Os furtos recorrentes de cabos e fios de energia elétrica e telecomunicações vêm causando transtornos a moradores e comerciantes do 4º Distrito, em Porto Alegre. Entre os prejudicados, está a Terreira da Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz, que teve suas atividades gravemente afetadas.
O grupo têm sofrido com perdas significativas de acervo e equipamentos essenciais para as suas atividades. Além da devastação do espaço físico causada pela enchente de maio de 2024, a criminalidade que se seguiu intensificou ainda mais o problema. Furtos de cabos e equipamentos vitais estão comprometendo o funcionamento do teatro, já fragilizado pelas dificuldades estruturais anteriores.

Em meio a esse cenário, Tânia Farias, atriz e produtora da Terreira, descreve os obstáculos enfrentados. “A Terreira ficava na Rua Santos Dumont, 1186, no bairro São Geraldo. Ficamos mais de três semanas com o espaço completamente embaixo d’água por causa da enchente, com níveis entre um metro e meio e um metro e setenta. Perdemos muitas coisas do acervo, que são essenciais para o nosso trabalho: figurinos, adereços, cenografia, instrumentos.” Apesar de tentarem recuperar o espaço, as dificuldades com o centro cultural continuou com furtos e danos à infraestrutura, como a destruição de câmeras de segurança e a retirada de fios de energia essenciais para o funcionamento do espaço.
“Primeiro, arrombaram a Terreira e levaram computador, televisão, malas com tecidos e maquiagens do espetáculo. Também destruíram a câmera de segurança e danificaram todo o sistema de alarme. Depois disso, roubaram a fiação externa, interrompendo o fornecimento de energia. Em seguida, arrebentaram a cortina de ferro e entraram novamente, levando toda a fiação do teatro, incluindo os cabos que alimentavam os refletores e o espaço cênico”, detalha.
Após a enchente, o grupo se mudou para outra sede na Avenida Pátria, ainda no bairro São Geraldo. No novo endereço, contudo, os problemas persistiram. “A primeira coisa que aconteceu foi o roubo dos cadeados da caixa de luz e de toda a fiação que levava energia para dentro da Terreira. O poste que abastecia o espaço ficava do outro lado da rua e foi arrancado da base. Tivemos que cavar, recuperar os fios, reinstalá-los e deixá-los prontos para conexão, pois a CEEE Equatorial informou que não faria esse serviço”, explica a atriz. O prejuízo com a reposição do material e a mão de obra chegou a quase R$ 2 mil.
Pouco depois, o prédio vizinho foi arrombado e saqueado. “Eles roubaram toda a fiação de forma violenta, perfurando muros, paredes e destruindo portas. A partir desse prédio, tiveram acesso ao telhado do nosso espaço e comprometeram o fornecimento de energia no mezanino, onde ficam as salas de aula. Detonaram também parte do telhado. Depois disso, ainda roubaram novamente os cadeados da caixa de luz”, denuncia.
Para a artista, os furtos estão diretamente ligados à crise social agravada pela enchente. “O 4º Distrito está sem segurança. Quem trabalha aqui se sente vulnerável. A enchente levou muitas pessoas à miséria e à falta de perspectiva. É preciso uma política pública que garanta condições dignas de vida. Quando isso não acontece, a violência acaba sendo a resposta”, afirma.
No final do ano passado, o Prêmio Shell escolheu a Tribo de Atuadores Ói Nóis Aqui Traveiz como destaque de 2024. A homenagem ocorreu na semana passada, no Rio de Janeiro. Apesar do reconhecimento, o grupo ainda enfrenta dificuldades em ter sua sede própria.
Criminalidade crescente
Os furtos de cabos de energia têm causado sérios transtornos em diversos bairros de Porto Alegre, afetando o fornecimento de eletricidade e interrompendo o cotidiano da população. Além do 4º distrito, os bairros Floresta, Medianeira, Humaitá, Jardim Itu-Sabará e Sarandi também estão entre os impactados pelo crime.
Entre janeiro e novembro de 2024, a Guarda Municipal atendeu 51 ocorrências relacionadas à queima e furto de fios da rede elétrica e de telefonia. Essas ações resultaram em sete prisões. A CEEE Equatorial registrou 3.197 ocorrências de furtos de cabos da rede elétrica no ano passado, uma média de aproximadamente nove casos por dia. A maior parte dos incidentes ocorreu na capital gaúcha, com 1.240 casos.
Ao Brasil de Fato RS, a Secretaria da Segurança Pública do Rio Grande do Sul (SSP-RS) informou que está “atenta aos fatos e já tem operações previstas para coibir os crimes”. Enquanto aguardam providências, moradores seguem lidando com os impactos da insegurança.
