Mais de 70 trabalhadoras ligadas ao Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) ocupam fazenda que pertence à Petrobras no município de São Francisco do Conde, a 60 km de Salvador, na Bahia. A ação, que teve início nesta segunda-feira (24), faz parte da Jornada Nacional de Luta das Mulheres do MPA, e demanda ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) o assentamento das famílias na área e a garantia das condições de produção de alimentos saudáveis para abastecimento popular.
“A concentração de terras no Brasil cresce enquanto a agricultura camponesa é cada vez mais negligenciada. As políticas públicas não chegam às nossas comunidades. Somos nós que resistimos às diversas violências que nos atravessam, que enfrentamos a cerca do latifúndio e a omissão do Estado. Estamos aqui, organizadas, na defesa dos nossos corpos e territórios, ocupando e resistindo contra toda forma de opressão, expropriação e fome. Ocupamos a terra porque acreditamos na vida e no direito de plantar esperança”, salienta Claudia de Jesus, mais conhecida como Claudinha Flor do Sertão, da coordenação do coletivo de gênero do MPA na Bahia.

Segundo o movimento, a ocupação dá passos na luta pela terra e na promoção da soberania alimentar, apontada como caminho para erradicação da fome no país. Para Lindalva Cândida do Santos, camponesa do MPA do município de Jacobina (BA), esse é um momento histórico para as mulheres.
“Estamos aqui acampando desde ontem pra buscar dias melhores pra todo nosso povo. É através da luta, da nossa vontade de trabalhar, de viver melhor no campo que estamos aqui tentando conquistar esse espaço, com essa mulherada aqui trabalhando, buscando dias melhores para si e sua família. Construindo um Brasil novo, uma Bahia melhor, onde a gente sobreviva do nosso alimento saudável, trabalhando e vivendo no campo”, destaca.
Jornada nacional de lutas
Com o lema “Camponesas em luta: em defesa da vida e do alimento saudável”, a Jornada Nacional de Lutas das Mulheres do MPA tem reunido neste mês de março ações de denúncia do capital, do patriarcado, racismo, LGBTfobia e violência contra as mulheres. O movimento também defende um projeto popular pautado na agroecologia e na soberania alimentar para o país.
Na Bahia, marchas, plenárias e rodas de conversa têm marcado a jornada em diversos municípios. Para Cláudia de Jesus, as ações mostram que a organização das mulheres cumpre um papel fundamental para a luta pela terra no estado e em todo o Brasil.
“A luta pela terra e pela soberania alimentar no MPA é fundamental e demarcarmos o protagonismo das mulheres camponesas. Não podemos pensar essa luta sem nós. Estamos aqui afirmando que a terra é vida, é direito, é luta. Quando ocupamos a terra, ocupamos nossos sonhos e nossa história. Queremos viver com dignidade, ter a terra, plantar e colher comida para nós e para nossa gente, já que somos nós, mulheres camponesas, as guardiãs das sementes crioulas e responsáveis pela produção de 70% dos alimentos que chegam à mesa do povo. Somos protagonistas na luta pela terra, pela soberania alimentar e pela vida digna no campo”, finaliza.