O Dia Mundial da Água, celebrado em 22 de março, é um chamado global para refletirmos sobre a urgência da preservação desse recurso essencial à vida.
No Distrito Federal, situado no coração do Cerrado – o berço das águas do Brasil –, essa reflexão se torna ainda mais necessária diante das ameaças que pairam sobre nossas nascentes, rios e aquíferos. A revisão do Plano Diretor de Ordenamento Territorial (PDOT) que acontece esse ano, precisa incorporar a proteção das águas como eixo central, considerando as bacias hidrográficas e respeitando os fluxos naturais da água.
O Cerrado é a savana mais biodiversa do planeta e a grande caixa d’água do Brasil. Aqui nascem as principais bacias hidrográficas que abastecem o Centro-Oeste, o Sudeste e o Nordeste. No entanto, o avanço da especulação imobiliária, a monocultura intensiva e o desmatamento acelerado têm comprometido as áreas de recarga dos aquíferos, reduzindo a capacidade de infiltração da água no solo e colocando em risco a segurança hídrica da região.
A crise climática agrava ainda mais esse cenário. O aumento da temperatura global, as alterações no regime de chuvas e a degradação ambiental intensificam períodos de seca e eventos climáticos extremos. Sem a proteção do Cerrado e de suas áreas de recarga, o abastecimento de água pode se tornar ainda mais instável para a população do DF e do Brasil.
O PDOT e a urgência de proteger as águas
A revisão do Plano Diretor de Ordenamento Territorial (PDOT) do Distrito Federal representa um momento decisivo para a garantia da sustentabilidade hídrica da região. Esse instrumento precisa reconhecer as bacias hidrográficas como referência para o planejamento territorial, assegurando a preservação das nascentes, córregos e rios como sujeitos de direitos.
Temos visto propagandas do Governo do Distrito Federal (GDF) chamando para uma maior participação da população. As peças publicitárias reforçam a ideia de que esse é o momento de garantir espaços para construção de novos bairros, novas oportunidades para o setor produtivo da construção civil. Entretanto, o que é mais importante hoje é ressaltar que o setor produtivo que produz Água, que protege e garante a permeabilização do solo é que deve ser priorizado.
Isso significa que áreas de proteção de mananciais devem ser ampliadas, evitando a impermeabilização do solo e o avanço desordenado da urbanização sobre regiões estratégicas para a recarga dos aquíferos.
É essencial barrar projetos que coloquem em risco os recursos hídricos, priorizando um modelo de ocupação territorial que respeite os limites naturais e garanta água de qualidade para toda a população.
Mobilização e defesa das águas
No DF, diversas organizações e movimentos sociais têm se articulado na defesa das águas, do clima e do meio ambiente. O Fórum de Defesa das Águas, do Clima e do Meio Ambiente do Distrito Federal reúne entidades de diferentes regiões na luta por um território que priorize a proteção dos recursos naturais e o direito à água.
A mobilização popular é fundamental para pressionar o poder público a adotar políticas que garantam um desenvolvimento verdadeiramente sustentável.
O Dia Mundial da Água nos lembra que a crise hídrica não é apenas um problema técnico ou ambiental, mas uma questão política e social. O acesso à água é um direito fundamental e deve ser garantido pelo Estado, com políticas públicas eficazes e participação ativa da sociedade.
Defender o Cerrado, proteger as nascentes e garantir a preservação das áreas de recarga dos aquíferos são desafios urgentes. Se não agirmos agora, as futuras gerações poderão enfrentar um cenário irreversível de escassez. O momento exige compromisso, responsabilidade e, acima de tudo, ação. A água é vida, e sua defesa é uma luta de todos nós.
*Lúcia Mendes é coordenadora do Fórum de Defesa das Águas do Clima e Meio Ambiente do DF.
**Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.