O 13º Fórum Internacional de Meio Ambiente (3º Fima), promovido pela Associação Rio-grandense de Imprensa (ARI), em Porto Alegre, na quarta (26) e quinta-feira (27), encerrou com a divulgação de uma carta em defesa do Bioma Pampa. Foram dois dias de debates entre pesquisadores, técnicos, ONGs, empresários, políticos, jornalistas e moradores da região, que trouxeram diferentes versões sobre como realizar a preservação.
Para a ARI, algumas conclusões ficaram evidententes. Entre elas, a urgência de políticas públicas efetivas e ações ambientalmente sustentáveis que conciliem atividades econômicas com a produção de alimentos no bioma. Além disso, a necessidade da criação de um fórum permanente de defesa e apoio ao campo, para preservar o seu modo de vida, os usos e costumes.
No painel de abertura, quarta-feira (26) dois pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), professores Jefferson Cardia Simões e Francisco Eliseu Aquino, que estiveram na base Comandante Ferraz, de pesquisa cientifica na Antártida, afirmaram ser necessária a criação de uma governança de resiliência na região, sob pena dela ser totalmente inviabilizada nas próximas décadas. Segundo eles, se isso não for feito, com os fenômenos do aquecimento global em crescimento acelerado, o bioma está fadado à destruição total em poucas décadas.

A questão ambiental
Antes do segundo painel do dia, que tratou sobre o “Panorama para a regularização ambiental no Pampa para os próximos anos”, houve palestra de Guilherme Collares, pró-reitor de Pesquisa, Extensão e Inovação do Centro Universitário da Região da Campanha (Urcamp) / Fundação Átila Taborda. Ele falou sobre a atuação da URCAMP em prol do Pampa.
No segundo painel do dia, o tema debatido foi “O potencial da pecuária no Pampa: preservação e recuperação ambiental, geração de renda e produção de alimentos”. O professor da Ufrgs, Valério Pillar, membro da Rede Campos Sulinos, falou sobre “Bioma Pampa: origens e ameaças à sua biodiversidade”. Depois, foi a vez da médica veterinária do Instituto do Bem-Estar (Ibem), Ângela Escosteguy, deixar o público muito atento ao falar sobre “A importância da Pecuária no Pampa”. Fechando o segundo painel, Miguel Guedes, engenheiro Agrônomo e representante da Fazenda São Miguel, de Mostardas, analisou o tema “Pecuária Regenerativa no Pampa: sistema intensivo a pasto com melhoramento do campo nativo”.
Pecuária familiar
Na manhã do segundo dia, o professor da Universidade Federal de Santa Maria (Ufsm) Adriano Severo Figueiró falou sobre os “Projetos de (Des)Envolvimento para o Pampa Brasileiro: Ameaças e Resistências”. Por sua vez, Marcos Borba, chefe de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Sul – Bagé, discorreu sobre a “Agroecologia, Redes e Território: a pecuária familiar e a conservação do Pampa”. A mesa de palestrantes teve a mediação da bióloga Luiza Chomenko.
O painel teve ainda a participação das irmãs Marcia e Vera Colares. Marcia é coordenadora da União Pela Preservação do Rio Camaquã (UPP Camaquã) tratou do tema “Histórico da luta contra a mineração e panorama das ações na área ambiental no território”. Já Vera, que é a presidente da Associação para Grandeza e União de Palmas (Agrupa), explanou sobre a “Pecuária familiar para preservação do Pampa”.
Filme ‘Os Sobreviventes do Pampa’
Houve ainda a participação especial do cineasta Rogério Atama Rodrigues, da Atama Filmes, diretor do documentário Sobreviventes do Pampa. Ele falou sobre o filme, que estreou na semana passada em salas de cinema do estado.
A partir de 35 depoimentos, o documentário aborda a destruição silenciosa do bioma Pampa e suas consequências na vida das comunidades da região. Entre os depoentes, estão fazendeiros, artistas, agricultores, moradores de assentamentos e quilombolas, que contribuem com análises históricas, sociais e culturais sobre a importância de preservação da região.
Representantes Uruguaios e Argentinos
Na tarde de quinta-feira (27), a exposição ficou a cargo dos jornalistas Gustavo Veiga, argentino, e o uruguaio Victor Bacchetta. Eles debateram o tema “O Pampa nos meios de comunicação”. Ainda Sérgio Roberto Pereira da Silva, do grupo de Pesquisa em Jornalismo Ambiental da Ufrgs/CNPq, falou sobre “Os apontamentos sobre a cobertura midiática acerca do Bioma Pampa”. Por sua vez, Gustavo Veiga, do periódico Página 12, de Buenos Aires, esclareceu para a audiência como é feita “A cobertura ambiental na imprensa argentina”.
