O ex-presidente Jair Bolsonaro(PL) admitiu, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, neste sábado (29), ter conversado com aliados sobre a possibilidade de acionar um Estado de Sítio, de Defesa ou até mesmo o artigo 142 da Constituição para impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2023.
“Eu não esperava o resultado [das eleições]. Nós entramos com a petição e, no dia seguinte, o senhor Alexandre Moraes mandou arquivar e nos deu uma multa de R$ 22 milhões. Se a gente recorresse, podia passar para R$ 200 milhões. Se eu não vou recorrer à Justiça Eleitoral, pode ir para onde? Eu conversei com as pessoas, dentro das quatro linhas, que vocês estão cansados de ouvir, o que a gente pode fazer? Daí foi olhado lá, [estado de] sítio, [estado de] defesa, [artigo] 142, intervenção”
Ele alegou, no entanto, que desistiu da ideia “logo de cara”.
“Golpe não tem Constituição. Um golpe, a história nos mostra, você não resolve em meses. Anos. E, para você dar um golpe, ao arrepio das leis, você tem que buscar como é que está a imprensa, quem vai ser nosso porta-voz, empresarial, núcleos religiosos, Parlamento, fora do Brasil. O “after day”, como é que fica? Então foi descartado logo de cara”.
Para o ex-presidente, é normal debater esses assuntos dentro do governo. “Não tem problema nenhum conversar”.
“Tem que discutir com várias pessoas. Eu tenho muita confiança nos militares. Não tem problema nenhum conversar. Conversa primeiro com o ministro da Defesa. Depois, na segunda reunião que apareceu os caras lá. Existe algo fundamentado, concretamente, para gente buscar uma alternativa? Chegou à conclusão que, mesmo que tivesse, não vai prosseguir. Então esquece”.
Jair Bolsonaro e mais sete aliados, entre os quais cinco militares, tornaram-se réus na quinta-feira (27) por tentativa de golpe de Estado, organização criminosa, dano qualificado ao patrimônio da União e deterioração de patrimônio tombado. Eles agora respondem a um processo que pode levá-los a 43 anos de prisão.
Na entrevista, Bolsonaro afirmou ainda que a prisão pode ser o “fim da sua vida”, e negou tentativa de sair do Brasil, onde se considera popular. “Eu acho que eu estou com uma cara boa aqui. Tenho 70 anos, me sinto bem. Eu quero o bem do meu país”, disse.