O curta-metragem Cordão de Prata, produzido pelo coletivo audiovisual Por Que Não? Filmes, da Baixada Fluminense, foi premiado no Festival Internacional de Miranchurito, na Colômbia, na última semana. Na trama, Jairo Souza interpreta o espírito de um ex-escravizado que retorna para um acerto de contas com um capitão do mato moderno, vivido por Luciano Braga.
A produção, em parceria com a Vaca Voadora Produções Artísticas, foi ambientada na histórica região de Iguaçu Velho, nas proximidades da Fazenda São Bernardino e do Cemitério dos Escravizados, em Nova Iguaçu.
O enredo prende o espectador ao misturar terror com elementos da mitologia afro-brasileira e ameríndia para abordar as marcas da violência histórica contra a população negra. A vingança sobrenatural do escravizado contra o algoz se desenrola em uma intensa sequência de perseguições e confrontos espirituais.
Ao Brasil de Fato, o diretor Getúlio Ribeiro afirmou que um grande desafio foi garantir tratamento respeitoso às entidades retratadas no filme. “Essencial ter esse cuidado para que a história fosse contada com a devida responsabilidade”, pontua.
Ribeiro, que também assina o roteiro, contou que se inspirou em casos marcantes da Baixada Fluminense para construir a narrativa de ficção. “Muitos relatos que são tensos, por exemplo, a chacina de Nova Iguaçu, tudo isso foi referência para a escrita do filme. Passa por um período escravocrata, grupos de extermínio que eram conhecidos como heróis nos bairros. Há a redenção do ex-escravizado no decorrer do filme”, continua Ribeiro
Outro ponto foi superar obstáculos para a concretizar a produção do filme na Baixada. Desde a primeira escrita do roteiro, se passaram 10 anos. “Se tornou um filme que fala tanto do passado quanto de um presente coronelista, com a questão da Baixada ter esse sistema até hoje. Um filme de gênero é difícil de ser realizado na Baixada. Acabou se tornando um filme de terror de ficção”, finaliza.
Fundado em 2009, o coletivo Por Que Não? Filmes propõe novas representações na tela ao explorar vivências dos moradores da Baixada Fluminense. O grupo é formado ex-alunos da Escola Livre de Cinema de Nova Iguaçu e acumula prêmios. No mais recente, Cordão de Prata venceu na categoria melhor filme internacional no Festival de Miranchurito, na Colômbia.
Em 15 anos, as produções do coletivo incluem filmes, videoclipes e uma minissérie experimental. As obras já foram exibidas em prestigiados festivais nacionais, como Mostra de Tiradentes e Festival do Rio, e também internacionalmente na Bulgária, Espanha, Estados Unidos, Holanda, Itália, México e Suécia.