Vizinho de Veiga no Rio da Prata, o uruguaio Victor L. Bacchetta, do jornal digital El Zumbido, de Montevidéu, expôs sobre o “Extrativismo no Pampa e os meios de comunicação”. E para fechar o painel, foi a vez do empresário e editor do jornal Folha do Sul, de Bagé (RS), Nilson Correa. O jornalista falou de como está a situação ambiental na região do extremo sul do estado – Bagé é conhecida como “Rainha da Fronteira” e fica próxima à fronteira com o Uruguai.
Novas culturas para o Pampa
O painel de encerramento debateu o “Potencial Turístico e Comercial do Pampa”. A procuradora de Justiça do Ministério Público do RS (MPRS) Ana Maria Moreira Marchesan falou sobre o “Patrimônio Cultural no Pampa”, enquanto que Patricia de Freitas Ferreira, integrante do Comitê Gestor do Geoparque de Caçapava do Sul, destacou em sua apresentação o “Geoparque Caçapava: conhecer para valorizar e cuidar”.
“Vinícola Guatambu: valorizando o Bioma Pampa por meio do Vinho, do Turismo e da Sustentabilidade” foi o assunto mostrado ao público por Gabriela Hermann Potter, produtora rural e empresária. E Renato Fernandes, presidente do Ibraoliva (Instituto Brasileiro de Olivicultura) destacou “O futuro da olivicultura no Brasil”.
Ao final do fórum, foi divulgada pelos dirigentes da ARI a Carta do 13º Fima: Em defesa do Bioma Pampa. Veja a íntegra:
Carta do 13º FIMA: Em defesa do Bioma Pampa
Ameaçado pela supressão da vegetação nativa, monoculturas, pelo uso de agrotóxicos e pela mudança climática, o Bioma Pampa precisa cada vez mais de defensores, de atenção e de visibilidade. Por isso a Associação Riograndense de Imprensa — ARI, no ano em que completa 90 anos e em cumprimento à sua vocação de promover debates democráticos e humanitários de interesse da sociedade gaúcha e brasileira, escolheu o Bioma Pampa como tema central do seu 13º Fórum Internacional do Meio Ambiente, realizado nesta semana no auditório do Memorial da Assembleia Legislativa do Estado, no Centro da Capital.
Durante dois dias, pesquisadores, técnicos, ONGs, empresários, políticos, jornalistas, representantes de instituições públicas e interessados debateram alternativas para salvar, proteger e conservar o espaço geográfico e a riqueza biológica do único Bioma que no Brasil está apenas no território gaúcho, estendendo-se pelo Uruguai e a Argentina.
Nos dois dias de debates, os palestrantes reafirmaram a urgência de políticas públicas efetivas e ações ambientalmente sustentáveis que conciliem atividades econômicas com a produção de alimentos no Bioma.
Considerando a importância econômica e cultural do Bioma para o Estado, assim como sua essencialidade para o equilíbrio ambiental, a Associação Riograndense de Imprensa apela às autoridades federais, estaduais e dos municípios, as comunidades, todos geograficamente envolvidos, para que sigam as orientações dos pesquisadores e ambientalistas sem inviabilizar atividades essenciais para o bem estar dos povos da região.
Como escreveu o poeta Jayme Caetano Braun – o Pampa é uma bandeira da identidade continental: “Pampa – matambre esverdeado/ dos costilhares da prata/ que se agranda e se dilata/ de horizontes estanqueados, / couro recém pelechado/ que tem pátria nas raízes/ aos teus bárbaros matizes, / os tauras e campeadores/ misturam sangue as cores/ pra desenhar três países/”.
Defendemos que o Poder Público, em todas as esferas, trabalhe proativamente para manter a integridade do Bioma Pampa, promova a pecuária extensiva, preferencialmente orgânica, ouvindo a sociedade civil, que é partícipe essencial para qualquer transformação social que promova o bem-estar coletivo em bases ecológicas e, por isto, permanentes.
A ARI propõe ainda a criação de um Fórum permanente de defesa e apoio ao campo, para preservar o modo de vida, os usos e costumes. Uma grande construção para o Pampa ser percebido corretamente pela sociedade civil, sendo um modo de defesa coletiva e cobrança de política públicas para o Bioma.
Pensem todos e ajam para salvar o Pampa.
Associação Riograndense de Imprensa
Março de 2025
