As unidades de transporte e de refino de petróleo da Petrobras em Pernambuco – respectivamente a Transpetro e a Refinaria Abreu e Lima (Rnest) – funcionaram com um contingente mínimo de trabalhadores nesta quarta-feira (26), impactando sua atividade produtiva. Os operários cruzaram os braços em adesão à paralisação nacional de 24 horas organizada pela categoria.
Os petroleiros protestam contra a gestão de Magda Chambriard à frente da Petrobras e reclamam da falta de diálogo entre a cúpula da empresa e as entidades representativas da categoria.
Era pouco mais de 5 horas da manhã quando os primeiros dirigentes do Sindicato dos Trabalhadores da Indústria do Petróleo e Gás de Pernambuco e Paraíba (Sindipetro PE/PB) chegaram às portas das duas unidades da Petrobras em Pernambuco, no complexo industrial e portuário de Suape, no Cabo de Santo Agostinho. “Essa gestão se nega a dialogar com os trabalhadores sobre pautas que dizem respeito aos trabalhadores. Queremos dar um basta nisso”, disse Sinésio Pontes, presidente do sindicato.
Em discurso na frente da refinaria, Pontes bradou que “as práticas adotadas pela Petrobras no governo Bolsonaro continuam agora sob o governo Lula”. “Magda [Chambriard], respeite os trabalhadores”, pediu, em referência à indicada ao cargo pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
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A paralisação, apelidada por eles de “greve de advertência”, foi aprovada em todas as 12 assembleias de base realizadas pelo sindicato nas três unidades da empresa em Pernambuco – além das duas citadas, o escritório onde funciona parte do pessoal administrativo da Petrobras, no bairro do Pina, Recife. “As assembleias tiveram 98% de aprovação deste dia de greve. A categoria atendeu ao chamado e vimos o resultado hoje, com os ônibus vazios”, avaliou o trabalhador petroleiro Rogério Almeida.
Os mais de 10 ônibus que chegaram à refinaria nesta manhã tinham em média cinco trabalhadores cada veículo. Aqueles que foram em veículos pessoais foram abordados na porta da empresa e receberam um panfleto apresentando a pauta de reivindicações do sindicato. A ausência não justificada resulta em desconto na folha de um valor referente ao dia.
Mesmo entre os trabalhadores que chegaram de ônibus à Rnest, cerca de um quinto optou por não entrar nas instalações da indústria, preferindo se somar à paralisação na calçada, onde uma tenda com café da manhã os aguardava. A comida foi preparada e servida por militantes do Movimento Sem Terra (MST). No cardápio, macaxeira com galinha guisada, banana, bolo, pão com queijo e mortadela, café e suco de caju.


A mobilização no início da manhã fortaleceu o “corte de rendição”, que é a troca de turno entre os trabalhadores da indústria. Aqueles que entraram para trabalhar às 19h da terça-feira (25) e seriam liberados às 7h desta quarta-feira (26) não tinham substitutos disponíveis e precisaram fazer horas extras, que têm um limite, forçando a gestão da empresa a negociar com o sindicato a substituição do contingente.
A Rnest funciona 24 horas por dia, sete dias por semana. Os dirigentes do Sindipetro seguiram na porta da Rnest até as 19h para mais um “corte de rendição”.
Pautas
A pauta de reivindicações da categoria traz outros tópicos além da falta de diálogo por parte da Petrobras. A necessidade de contratações e a segurança no trabalho estão entre elas. “Tem faltado efetivo para a empresa e aconteceram acidentes fatais recentes. A empresa precisa sentar com os sindicatos para resolvermos isso”, reivindica Diego Liberalino, trabalhador da Transpetro e diretor da Federação Única dos Petroleiros (FUP) e do Sindipetro.
Leonam da Silva falou do repasse referente à participação nos lucros e resultados (PLR). “Precisamos ficar com uma parte do que produzimos. Não pode tudo ir para os acionistas privados”, reclamou. O percentual acordado entre sindicatos e Petrobras, em 2024, previa um lucro que passou longe de ser alcançado. Os resultados da empresa foram 70% abaixo do esperado e o PLR sofreu um corte considerável. Já os dividendos pagos pela empresa aos acionistas foram mantidos nos valores prometidos.
Cristiane Martins, que é dirigente sindical da categoria em São Paulo, reforçou as críticas à postura da empresa quanto ao trabalho remoto. “Muitas mulheres precisam cuidar de filhos e parentes em casa. O teletrabalho permite fazer isso com menos desgaste. Nós precisamos de qualidade de vida e saúde para trabalharmos motivadas e sermos mais produtivas”, avaliou ela em conversa com o Brasil de Fato Pernambuco.
Paolo Valterson chamou atenção para a relação das empresas terceirizadas contratadas pela Petrobras com seus trabalhadores. “A empresa está querendo descontar o transporte para eles virem trabalhar”, denunciou. O trabalhador também citou que estão cobrando valores elevados para garantir plano de saúde aos dependentes dos terceirizados. “Estão cobrando R$280 por dependente. Nem petroleiro paga esse valor”, criticou.
O dirigente sindical Rogério Almeida fez um apelo aos deputados federais e senadores que representam Pernambuco em Brasília (DF). “Conversem e levem essa insatisfação ao presidente Lula”. “Esperamos ser escutados – ou partiremos para uma greve mais duradoura”, ameaçou. O deputado estadual João Paulo (PT), ex-prefeito do Recife, foi ao ato e discursou sobre a importância da Petrobras, da luta sindical e da unidade da classe trabalhadora.