Começou na noite desta segunda-feira (7), em São Paulo, a conferência Dilemas da Humanidade: Perspectivas para a Transformação Social, que reúne nomes do pensamento progressista mundial para debater saídas concretas frente à crise do capitalismo.
A mesa de abertura foi realizada na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), com a presença de Claudia de la Cruz, candidata à presidência dos Estados Unidos em 2024 e cofundadora do The People’s Forum, organização voltada para a classe trabalhadora e comunidades marginalizadas, e do escritor e historiador indiano Vijay Prashad. A mesa também teve uma fala improvisada do deputado estadual Eduardo Suplicy (PT-SP).
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), tinha participação prevista, mas não compareceu por problemas de agenda.
Claudia de la Cruz enfatizou, em sua fala, a necessidade de construir espaços como o Dilemas da Humanidade. “Historicamente, esse evento serviu para conversarmos uns com os outros. Não só a conversa pela conversa, mas para criar planos como classe trabalhadora, ter um espaço que nos permita voltar reenergizados para fazer o trabalho que precisamos fazer em nossos países”, disse.
A ativista e candidata à presidência dos EUA em 2024 lembrou que, a despeito da posição do Estado norte-americano como avalista e executor de guerras e agressões a outras nações, a população está majoritariamente contra esses atos. “As pessoas nos EUA chegaram à conclusão que os seus inimigos não são aqueles que moram no Oriente Médio, mas aqueles que estão no Pentágono, na Casa Branca e no Congresso. As pessoas chegaram à conclusão de que o sistema econômico e político em que vivemos e operamos é o maior roubo, não apenas das necessidades materiais do nosso povo, mas também o maior roubo dos nossos sonhos e aspirações como classe trabalhadora.”
“A maioria das pessoas nos Estados Unidos não é a favor da administração Trump. Na verdade, 58% dos americanos acreditam que o capitalismo em geral não faz bem a eles como povo. 64% dos jovens com menos de 34 anos se posicionam contra o genocídio na Palestina“, afirmou, indicando a importância de haver pontos de comunicação entre a classe trabalhadora em todo o mundo.
“Não são as pessoas dos EUA que mantêm as sanções contra Cuba. Não são as pessoas dos EUA que mantêm as sanções contra a Venezuela. Na verdade, se eles soubessem, escolheriam acabar com essas sanções.”
Em sua fala, Vijay Prashad lembrou que estamos a cinco anos do momento em que os objetivos de desenvolvimento sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU) deveriam ser todos atingidos, o que não vai acontecer. “Os ODSs não são nossa agenda, nós queremos construir o socialismo, mas eles não vão conseguir atingir os seus próprios objetivos”, destacou. “O fracasso dos ODSs mostra que não há caminho para a melhoria da vida da maior parte da população dentro do capitalismo.”
“Um relatório recente do Banco Mundial chamado Pathways Out of the Polycrisis observa que 3,5 bilhões de pessoas ou 44% da
população global continuam pobres. Levaria mais de um século nas condições atuais para elevar as pessoas acima da linha de pobreza de US$ 6,85. Isso marca um fracasso grotesco da abordagem dos ODSs, que é meramente uma quantificação de
toda a agenda de desenvolvimento que capturou a formulação de políticas no último quarto de século”, destacou Prashad.
Ele pontuou que é fundamental superar a ideologia do desenvolvimento sustentável e todo o sistema de pensamento que o sustenta. “Todo o arcabouço precisa ser desafiado. O financiamento para o desenvolvimento não é apenas sobre bancos e dinheiro. É em grande parte sobre o planejamento para a utilização de recursos nacionais, incluindo terra e trabalho. Esse plano deve incluir a soberania de um país sobre seus recursos, não a rendição desses recursos a corporações multinacionais que sugam o valor no exterior por meio de práticas como baixas taxas de royalties e acordos de preços de transferência. Essas empresas têm soberania, enquanto a maioria dos países tem apenas bandeiras e hinos nacionais. Um plano para o desenvolvimento deve articular a melhor forma de reunir esses recursos para o ganho do povo”, afirmou.
“O socialismo é necessário, o capitalismo falhou. Perdoem-me por ser direto. O liberalismo teve seu tempo. O neoliberalismo teve 30, 40 anos para destruir o mundo. Não vamos mais lidar com o liberalismo. Para nos, o socialismo é o único caminho a seguir. É tempo de falar claramente aquilo em que acreditamos.”
Eduardo Suplicy foi convidado a falar ao fim da mesa e usou o espaço para defender a aplicação urgente da renda mínima. Ele contou que conversou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em busca de caminhos para a aplicação do programa. Ele afirmou que está com diálogo com o “Conselhão“, que reúne empresários, integrantes de movimentos populares e ativistas de diversas áreas para aconselhar o presidente da República em assuntos variados.
“A renda básica, quando assim se constituir, será uma garantia de liberdade para o povo brasileiro, o povo americano…”, afirmou, sendo interrompido por aplausos.
Dilemas da Humanidade
Com entrada gratuita, o evento reúne mais de 70 líderes, intelectuais e representantes de movimentos populares de todo o mundo para debater propostas que enfrentem as desigualdades, a fome e a crise ambiental causadas pelo capitalismo e pelo avanço neoliberal. A programação segue de 8 a 10 de abril no Sesc Pompeia, no bairro da Água Branca, em São Paulo, sempre a partir das 10h30.
Nesta terça-feira (8), a programação se inicia com a mesa “Dilemas da Humanidade”, que vai delinear a conjuntura histórica atual e seus desafios, como o impulso para a guerra, o aumento da pobreza, da fome e da desigualdade, além da ameaça global da catástrofe climática. A mesa será composta por Vijay Prashad, Mandla Radebe, da África do Sul, professor da escola de comunicações da Universidade de Joanesburgo, e Magdalena Leon, do Equador, economista especialista em economia feminista e economia solidária. Haverá também a participação online de Jeffrey Sachs, dos EUA, economista e autor do livro O Fim da Pobreza.
A conferência é organizada pelo MST, o Instituto Tricontinental de Pesquisa Social e a Assembleia Internacional dos Povos (AIP).