Estudantes do Centro de Ensino Médio (CEM) Urso Branco e do CEM 01 do Riacho Fundo I ocuparam, na última sexta-feira (28), a Regional de Ensino do Núcleo Bandeirante, região administrativa do Distrito Federal, para protestar contra a militarização de escolas públicas e pedir por melhores estruturas nas instituições de ensino periféricas.
A militarização do CEM 01 do Riacho Fundo I, única escola que oferta o ensino médio na região, foi aprovada em novembro do ano passado. No entanto, o movimento estudantil aponta que a votação foi “antidemocrática” e “sem escuta do contraditório”. O plebiscito aconteceu em um sábado, dia 9 de novembro, dificultando a participação dos estudantes. A proposta de gestão compartilhada entre a Secretaria de Educação do DF (SEE-DF) e a Polícia Militar foi aprovada por 280 votos. Segundo o movimento, a escola atende a mais de mil alunos.
“Os próprios estudantes do CEM criaram um movimento chamado ‘CEM01 vote não’, que foi completamente reprimido. O movimento estudantil, quando foi lá, foi expulso da escola, mostrando que a escola não queria escutar o contraditório”, afirmou ao Brasil de Fato DF o diretor da Federação Nacional dos Estudantes em Ensino Técnico (Fenet) Ray Silva. “Foi muito antidemocrático. A própria direção organizava a eleição e fazia campanha a favor e não permitia manifestação contra”, avaliou.

A militarização das escolas públicas no DF é criticada por pesquisadores e entidades da área da educação por diminuir a democracia das instituições de ensino e transformá-las em um ambiente de medo e intimidação. Especialistas evidenciam que, nas escolas cívico-militares, em nome da disciplina, crianças e adolescentes têm a autonomia e o desenvolvimento saudável da identidade comprometidos pela repressão do pensamento crítico.
“O modelo cívico-militar obedece a uma regra geral, em todo o país: estudante que não se adequa dentro da escola é expulso. Essa medida imposta na região administrativa terá como resultado a evasão de centenas de estudantes que teriam na escola sua única oportunidade de ingressar no ensino superior e ter uma vida digna”, aponta trecho da carta entregue pelos estudantes à Regional de Ensino durante a manifestação do dia 28.
Além da desmilitarização das escolas públicas, a carta assinada pela Fenet, União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes), Grêmio Estudantil Sarah Domingues Vive e pelo Movimento CEM 01 Vote Não apresenta outras demandas à SEE-DF:
- A reforma da fiação elétrica do Centro de Ensino Médio do Núcleo Bandeirante, para que seja possível a instalação de ventiladores e ar-condicionado nas salas
de aula; - Reforma da estrutura do Centro de Ensino Médio 01 do Riacho Fundo I e climatização das salas de aula;
- A desmilitarização do Centro de Ensino Médio 01 do Riacho Fundo I, única escola de ensino médio da região;
- A reforma da estrutura do banheiro das duas escolas, respeitando a dignidade dos estudantes em acessar um banheiro de qualidade;
- Protocolo de escuta e acolhimento em casos de assédio e violência sexual dentro da escola; que os servidores que apresentem tal conduta sejam criminalizados e
expulsos da instituição.
Segundo os estudantes, a realidade das escolas públicas localizadas nas periferias do DF é de “total descaso”. Falta de condições estruturais, como falta de ventilação adequada e banheiros quebrados, fazem parte do dia a dia dessas instituições. No CEM Urso Branco, os alunos relataram que não há torneiras nas pias dos banheiros, a maioria das cabines está interditada e não são fornecidos absorventes.

A falta de resolução para casos de assédio por parte de professores e servidores também foi apontada pelos alunos como um dos principais problemas. Eles relatam que as vítimas, ao procurarem ajuda da direção das instituiçõoes, “quando não são ignoradas, são revitimizadas”.
“A resposta é sempre a mesma: de que não é possível fazer nada. A maioria das estudantes, por não aguentar reviver o trauma e o contato direto com o
abusador diariamente, acabam por abandonar a escola”, destaca a carta assinada pelo movimento estudantil.
Promessas
Em resposta à manifestação, os alunos foram recebidos em reunião com dirigentes da Regional de Ensino do Núcleo Bandeirante, que também convidou a direção das duas instituições de ensino.

Durante o encontro, a regional firmou o compromisso de convocar uma reunião com a direção do CEM 01 de Riacho Fundo I para rediscutir a militarização da escola. O órgão também prometeu reformas nos banheiros e na fiação elétrica dos dois CEM.
“Saímos da regional com algumas vitórias, mas não vamos abaixar a cabeça. Isso não acaba agora, vamos continuar nos organizando e nos mobilizando até que a nossa educação seja de fato melhor”, afirmou o presidente da Fenet.