Manifestantes foram às ruas em diferentes cidades do país neste domingo (30) para protestar contra a proposta de anistia para os golpistas que atuaram no 8 de janeiro de 2023. Em São Luís (MA), por exemplo, representantes de movimentos populares, sindicatos e outros coletivos se reuniram desde as 9 horas da manhã na Praça João Lisboa, região central da capital, em meio a uma feira popular. O grupo também aproveitou a oportunidade para protestar contra o legado do golpe militar no Brasil, que completa 61 anos na terça (1º).
Presidenta da representação estadual do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes), Ilse Gomes sublinha que o movimento de oposição à anistia para os apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) não pode ser desconectado da luta contra a memória da ditadura civil-militar. O regime tem nas costas o número de pelo menos 434 mortos e desaparecidos políticos, segundo dados do relatório da Comissão Nacional da Verdade, publicado em 2014, mas a atual Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos estima que o montante real passe de 10 mil.
“A primeira coisa que nos inspira aqui hoje é a defesa da democracia. O Brasil é um país que tem uma característica autoritária na sua história. Nós estamos com cerca de 40 anos de reconstrução do regime democrático no país, e mesmo assim tivemos uma tentativa de golpe, que foi 8 de janeiro de 2023, além de termos tido um governo de quatro anos sempre ameaçando a democracia brasileira. Então, somos um país com uma democracia muito restrita, e mesmo essa democracia restrita foi ameaçada recentemente. Há uma parte da população que minimiza essa questão, por isso precisamos a cada dia realçar que a democracia é o regime no qual a gente pode garantir desde a liberdade de expressão, a liberdade de organização até melhores condições de vida para todos”, afirma.
Em Brasília, manifestantes estenderam faixas contra a anistia no Eixão, principal via da cidade e ponto de lazer aos domingos. O grupo aproveitou para conversar com os transeuntes e tentar mobilizar mais pessoas contra a proposta bolsonarista. As ações ocorrem após o Supremo Tribunal Federal (STF) acolher denúncia criminal da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Jair Bolsonaro e sete ex-integrantes do seu governo por tentativa de golpe de Estado. Também vêm à tona no momento em que a ala bolsonarista tenta emplacar, na Câmara dos Deputados, um pedido de urgência para a tramitação do Projeto de Lei (PL) 2858/2022, que libera de penalidades quem tiver participado de atos populares em qualquer lugar do território nacional desde o dia 30 de outubro de 2022, data em que o ex-capitão foi derrotado nas urnas ao tentar a reeleição.

Para a servidora pública Elizabeth Hernandes, do movimento Espíritas à Esquerda, a agitação nas ruas pode ajudar a barrar a tramitação da proposta no Legislativo. “Acredito nisso. É por isso que a gente está na rua. Tem muita gente aqui – gente jovem e gente de todas as idades – e certamente isso faz a diferença”, disse a militante, que se somou ao grupo do protesto na capital federal.

Em São Paulo, a Avenida Paulista, tradicional ponto de atos populares na capital, foi o palco de mobilização. O protesto foi puxado pelas frentes Povo Sem Medo e Brasil Popular, que aglutinam diferentes entidades civis, como sindicatos, partidos políticos e movimentos populares, todos eles situados no espectro do campo progressista. Entre os integrantes figuram, por exemplo, PCdoB, PT, Psol, PV, Rede, Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), Movimento dos Trabalhadores sem Teto (MTST) e a União Nacional dos Estudantes (UNE).

Os parlamentares Guilherme Boulos (PSOL-SP) e Lindbergh Farias (PT-RJ) tomaram a palavra durante o ato, utilizando a estrutura de som montada para o evento. Em sua fala, o deputado do Psol fez questão de comparar o volume de participantes com o do protesto realizado por apoiadores do ex-presidente Bolsonaro em Copacabana, no Rio de Janeiro, afirmando que a manifestação na capital paulista reuniu um contingente superior. Boulos também liderou os manifestantes nos gritos de “sem anistia”, que ecoaram entre os presentes.

Em virtude do cenário político que circunda Bolsonaro e do aniversário do golpe militar, outras diferentes cidades do país programaram protestos para este período. Fortaleza (CE), Belo Horizonte (MG), Belém (PA), João Pessoa (PB), Recife (PE), Curitiba (PR), Niterói (RJ), Volta Redonda (RJ) e Rio de Janeiro (RJ). Nesta última, manifestantes se concentraram neste domingo (30) em pontos como o Museu da República, no Catete, e a feira do bairro da Glória, ambos na zona sul da cidade.