Um ato na tarde desta quinta-feira (27) reuniu manifestantes na praça em frente à sede do Destacamento de Operações de Informação-Centro de Operações de Defesa Interna (Doi-Codi) na Tijuca, zona norte do Rio de Janeiro. Flores e homenagens foram depositadas ao redor do busto em memória do ex-deputado federal morto pelo regime militar Rubens Paiva.
Além da memória pelas vidas silenciadas naquele quartel, dentre as quais a do engenheiro Rubens Paiva, o ato também pediu a condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no dia seguinte da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que tornou réu o ex-capitão e mais sete por tentativa de golpe de Estado.
Ao Brasil de Fato, a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB) afirmou que o momento é histórico. “Um ato como esse é muito mais simbólico que qualquer outro ato que a gente possa ter vivido. É a primeira vez que o Estado brasileiro dá uma resposta a uma tentativa do golpe do Estado. É muito simbólico, histórico e, principalmente, perto do busto de alguém que foi preso político e assassinado”, disse.
Para a vereadora Maíra do MST (PT), os movimentos sociais e a militância cumprem papel fundamental em defesa da democracia. “Na semana que nós colocamos o Bolsonaro no banco dos réus, a militância que foi torturada, presa e também assassinada pela ditadura militar está aqui hoje reafirmando o seu lado em defesa da democracia. O antigo Doi-Codi ocupa um lugar de memória na cidade do Rio de Janeiro, e os movimentos sociais, a militância política dos movimentos aqui na cidade tem lado, e esse lado é o da democracia, da verdade, da justiça e também da memória”, afirmou à reportagem.
O presidente do Sindicato dos Engenheiros no Estado do Rio de Janeiro (Senge-RJ), Olímpio Alves dos Santos, reafirmou que para manter a democracia, a memória é fundamental. “Nós temos esse problema de perdermos a memória do que é o nosso país. Nós tivemos há poucos meses dançando à beira do precipício. Esses que de novo queriam tomar o poder estavam pensando em criar um campo de concentração. Nós temos que estar organizados e mobilizados para evitar que isso ocorra novamente. Como disse a ministra Carmem Lúcia, a ditadura mata, mata a democracia, mata a liberdade, mata pessoas também”, pontuou.
Organizado pelo Senge-RJ e pela Federação Interestadual de Sindicatos de Engenheiros (Fisenge) para marcar os 10 anos da inauguração do busto de Rubens Paiva, o ato foi articulado em parceria com diversos movimentos sociais populares, organizações de direitos humanos, sindicatos e parlamentares, como os mandatos das deputadas Marina do MST (PT), Jandira Feghali (PCdoB), Dani Balbi (PCdoB), Verônica Lima (PT), Zeidan (PT) e do deputado Reimont (PT), e da vereadora Maíra do MST (PT).
Durante o ato, a psicóloga e filha de Rubens Paiva, Vera Paiva, recebeu uma homenagem da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj) por iniciativa dos mandatos do PCdoB, PT e Psol.
Presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), o jornalista Otávio Costa afirmou que relembrar a parte amarga da história vai impedir que venha a se repetir no futuro. E defendeu que a unidade militar, palco de mortes e torturas, seja encerrada. “Manter um quartel desse, onde mais de 40 brasileiros e brasileiras morreram barbaramente torturados como se nada tivesse acontecido, é um crime, é um deboche, é uma vergonha”, ressaltou.
Também presente no ato, o deputado federal Tarcísio Motta (Psol) ressaltou que a disputa da memória tem relação direta com as lutas do presente. “Disputar sobre qual é o sentido do passado é muito importante. Mas é claro que na semana em que Bolsonaro começa a ser julgado, em que o processo é admitido pela STF, por atentados contra a democracia, em que generais vão sentar no banco dos réus pela primeira vez, lembrar da ditadura militar que eles, os golpistas de ontem, de hoje, sempre elogiaram, é fundamental. Portanto, é também contribuir para a disputa política do presente.”
Por fim, o deputado federal Reimont (PT) lembrou que estar reunido diante do quartel onde Rubens Paiva foi torturado e morto é uma maneira simbólica de dizer que há muitas pessoas juntas nessa luta. “É uma luta permanente, uma luta longa, mas uma luta muito possível. E é muito bom saber que o movimento social, que as pessoas que amam a democracia, não abrem mão de fazer essa luta. Por isso estamos aqui junto”, finaliza.