Apoiadores do ex-presidente da Bolívia Evo Morales anunciaram nesta segunda-feira (31) a criação do partido Evo Pueblo. A ideia é fazer com que o líder histórico boliviano possa disputar as eleições mesmo depois de sair da sua antiga sigla, Movimento al Socialismo, e de ser impedido de disputar as eleições pela Justiça do país.
O grupo foi formado por indígenas e camponeses e terá de ser reconhecido legalmente para poder disputar as eleições de 2025 em agosto. Para isso, o Evo Pueblo terá que buscar ao menos 109.500 assinaturas, cerca de 1,5% do eleitorado.
“Foi proposta a aprovação da sigla ‘EVO PUEBLO’ como identificação oficial do movimento, e a mesma foi aprovada por maioria”, disse Morales nas redes sociais. A ideia inicial era disputar o pleito pelo partido Frente para a Vitória, um pequeno grupo de esquerda que ainda não tem representação no Congresso.
A decisão de Evo também desafia uma decisão da justiça eleitoral do país. O Tribunal Constitucional Plurinacional da Bolívia decretou, em dezembro de 2023, que presidentes e vice-presidentes só poderiam exercer o cargo por dois mandatos, de forma seguida ou não. Com a sentença judicial, Evo Morales, que foi presidente por quatro mandatos, não poderia voltar ao poder.
Evo foi eleito presidente do MAS em janeiro de 1999 e na liderança da sigla chegou à presidência do país em 2006, ocupando o cargo até 2019, quando foi destituído por um golpe. O Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) da Bolívia já havia reconhecido em novembro Grover García como presidente do MAS. Com isso, Morales perdeu a liderança da sigla depois de 25 anos em meio a uma disputa política interna com o atual presidente, Luis Arce.
A decisão ocorreu depois do congresso realizado pelo MAS na cidade de El Alto. O evento foi organizado em maio por grupos ligados a Arce e deu a vitória ao atual presidente na disputa pelo partido. A decisão foi reconhecida pelo Tribunal Constitucional Plurinacional (TCP) só em 14 de novembro. A partir disso, o TCP orientou a decisão da Justiça Eleitoral. Evo rebateu a decisão e disse que se trata de uma apropriação do movimento indígena e que isso é “um sequestro que leva a um genocídio político”.
Disputa com Arce
O ex-presidente se tornou o principal opositor do atual governo, também de esquerda, depois de voltar do exílio na Argentina em 2020. Morales começou a criticar algumas decisões de Arce e seus apoiadores e disputar espaço pela candidatura do Movimento Al Socialismo (MAS) nas próximas eleições presidenciais, do ano que vem.
O estopim da desavença, na corrida pela liderança do MAS, se deu em outubro de 2023, quando apoiadores de Morales organizaram um congresso em Lauca Eñe, no distrito de Cochabamba. A região é seu berço político e reduto eleitoral. No evento, ele chamou os apoiadores de Luis Arce de “traidores”. Neste mesmo evento, o MAS determinou a expulsão de Arce do partido, já que ele, como representante da sigla no Executivo, não compareceu ao congresso.
Evo investigado
Morales também é acusado de “estupro e tráfico de pessoas” por supostamente manter relações sexuais com uma menina de 15 anos em 2015, quando ainda era presidente e, de acordo com a denúncia, ele teria tido uma filha com a adolescente em 2016. O ex-presidente da Bolívia não compareceu para depor na Delegacia Geral de Polícia de Tarija.
O ex-mandatário ainda foi acusado pelo ministro da Justiça, César Siles, de criar uma rede de jovens de 14 a 15 anos para ter à sua disposição sexualmente enquanto era presidente. O ministro disse que esse grupo seria chamado de “Geração Evo”. Os pais da menina também estariam sendo investigados porque supostamente receberam dinheiro ao entregá-la ao ex-presidente em troca de favores.
De acordo com a lei boliviana, caso ele não se apresentasse para depor, a Justiça poderia determinar uma ordem de captura para que Morales deponha. César Siles reforçou que Evo estaria sujeito à prisão caso não comparecesse.
O objetivo da defesa do ex-presidente é transferir o julgamento para Cochabamba, cidade onde vive Evo Morales, usando um artigo do Código de Processo Penal que faz referência ao “juízo natural”, ou seja, o direito de ser processado na jurisdição em que vive. Para o advogado Jorge Pérez, o processo “nasceu morto” por ter sido encerrado em 2020.
Evo Morales nega as acusações e critica a investigação, dizendo que são “inventadas” e pretendem forçar um processo criminal.