A história de Luiz Airton Bastos, a Nega Lu, retorna às livrarias em uma edição especial que marca uma década desde o primeiro lançamento. O livro Nega Lu – Uma dama de barba malfeita, do escritor e jornalista Paulo César Teixeira, com edição da Libretos, resgata a trajetória dessa personagem icônica da cena cultural e boêmia de Porto Alegre. Além do aniversário do livro, a reedição também presta homenagem aos 20 anos da morte de Nega Lu, reconhecida por sua coragem em desafiar convenções sociais e pela presença marcante na vida noturna da cidade.
O pré-lançamento acontece nesta quarta-feira (26), entre 18h30 e 20h30, na Livraria Paralelo 30, com sessão de autógrafos e um bate-papo sobre boemia e identidade de gênero. Já no dia 10 de abril, o lançamento oficial será no Bar do Alexandre, no bairro Menino Deus, a poucos metros da casa onde Nega Lu viveu.

A personagem e seu legado
Nega Lu foi muito mais do que uma figura excêntrica da noite porto-alegrense. Cantora de jazz e blues, solista dos corais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa), bailarina clássica e frequentadora assídua da boemia local, sua presença desafiava os padrões de uma cidade conservadora e uma ditadura militar. Sua história ecoa em debates contemporâneos sobre identidade de gênero e diversidade.

“Nega Lu transformou-se em uma figura popular, a princípio, restrita às fronteiras de um gueto boêmio e cultural, depois expandindo-se cada vez mais para além da redoma da contracultura local”, analisa Teixeira em entrevista ao Brasil de Fato.
Na reedição, a capa ganhou um novo visual com foto colorida e algumas expressões foram atualizadas para refletir uma linguagem mais inclusiva. O livro, vencedor do Prêmio AGES na categoria Não Ficção, reforça a importância de se revisitar trajetórias que desafiaram normas e abriram espaço para conquistas sociais.

“Preto, pobre e puto”
Ao ser questionado sobre a motivação para escrever sobre Nega Lu, Teixeira responde:
“Antes de tudo, porque é uma personagem que rende uma ótima história a ser contada. Ela encarna várias circunstâncias que a tornam representativa dos embates e da complexidade de sua época e das décadas seguintes: negra, homossexual, pobre – como gostava de se definir nos ‘3 Ps’ (preto, pobre e puto). Foi uma pioneira na história de Porto Alegre, além de ser uma figura carismática e popular.”
Quando perguntado sobre como Nega Lu reagiria ao atual momento de retrocessos conservadores, ele pondera:
“É difícil comparar contextos tão distintos. Se antes o conservadorismo estava encastelado nas instituições, hoje também age de fora para dentro. Mas nunca faltou coragem para Nega Lu enfrentar desafios. Acredito que também não faltaria agora.”

Encontros e celebrações
O evento de pré-lançamento contará com uma conversa mediada pelo autor, reunindo mulheres à frente de bares icônicos de Porto Alegre: Cecília Capovilla (Elo Perdido e Columbus), Jane Pillar (Cantante) e Alessandra Mendonça (Venê).
Já no lançamento oficial, em 10 de abril, além da sessão de autógrafos, estão confirmadas as presenças de Aírton Bastos (sobrinho de Nega Lu), Maythê (amiga pessoal), Coié (líder da banda Rabo de Galo, onde Nega Lu era crooner) e Thiago Pirajira (fundador do Bloco da Laje). A noite será embalada pelo som do DJ Kafu, em uma homenagem que promete reviver a energia e a memória de um dos nomes mais irreverentes da história cultural porto-alegrense.

