O dia 31 de março marca o golpe militar de 1964, que instaurou uma ditadura que durou 21 anos no país, resultando em censura, perseguição política, torturas e mortes. Para que a memória dessa ruptura democrática permaneça viva, movimentos sociais, familiares de vítimas e instituições promovem atos públicos no Rio Grande do Sul.
Segundo os organizadores, a história do Brasil tem marcas que não podem ser apagadas. “A memória dos que tombaram na luta contra a ditadura segue viva, e os atos realizados reafirmam que o Brasil não pode esquecer os horrores desse período. Através de filmes, livros e outras atividades essas histórias devem ser relembradas.”

Doutor Araguaia: um documentário sobre resistência e memória
O documentário Doutor Araguaia tem percorrido diversas cidades levando a história de João Carlos Haas Sobrinho, médico e militante político nascido em São Leopoldo (RS). E agora será exibido na Sala Redenção, cinema do campus central da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs), em Porto Alegre, nos dias 31 de março, às 19h, e 1º de abril, às 16h. João Carlos foi um dos combatentes da Guerrilha do Araguaia, movimento de resistência contra a ditadura militar, e foi assassinado pelo regime em 1972. Seu corpo nunca foi encontrado, como o de tantos outros desaparecidos políticos.
A irmã de João Carlos, Sônia Haas, enfatiza a importância do filme e conta que o impacto tem sido muito positivo, pelo interesse das pessoas e pela emoção que proporciona. “Eu coloquei todo o meu esforço na realização desse tributo ao meu irmão, porque ele merece, meus pais merecem e os brasileiros querem saber mais sobre este duro período da história do Brasil. Nossa expectativa é que o Doutor Araguaia circule cada vez mais pelo país inteiro, especialmente entre os jovens.”
O documentário resgata não apenas a trajetória pessoal de João Carlos, mas também a repressão brutal que se abateu sobre militantes no Rio Grande do Sul e em todo o Brasil. O estado, historicamente engajado em lutas políticas e berço de importantes movimentos sociais, teve inúmeros perseguidos pelo regime militar. A ditadura deixou marcas profundas na sociedade gaúcha, com prisões arbitrárias, torturas e assassinatos de militantes que lutavam pela democracia.
Atos e eventos para marcar os 61 anos do golpe
31 de março
Às 12h, será realizada uma visita ao Monumento aos Mortos e Desaparecidos pela Ditadura Militar no RS, localizado na Avenida Edivaldo Pereira Filho, em Porto Alegre. A atividade, organizada pela deputada federal Maria do Rosário (PT-RS), visa reforçar a importância da preservação desse espaço de memória e resistência.

Às 17h, ocorrerá o Ato Sem Anistia, Golpistas na Prisão, na Esquina Democrática, também na capital gaúcha, reunindo movimentos sindicais, sociais e políticos contra a tentativa de golpe do 8 de janeiro e em defesa da democracia. A mobilização está sendo organizada pelas centrais sindicais e as Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo.

Na abertura do ato, o grupo Ói Nois Aqui Traveiz apresentará a performance Onde? Ação número 2 em memória das vítimas da ditadura, às 17h, na Esquina Democrática, reforçando a importância da arte como resistência e denúncia dos crimes do regime militar e celebrando os 47 anos do grupo completados em março.

A revista Teoria e Debate, da Fundação Perseu Abramo, promove na segunda-feira (31), o lançamento de uma edição especial dedicada aos 60 anos da ditadura civil-militar no Brasil. O evento é aberto ao público e acontece no Plenarinho da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre, às 19h.
Com mais de 140 páginas, a edição impressa traz relatos e análises sobre o período, abordando impactos históricos e políticos da ditadura no país. O lançamento contará com a participação de importantes nomes do cenário político e acadêmico, como Raul Pont, Céli Pinto, Tarso Genro, Juçara Dutra e Carlos Henrique Árabe, que comentarão o conteúdo da publicação.
1º de abril
O sarau Poesia contra todas as ditaduras será realizado às 19h no Macunaíma, localizado na Rua da República, 153, em Porto Alegre. O evento, organizado por mariam pessah (Sarau das Minas), contará com a participação do Sarau da Invencionática, Sopapo Poético, Encontros Bom Fim, Voz Base, Gente de Palavra e Pororoka – Grupo de Leitura. O sarau é uma forma de resistência cultural e política, promovendo a arte como instrumento de luta.
Às 11h30, acontecerá o Ato unitário “Rubens Paiva Vive na Luta por Memória e Justiça”, no Monumento aos Mortos e Desaparecidos do RS, localizado na esquina das avenidas Ipiranga e Edvaldo Pereira Paiva, na capital gaúcha. A atividade busca denunciar os crimes da ditadura e reafirmar a importância da luta por verdade e justiça. A organização é da Associação de Ex-Presos e Perseguidos Políticos, do Movimento de Justiça e Direitos Humanos, do Conselho Estadual dos Direitos Humanos e da Comissão de Direitos Humanos da CMPA, Comissão Memória Verdade Enrique Serra Padrós Ufrgs, Comissão Memória Justiça PCdoB.
8 de abril
A homenagem a Vladimir Herzog no Dia do Jornalista acontecerá das 9h às 11h30 na Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação (Fabico/Ufrgs) em Porto Alegre. A mediação será do professor Luiz Artur Ferraretto e o evento destacará o papel do jornalismo na resistência ao regime militar e a importância da defesa da liberdade de imprensa.
13 de abril
O Ato em homenagem às vítimas da ditadura ocorrerá às 10h no Parque Marinha, em Porto Alegre, em frente ao Monumento aos Mortos e Desaparecidos. A atividade é promovida pelo Grupo Verdade e Justiça, Consciência Crítica e Barricada, e busca reforçar a memória e a luta daqueles que tombaram na resistência contra o regime militar.
