Por Luciano Mendes
Sábado à noite, meu pai, 94 anos, teve um pequeno piripaque e o levei à UPA Norte, em Betim (MG). Chegamos lá por volta das 22 horas saímos mais ou menos às 1:30 da manhã. Neste curto espaço de tempo, meu pai foi atendido pelo funcionário que fez a ficha, por uma enfermeira que fez a triagem, por duas médicas, por mais duas enfermeiras que o medicaram, mediram a pressão, pelo profissional do raio x e pela pessoa que fez os exames de sangue.
Além disso, recebeu instruções do pessoal da segurança e os medicamentos necessários. Tudo isto, sábado à noite!
O conjunto do corpo de funcionários da UPA foi extremamente atencioso, cuidadoso e o atendimento, apesar de rápido com todas as pessoas, pelo que percebi, foi sempre muito cordial e competente (pelo menos naquilo que pude observar com o meu pai e com algumas outras pessoas).
Mais ou menos uma hora e meia depois de chegarmos à UPA, chegou também um senhor que aparentava ter mais ou menos uns 75 anos. Pelo que pude ouvir – estávamos já na sala de espera aguardando os resultados dos exames -, ele estava numa festa, bebeu um pouco além da conta, caiu, machucou muito uma perna (era visível) e bateu a cabeça. Do momento em que ele entrou até ele entrar para uma sala de atendimento (parece que para pequenas cirurgias), uma enfermeira o acompanhou, assim como continuou acompanhando após este atendimento.
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Impressionou-me positivamente, a amabilidade e delicadeza da jovem enfermeira com aquele senhor para que ele não dormisse. Conversava com ele, perguntava pela festa, pelo que havia acontecido. Em momento algum eu a ouvi fazer alguma reprimenda moral ou algo do tipo ao senhor, e muito menos comentários que colocasse em questão o direito dele de ser atendimento prontamente.
Diante deste quadro, ficava me lembrando das muitas tentativas, nos últimos anos, de esvaziar o SUS, e isto apesar de sua demonstrada importância durante a pandemia. Lembrei que os famigerados ministros da Saúde do Temer e do Bolsonaro foram colocados lá justamente para encaminhar a destruição do Sistema. “É muito caro”, diziam todos.
A avidez de lucro, que subjuga a vida e as condições dignas de vivê-la, é parte constituinte capitalista em que transformar tudo em mercadoria – da saúde aos afetos, da educação às formas do nascer e do morrer – é quase uma ordem imperativa. Daí também a desfaçatez com que os mesmos grupos defendem o “fim dos impostos” e o “fim do Estado”, a não ser em suas facetas repressivas à população e de proteção à propriedade privada.
Felizmente o SUS tem resistido a isto, sobretudo por meio da árdua luta das pessoas que trabalham na saúde pública ou que são em defesa dos direitos.
Mais do que nunca vi o quanto é preciso continuar afirmando que o “SUS é nosso” e lutando para que o sistema de proteção à saúde não seja todo ele totalmente entregue à voracidade da iniciativa privada, como quer, por exemplo, o pessoal que ocupa o desgoverno de Minas Gerais.
Luciano Mendes de Faria Filho é pedagogo, doutor em Educação e professor titular da UFMG. Publicou, dentre outros, “Uma brasiliana para a América Hispânica – a editora Fondo de Cultura Econômica e a intelectualidade brasileira” (Paco Editorial, 2021)
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Este é um artigo de opinião. A visão do autor não necessariamente expressa a linha editorial do jornal