Esta segunda-feira (31) marca um acontecimento trágico e atroz na história do Rio de Janeiro, os 20 anos dos crimes conhecidos como Chacina da Baixada. 11 policiais foram denunciados e o estado reconheceu a participação dos seus policiais no ato.
Em 31 de março de 2005, policiais militares do Batalhão de Duque de Caxias saíram atirando a esmo e mataram 29 pessoas entre Nova Iguaçu e Queimados. A tragédia coincide com outro evento histórico que resultou na tortura, morte e desaparecimento de milhares de brasileiros: o golpe civil militar no Brasil, em 31 de março de 1964, que levou o país a 21 anos de ditadura.
Esta edição do Revista Rio, programa da Rádio Nacional, apresenta os motivos pelos quais os dois eventos estão interligados e como movimentos sociais e familiares se esforçam para que a chacina da baixada não seja esquecida para que não seja repetida. Quem conversa com o programa sobre o tema é o cientista social e coordenador do Fórum Grita Baixada, Adriano Moreira de Araújo.
Na entrevista, ele relaciona a herança da ditadura militar com a violência de Estado que historicamente produz chacinas como a da Baixada Fluminense, e ainda hoje atinge a população, especialmente a negra, nas favelas e periferias.
“Há uma perspectiva da segurança pública e das forças de segurança pública fortemente marcada pela perspectiva militarizada, de guerra ao inimigo, de confronto, de ocupação de território. Essa lógica militarizada, ela fez escola no Brasil. Muito antes de existir as chamadas milícias, a Baixada Fluminense já conhecia na década de 1960 e 1970 os grupos de extermínios e esquadrões da morte e nesses grupos já tínhamos a presença de policiais militares e de pessoas também oriundas das Forças Armadas. Então a gente vê uma continuidade dessa lógica”, afirma Moreira.
“Muitas vezes a violência policial é contextualizada por uma cadeia de comando, responsabilizar somente os executores e não os comandantes, é algo que a gente teria muito que avançar no Brasil. Quando você pensa em uma segurança pública em que se baseia mais no confronto, e eu não digo nem especificamente da Chacina da Baixada não, porque foi um ato totalmente ilegal e criminoso. Mas, por exemplo, no caso das operações policiais. Quem é o responsável por essas operações? Obviamente, os policiais que estão envolvidos seguem comandos”, questiona.
Para o pesquisador, além das responsabilizações, também é preciso lançar um olhar para os familiares das vítimas. Nesse sentido, o próprio Fórum Grita Baixada e outros movimentos surgiram a partir da organização das famílias atingidas pela violência praticada pelo Estado.
“Nós da Baixada Fluminense entendemos que a violência letal, seja ela praticada pela milícia, pelo tráfico ou também, infelizmente, por agentes públicos, de certa forma reflete a vulnerabilidade social e a invisibilidade da produção dessas mortes nesse território”, finaliza o cientista social.
Artigo original publicado em Revista Rio.