O secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, informou, nesta quinta-feira (27), que cancelou os vistos de mais de 300 manifestantes, os quais classificou como “lunáticos” por protestos pró-Palestina. Desde que o presidente Donald Trump voltou à Casa Branca, em 20 de janeiro, Rubio tem tomado medidas agressivas contra estudantes que lideram protestos contra Israel e o genocídio em Gaza nos campi.
“São talvez mais de 300 neste momento. Nós o fazemos diariamente, cada vez que encontro um desses lunáticos. Espero que em algum momento acabem, porque nos livramos de um monte deles”, afirmou. O caso de maior repercussão foi o de Mahmud Khalil, líder dos protestos na Universidade de Columbia, em Nova York, preso e transferido para a Louisiana para dar início a seu processo de deportação, apesar de ser residente permanente nos Estados Unidos.
Em entrevista ao Brasil de Fato, um estudante brasileiro que está fazendo mestrado em Massachusetts afirmou que a situação dos estudantes estrangeiros no país é “assustadora”. “O clima entre os alunos internacionais é de medo. É assustador viver num lugar onde você sente que sua opinião pode ser usada futuramente para sua detenção ilegal”, disse sob a condição de anonimato, por temer represálias.
Rubio foi questionado sobre um novo caso na Universidade Tufts na quarta-feira (26), em Massachusetts, onde agentes de imigração detiveram a estudante turca de doutorado Rumeysa Ozturk, que escreveu um artigo de opinião em um jornal universitário exigindo que a instituição “admitisse um genocídio contra os palestinos”.
“Se nos diz que a razão pela qual vem aos Estados Unidos não é só porque quer escrever artigos de opinião, mas porque quer participar de movimentos que se dedicam a vandalizar universidades, assediar estudantes, ocupar edifícios e criar alvoroço, não lhe daremos um visto”, disse o secretário de Estado, evitando se referir diretamente a Ozturk. “Se mente, consegue um visto e depois entra nos Estados Unidos e com esse visto participa deste tipo de atividade, vamos tirar seu visto”, sentenciou.
Para o estudante brasileiro, a detenção da estudante turca na Universidade Tufts foi um “sinal claro de que os EUA já estão vivendo em um regime autocrático e ditatorial”.
“No momento que o governo pode capturar pessoas em plena luz do dia, sem a necessidade de mandado judicial e sem habeas corpus, já é uma ditadura. O fato de que um juiz determinou que ela não fosse removida de Massachusetts e hoje ela estar num campo de detenção em Louisiana mostra como os EUA estão enfrentando uma crise constitucional gravíssima”.
Ele classifica o caso dos estudantes venezuelanos que estão sendo enviados para El Salvador é “ainda mais assustador”. “Pessoas sem nenhuma ficha criminal e nenhuma indicação de ligação com gangues são enviadas para prisões sub-humanas em El Salvador. Crianças morrendo em centros de detenção do ICE (Imigração e Alfândega dos EUA). O fascismo está instaurado aqui e se não houver uma reação forte da oposição interna e do restante do mundo, nada vai mudar.”
Apesar dos Estados Unidos terem participado ativamente da instauração de ditaduras pelo mundo, inclusive no Brasil, ele aponta que os cidadãos estadunidenses nunca passaram por esse tipo de situação em seu próprio país. “As pessoas não tem noção da fragilidade da democracia e do quão rápido ela pode simplesmente deixar de existir. Eles tratam a Constituição aqui como uma entidade, mas esquecem que é um pedaço de papel e que só funciona de fato se todos se comprometem a segui-la”.
*Com AFP