nesta terça-feira (25) ao Brasil de Fato que vêm recebendo o FGTS em atraso. Alguns deles ainda não tiveram a parcela de fevereiro do benefício depositada, de acordo com extratos enviados à reportagem. Os trabalhadores são contratados pela empresa Lume, do Grupo Life Service.
Denúncia publicada no Brasil de Fato nesta segunda-feira (24) mostrou que funcionárias da empresa estão com vale-alimentação e verbas de férias atrasadas. Até a noite desta terça, elas relatam que não haviam recebido os valores devidos.
Trabalhadores da empresa entraram em paralisação na última sexta-feira (21) em pelo menos três escolas. O movimento foi crescendo em adesão e outras unidades escolares ficaram sem o serviço de limpeza nesta terça (25). Funcionários de unidades da zona leste também paralisaram as atividades. De acordo com a União Geral dos Trabalhadores (UGT), as escolas afetadas foram os Centros Unificados de Educação (CEUs) Parque São Carlos, Parque Veredas e Vila Curuçá, além do Centro de Educação infantil (CEI) Jardim Camargo Velho.
Os professores da Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Ibrahim Nobre paralisaram as atividades em solidariedade às funcionárias da limpeza.
Após a denúncia do Brasil de Fato, a vereadora Luana Alves (Psol) protocolou um ofício na Secretaria Municipal de Educação, chefiada por Fernando Padula, solicitando o pagamento imediato dos trabalhadores. “Infelizmente [a situação] não é uma novidade. A gente sabe que há muito tempo as [empresas] terceirizadas deixam de pagar vale-alimentação, vale-transporte, férias”, afirma Alves.
Além disso, a vereadora Silvia Ferraro (Psol), da Bancada Feminista, levou o caso ao Ministério Público do Trabalho. “Todos os meses nós recebemos denúncias de atraso de pagamento por essa empresa. É importante dizer que a Lume foi premiada pelo [prefeito] Ricardo Nunes (MDB) com o prêmio Cidade de São Paulo, ou seja, uma empresa caloteira ganhando um prêmio importante da cidade”, destaca.
“A responsabilidade não é só da empresa, a responsabilidade é da Prefeitura de São Paulo, que faz esses contratos que não garantem a mínima dignidade para as trabalhadoras.”
A reportagem entrou em contato com o grupo Life Service, mas não obteve retorno.
A Prefeitura de São Paulo se limitou a enviar a mesma nota enviada na segunda, e não respondeu se a situação está sendo monitorada, se a empresa foi sancionada ou se os trabalhadores paralisados serão protegidos de demissão.
“Prática racista de exploração”
Ferraro destaca que a maioria dos funcionários da área é composta por mulheres negras. “Quase 100% dos trabalhadores dessas empresas são mulheres. São mulheres periféricas, na grande maioria negras, que recebem um salário mínimo e que muitas vezes têm que trabalhar doentes porque a empresa não aceita atestados”, relata. “Elas estão pagando para trabalhar.”
Luana Alves vai pelo mesmo caminho. “É uma prática brutal, é uma prática de exploração, é uma prática racista ao meu ver, porque grande parte das trabalhadoras são mulheres negras e periféricas”, diz. “Elas pararam de forma muito corajosa. Conseguiram chamar atenção para a luta.”
Integrante da Bancada Feminista, Silvia Ferraro diz ainda que são essas as mulheres responsáveis por funções fundamentais para a sociedade, mas não são recompensadas por isso. “Essas mulheres fazem a economia do cuidado para a sociedade funcionar, tanto nas escolas, quanto nos hospitais e em todas as empresas onde se concentram as tarefas de limpeza, alimentação e do cuidado de modo geral”, afirma.
“A terceirização tem rosto de mulher, tem rosto de mulher periférica, tem rosto de mulher negra. E são essas mulheres que estão sendo humilhadas, porque trabalhar o mês inteiro e não receber salário é uma humilhação imensa.”