Estudos sobre os possíveis efeitos da exposição precoce a alguns poluentes comuns no dia a dia foram avaliados por um grupo de pesquisa do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), que corroborou a possibilidade de riscos significativos para gestantes, bebês e crianças.
A revisão avaliou substâncias que estão na categoria poluentes orgânicos persistentes (POPs), mais especificamente os bifenilos policlorados (PCBs) e as perfluoralquiladas e polifluoralquiladas (PFAS).
Os PCBs estão presentes em alguns equipamentos elétricos, sistemas hidráulicos, transformadores e capacitores, por exemplo. Já os PFAs são associados a substâncias químicas de atividades industriais, espumas de combate à incêndio e até revestimentos antiaderentes de panelas.
Embora sejam alvo de restrições desde a década de 1960 em diversos países e até de um tratado internacional para eliminação do uso, a persistência desses produtos no ambiente é uma de suas principais características.
“Altos níveis desses compostos ainda podem ser detectados em muitas matrizes ambientais e biológicas, devido às suas propriedades químicas e meia-vida significativamente longa”, afirma o artigo.
Na lista de locais e produtos em que os POPs foram detectados estão água, alimentos, produtos lácteos, tintas, prédios antigos e embalagens, por exemplo. A exposição a essas substâncias, mesmo em baixas concentrações, levanta sérias preocupações, especialmente durante os períodos críticos do desenvolvimento.
O artigo aponta que PCBs e PFAS podem interferir no sistema nervoso central, especialmente na fase de desenvolvimento. Também há indícios de possíveis danos ao sistema endócrino, risco de neuroinflamação e estresse oxidativo, quando o corpo reduz a capacidade de neutralizar resíduos.
Na análise dos estudos existentes sobre o tema, o artigo encontrou, inclusive, pesquisas que demonstram efeitos psicológicos e comportamentais, como ansiedade e depressão. No primeiro ano de vida, a exposição tem sido associada a sintomas de transtorno de déficit de atenção/hiperatividade (TDAH) e alterações em habilidades cognitivas.
Para bebês, os riscos ocorrem desde a gestação, já que as PFAs podem atravessar a barreira placentária e impactar a produção do chamado hormônio tireoidiano fetal, com potenciais consequências para o neurodesenvolvimento do feto.
O artigo avalia que, apesar das investigações já existentes sobre os efeitos dessas substâncias, o conhecimento científico ainda tem lacunas na área. A maioria dos estudos sobre PFAS se concentra em compostos mais antigos e há uma falta significativa de compreensão sobre os efeitos dos PFAs de cadeia curta, que são mais solúveis.
Além disso, boa parte das pesquisas avalia a toxicidade de substâncias isoladas, mas ainda se sabe pouco sobre os da exposição a múltiplos produtos. O artigo enfatiza a necessidade de mais pesquisas na área, visando o desenvolvimento de estratégias preventivas e políticas de saúde pública eficazes.
A revisão realizada pelo grupo de pesquisa da Fiocruz tem objetivo de compilar o conhecimento produzido pela ciência sobre o tema para criar as bases teóricas de uma nova pesquisa. Esse estudo, que já está em fase inicial, vai investigar os efeitos da exposição a poluentes orgânicos persistentes através de experimentos em culturas de células e modelos experimentais.