Israel bombardeou a capital do Líbano, Beirute, pela primeira vez desde que um cessar-fogo foi acordado em novembro para encerrar a guerra Israel-Hezbollah, criando caos enquanto os moradores corriam para sair de suas casas. O bombardeio desta sexta-feira (28) atingiu os subúrbios ao sul da cidade, reduto do Hezbollah, em resposta aos disparos de foguetes em seu território.
O ataque ocorreu em um bairro densamente povoado que abriga várias escolas, informou a agência de notícias oficial libanesa NNA.
“Os moradores do bairro de Hadath” devem evacuar a área ao redor das “instalações do Hezbollah”, anunciou antes do ataque na rede social X o porta-voz do Exército israelense Avichay Adraee, indicando um prédio em vermelho no mapa.
Israel reagiu ao lançamento não reivindicado de dois “projéteis”, um deles foi interceptado e o outro atingiu o solo libanês. O primeiro-ministro libanês, Nawaf Salam, pediu ao exército que identifique e prenda rapidamente aqueles que lançaram foguetes contra Israel. Além do bombardeio em Beirute, o Exército disparou contra alvos do Hezbollah no sul do Líbano, que faz fronteira com Israel.
Imagens da AFP mostraram fumaça sobre a cidade libanesa de Khiam, perto da fronteira, nesta sexta-feira. Na cidade costeira de Tiro, que já havia sido bombardeada em 22 de março, famílias aterrorizadas levaram seus filhos para casa.
“Decidi levar meus filhos à escola apesar da situação, mas a direção me disse que havia fechado após ameaças israelenses e que eu tinha que levá-los para casa”, disse Ali Qasem, pai de quatro filhos. A agência de notícias NNA relatou bombardeios no sul e uma operação militar perto da fronteira, onde disparos foram ouvidos.
Também reportou bombardeios de artilharia perto de localidades fronteiriças, além de ataques aéreos na região montanhosa de Jezzin, ao norte do rio Litani, para onde acreditava-se que o Hezbollah recuaria.
Contexto
Após o lançamento de foguetes em 22 de março, o Exército israelense respondeu com bombardeios contra alvos do Hezbollah no sul do Líbano, deixando oito mortos, segundo autoridades libanesas.
As hostilidades no Líbano começaram quando o Hezbollah abriu uma nova frente contra Israel em solidariedade ao Hamas no início do massacre palestino na Faixa de Gaza em 2023. Quase um ano depois, em setembro de 2024, o conflito se transformou em uma guerra aberta, deixando mais de 4 mil mortos no Líbano e forçou mais de um milhão de pessoas a fugir.
Do lado israelense, o número de mortos subiu para 78, incluindo 48 soldados somados aos 56 mortos em uma ofensiva terrestre no Líbano em setembro, segundo dados oficiais. Cerca de 60 mil moradores do norte de Israel foram deslocados, e metade ainda não retornou para suas casas, segundo as autoridades. Apesar do cessar-fogo de novembro e da retirada incompleta dos soldados israelenses do sul do Líbano em 15 de fevereiro, Israel continua atacando o território libanês, e ambos os lados acusam-se regularmente de violar a trégua.
O jornalista baseado em Beirute Ali Rizk disse à rede Al Jazeera que, embora o presidente francês Emmanuel Macron tenha criticado os ataques israelenses em Beirute, será interessante ver como os Estados Unidos responderão.
“Eles vão dizer que Israel tem o direito de se defender, como estamos acostumados, ou haverá uma reação diferente, dado que este [ataque] enfraquece os aliados de Washington?”, perguntou. O governo Trump havia garantido anteriormente ao Líbano que a capital não seria atingida novamente após o cessar-fogo acordado entre Israel e o Hezbollah no final de novembro.
Nova trégua em Gaza?
Fontes palestinas próximas ao Hamas informaram que, nesta quinta-feira (27), está sendo realizada em Doha uma nova rodada de negociações entre o movimento islamista palestino e mediadores egípcios e catarianos, a fim de retomar o cessar-fogo na Faixa de Gaza. Uma delegação egípcia chegou à cidade para o diálogo focado em buscar uma retomada da trégua, a troca de reféns israelenses por prisioneiros palestinos, assim como a volta da entrada de ajuda humanitária a Gaza, informou anteriormente um meio de comunicação egípcio.
Considera-se estabelecer uma trégua durante o Aid al Fitr, a festividade muçulmana que marca o final do Ramadã, que provavelmente começará no domingo, e a Páscoa judaica (de 12 a 19 de abril), disse a fonte. As negociações indiretas entre Hamas e Israel, lideradas por Egito, Catar e Estados Unidos, estão estagnadas desde que a primeira fase da trégua, que entrou em vigor em 19 de janeiro e expirou em 1º de março.
Na quarta-feira, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, ameaçou tomar novos setores de Gaza se o Hamas não libertasse os últimos reféns que mantinha em seu poder. O movimento advertiu que os reféns retornariam “em caixões” se Israel não deixasse de bombardear Gaza. Desde a retomada do genocídio israelenses em 18 de março, pelo menos 855 palestinos morreram no território sitiado, segundo o Ministério da Saúde do Hamas.
Dos 251 prisioneiros israelenses feitos pelo Hamas em 7 de outubro de 2023, 58 continuam retidos em Gaza, 34 dos quais morreram, segundo o exército israelense. A ofensiva de represália de Israel deixou pelo menos 50.183 mortos em Gaza, a maioria mulheres e crianças, de acordo com o Ministério da Saúde do Hamas.
*Com AFP e Al Jazeera