Com o objetivo de avaliar os avanços e retrocessos da Declaração e Plataforma de Ação de Pequim (Beijing), especialmente do ponto que trata das mulheres e a mídia, acontece nesta quarta-feira (26) a segunda edição dos Diálogos Amelie. Promovido pelo coletivo Querela Jornalistas Feministas e o Espaço Amelie, o debate terá como tema Mulheres e mídia: empoderamento ou misoginia?. Evento acontece no Espaço Amelie ( Rua Vieira de Castro, 439), a partir das 19h, com entrada franca.
Para abordar o tema, o encontro terá como painelistas a doutora em ciência política, fundadora do Núcleo Indisciplinar de Estudos sobre Mulher e Gênero (Niem/Ufrgs), Jussara Prá, a jornalista, mestra em ciência política, integrante do Levante Feminista contra o Feminicídio, Lesbocídio e Transfeminicídio, Télia Negrão, e a jornalista, mestra em educação, Clarinha Glock.
“O acesso à comunicação é integrante dos direitos humanos das mulheres porque é uma forma tanto de expressar a nossa existência, da nossa cidadania, como de enfrentar e combater os estereótipos e discriminações que nos coloca em segundo plano na sociedade”, afirma Negrão.
De acordo com ela, ao conhecer e dominar as ferramentas, as linguagens e a própria informação, produz um processo de empoderamento que é decisivo para a tomada de decisões nos mais diversos âmbitos. Bem como para disputar o campo simbólico, da cultura, dos saberes e da própria linguagem.

Comunicação é desafio para as mulheres
Após 30 anos da 4ª Conferência Mundial sobre a Mulher realizada na China, em 1995, movimentos em todo o mundo avaliam os avanços da Declaração e Plataforma de Ação de Pequim (Beijing), encontro histórico que reuniu mais de 40 mil mulheres de todo o mundo e estabeleceu diretrizes em 12 áreas.
Para Negrão houve avanços importantes nessas três décadas, como legislações, normativas das políticas públicas, estudos e pesquisas. Contudo, ressalta que “vivemos desafios como reféns das globaltechs, de sistemas estandarizados que nos submetem a um tipo de narrativa que nos remete a retrocessos civilizatórios”. A jornalista representou o Brasil no diálogo online promovido pela Red Internacional de Periodistas con Visión de Género (RIPVG) e a Red de Salud de lasMujeresLatinoamericanas y del Caribe (RSMLAC) no início de março.
Conforme pontua as organizadoras o “Ponto J” da Plataforma se refere às mulheres e comunicação e especialistas apontam um cenário mundial de crescimento do fascismo, fake news, ataque às democracias, às mulheres e aos direitos humanos que precisam ser denunciados e combatidos.
Segundo avaliam, o não emprego de linguagem inclusiva e não sexista, a violência online, a desequilibrada presença de mulheres em espaços midiáticos, a ausência de estudos de gênero nas escolas de jornalismo, na academia, sindicatos, entre outros, são áreas de atuação para evitar maior exclusão por gênero e outras intersecções.
Para as organizadoras do diálogo, a comunicação tem um valor central, como constituinte do campo simbólico no qual se nutre a cultura. Sendo fundamental para promover mudanças comportamentais e culturais que alterem a visão da sociedade sobre as mulheres e das próprias mulheres sobre si mesmas, num processo de empoderamento pessoal e coletivo.
“Se na época da conferência já sabíamos que a informação era algo muito poderoso, não tínhamos ainda a ideia de que a informação seria tão disputada como é agora”, conclui a Negrão.
Sobre o coletivo Querela
O Coletivo foi criado há cinco anos por mulheres jornalistas para abordar a comunicação na perspectiva de gênero e interseccional, as linguagens e narrativas da mídia que envolvem gênero, estudos e perspectivas para combater a violência em todas as suas facetas.
Por meio de projeção de filmes, debate sobre livros, roda de conversa, palestras, atos, ações de imprensa e entrevistas esse grupo de jornalistas gaúchas pontua avanços e desafios da inserção das mulheres nos debates e espaços públicos.
Entre as atividades realizadas estão a projeção e debate do filme Torre das Donzelas, de Susanna Lira, quando foi lançado o coletivo, a divulgação do livro Histórias de morte matada contadas feito morte morrida: a narrativa de feminicídios na imprensa, das jornalistas Niara Oliveira e Vanessa Rodrigues, a palestra Cadê o nome da mãe? O apagamento dos sobrenomes maternos nos registros públicos, com a genealogista Cláudia Antonini, e o debate e divulgação com a jornalista, pesquisadora e escritora Christa Berguer sobre o livro Jurema Finamor – uma jornalista silenciada. Também participaram da mobilização pela cobertura do feminicídio e do júri do assassino da jovem kaingang Daiane Griá Sale, em Redentora, no Norte gaúcho, e ações pelo uso da linguagem inclusiva, entre outras iniciativas.
