A poucas horas de completar duas semanas de protesto os indígenas Munduruku anunciaram, nesta segunda-feira (7), o fim do bloqueio na rodovia BR-163, no ponto de encontro com a BR-230, a Transamazônica, no município de Itaituba (PA).
“Liberamos a BR agora, nove horas [21h]”, anunciou Alessandra Korap Munduruku, em vídeo que circula pelas redes sociais. De acordo com os indígenas, a decisão é resultado de uma proposta encaminhada pelo gabinete do ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que irá realizar uma audiência com os Munduruku no dia 15 de abril. Nesta terça-feira (8), representantes da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib) também se reunirão com o ministro, em meio à 21ª edição do Acampamento Terra Livre (ATL), que reúne mais de 6 mil indígenas de todo o Brasil em Brasília ao longo desta semana.
A manifestação teve início no dia 25 de março, na véspera da retomada das audiências de conciliação do STF, que visam discutir o “anteprojeto de lei” elaborado pelo ministro. A proposta de Gilmar Mendes, considerada ilegítima pelo movimento indígena, pretende substituir a lei 14.701/23 que instituiu a tese ruralista do marco temporal, segundo a qual os indígenas só podem ter demarcadas as terras ocupadas por eles até 1988.
“E é muita luta, é muita resistência, todos os ataques, o silêncio que nós tivemos… As crianças adoeceram, os cacique aqui presente, os idosos, as mulheres grávidas, a juventude, esses guerreiros foram muito resistentes”, diz Alessandra.
A BR-163 é uma rodovia essencial no transporte da soja produzida no Mato Grosso. Por ali, circulam diariamente cerca de 1,8 mil caminhões levando grãos até os portos do rio Tapajós, em Itaituba. A escolha do ponto de bloqueio foi estratégica, já que o agronegócio é o setor interessado na aprovação da tese do marco temporal.
Na primeira semana de protesto, alguns caminhoneiros ameaçaram e tentaram intimidar os indígenas, arremessando pedras e até efetuando disparos de arma de fogo. Nenhum manifestante foi ferido.
Na última sexta-feira (4), os indígenas distribuíram aos caminhoneiros uma carta explicando os motivos da manifestação.
“Estamos aqui porque já fizemos de tudo para ser ouvidos pelos ministros e pelo Estado. Não tivemos resposta. Infelizmente, eles só ouvem quando são incomodados”, informava o documento.