Nesta quarta-feira (26), a partir das 0h, os trabalhadores da Petrobras em Pernambuco e em todo o Brasil cruzam os braços em paralisação das atividades por 24 horas. A “greve de advertência” tem como crítica central a falta de diálogo da gestão da empresa petroleira em relação às negociações, inclusive sobre a diminuição do número de dias em teletrabalho. Haverá mobilização da categoria em frente à Transpetro e à Refinaria Abreu e Lima (Rnest), ambas no complexo industrial e portuário de Suape.
No momento da troca de turno da Rnest, pela manhã, uma mobilização do sindicato em frente à indústria convoca o chamado “corte na rendição”, para que os trabalhadores não entrem. “Não vamos trancar as instalações da empresa. A adesão ao movimento é voluntária, mas afirmamos que o momento que estamos passando é grave e precisa de uma resposta”, avalia Sinésio Pontes, presidente do sindicato da categoria.
As atividades de refino não podem ser completamente paralisadas, então a Rnest precisará de um quantitativo de trabalhadores. “Não queremos que eles segurem os outros trabalhadores, submetendo a uma carga exaustiva. Mas a empresa terá que operar no mínimo e isso podemos dialogar”, avisa o dirigente sindical. Já para os trabalhadores da área administrativa da empresa, a recomendação é não ir ao prédio e sim ficar emo home office, sem usar os computadores nem os telefones.
O gatilho mais recente para o descontentamento dos trabalhadores é a pauta do teletrabalho na companhia. A Federação Única dos Petroleiros (FUP), que representa a categoria nacionalmente, quer regras negociadas coletivamente, mas a Petrobras tem insistido em “termos de adesão individual” que, segundo os sindicatos, enfraquecem a categoria e são desfavoráveis aos trabalhadores. Sinésio, trabalhador da Rnest e presidente do Sindicato dos Petroleiros de Pernambuco e da Paraíba (Sindipetro PE/PB), diz que “a empresa não está querendo negociar, só tratorar os trabalhadores”.
O teletrabalho no âmbito da Petrobras, para os cargos em que isso é possível, funcionou com até três dias semanais de trabalho remoto e dois dias de presencial, um modelo chamado de “híbrido”. Em 2025, a Petrobras está implementando mudanças no modelo híbrido, com três dias no presencial e no máximo dois de home office – o que não passou por negociação coletiva.
Sinésio Pontes classifica a postura da Petrobras como “intransigente”. “A empresa está enviando termos de adesão individuais. E quem não assinar, vai ter que ficar 100% no presencial”, se queixa o dirigente sindical. Ele destaca que a FUP possui uma proposta de regramento para o modelo de teletrabalho desde antes da pandemia. “Temos essa proposta desde 2019, mas a Petrobras nunca quis negociar e continua sem querer. A empresa na verdade quer acabar com o teletrabalho”, alerta ele. Pontes acredita que, se depender da empresa, o acordo de dois dias de home office não perdurará muito tempo.
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O sindicalista lamenta a postura da empresa, hoje liderada pela engenheira Magda Chambriard. “Essa forma de fazer é muito ruim”, critica. “Pais e mães de pessoas com deficiência (PcD) precisam do teletrabalho. E o próprio trabalhador que é PcD, ele não pode pedir para ficar no trabalho remoto quando entra na empresa, só após um período de trabalho presencial”, explica Sinésio, reivindicando condições que permitam melhor qualidade de vida para a categoria.
A alegada falta de diálogo da Petrobras com os sindicatos também se reflete, segundo o dirigente sindical, na questão do plano de cargos e salários da empresa. “Queremos um plano que repare algumas injustiças, ajuste algumas tabelas de cargos. E queremos que os novos trabalhadores que cheguem tenham um horizonte de chegar no topo da carreira”, reivindica Sinésio.
Atualmente há dois grupos de trabalhadores: um vinculado ao plano de cargos pré-2010 e outro com o plano de 2018, implementado durante o governo Temer e sem diálogo com os sindicatos. Os dois grupos sentem que os planos não permitem evolução na carreira. Este é, segundo o sindicato, um dos principais pontos de insatisfação dos trabalhadores da Petrobras hoje.
A alegada intransigência preocupa, visto que 2025 é ano de renovar o acordo coletivo de trabalho (ACT) entre empresa e trabalhadores. “São mais de dois anos sob o governo Lula e a empresa ainda não se mostrou disposta a construir um plano justo e igualitário”, reclama o petroleiro.
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Ao longo do mês de março, o Sindipetro realizou 12 assembleias com os trabalhadores, passando pelas três unidades da Petrobras em Pernambuco: na Rnest, na Transpetro (ambas em Suape) e no escritório da empresa no RioMar Trade Center, no Recife. Em todas as assembleias os trabalhadores deram apoio majoritário à paralisação desta quarta-feira (26). A Petrobras possui cerca de mil funcionários diretos no estado, além de trabalhadores terceirizados.
Efetivo, segurança no trabalho e perdas no PLR
Além do teletrabalho e o plano de cargos e salários, os petroleiros reivindicam a recomposição do efetivo da empresa. “Temos um estudo que mostra uma perda de 40 mil trabalhadores, nacionalmente, entre 2015 e 2024. As nossas unidades apresentam déficit de pessoal”, pontua Sinésio, destacando que a Rnest está passando por uma expansão e precisará de ainda mais trabalhadores. “A empresa diz que vai convocar mil por ano para todo o Brasil, mas nesse ritmo nunca vamos conseguir recompor as perdas”, lamenta, lembrando as “perdas residuais” devido às aposentadorias.
O sindicalista também tem observado um aumento na frequência de acidentes nas instalações da Petrobras. “Foram seis mortes desde o ano passado. Aqui [em Pernambuco] tivemos alguns acidentes, mas graças a Deus ninguém morreu”, diz. “Esses casos são mais frequentes entre os trabalhadores terceirizados, por isso o sindicato cobra que a Petrobras fiscalize e exija das empresas contratadas o cumprimento da lei”, explica Sinésio Pontes.
Na lista de insatisfações da categoria também está o “susto” na chamada redução da remuneração variável, cujo principal item é a participação nos lucros e resultados (PLR). Quando a categoria negociou o piso do PLR, em 2024, “o horizonte da empresa era positivo, mas o resultado do ano foi de um lucro bem menor que o projetado”, pontua o representante dos petroleiros, explicando que o valor repassado aos trabalhadores será quase um terço inferior ao esperado. “Acontece que no repasse para os acionistas eles não mexeram nada”, dispara Sinésio, indignado. “Por que a empresa honra o valor combinado com os acionistas, mas nós temos perda?”, questiona.