O ato em defesa da anistia aos condenados por tentativa de golpe de Estado atraiu cerca de 44,8 mil apoiadores neste domingo (6) em São Paulo, segundo estimativa do Monitor do Debate Público do Meio Digital, da Universidade de São Paulo (USP). O público ficou aquém do registrado em fevereiro do ano passado, quando aproximadamente 185 mil pessoas se manifestaram no mesmo local, a avenida Paulista, em favor da pauta pró-anistia, conforme levantamento também realizado por pesquisadores da USP.
Marina Lacerda, pesquisadora em Ciência Política na USP, afirma que não há um senso de urgência sobre a pauta e que as pessoas não se sentem motivadas a ir às ruas defender a anistia de crimes.
“As pessoas vão para a rua quando têm um senso de urgência. Provavelmente, não houve um senso de urgência no sentido de que uma anistia é viável. Todos os fatores indicam para uma prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro e dos outros denunciados. É natural que os apoiadores do ex-presidente se articulem em torno disso, porque eles estão temerosos”, afirma Lacerda sobre o público presente na manifestação. “A rua é chamada a partir da urgência. Neste momento, não existe uma urgência nesse sentido.”
“A estratégia de mobilizar a partir da pauta de anistia, admitindo que houve um crime, está mobilizando pela defesa de um crime que foi cometido. Isso é ruim. As pessoas não vão apoiar que um crime que ocorreu seja perdoado”, explicou a pesquisadora em entrevista à Rádio Brasil de Fato.
Uma nova pesquisa Quaest divulgada neste domingo (6) mostra que a maioria dos brasileiros se opõe à ideia de conceder anistia aos envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2022. De acordo com o levantamento, 56% dos entrevistados são contra a anistia, enquanto 34% se mostram favoráveis à soltura dos réus.
Outro dado revelado pela pesquisa é a percepção dos brasileiros sobre o envolvimento de Bolsonaro nos ataques de janeiro. O levantamento indica que 49% dos entrevistados acreditam que o ex-presidente participou do planejamento dos atos golpistas, enquanto 35% discordam dessa afirmação. Essa avaliação sobre a responsabilidade de Bolsonaro não sofreu variação significativa em relação à pesquisa realizada em dezembro de 2024.
A pesquisadora também acredita que a possibilidade de as manifestações pró-anistia crescerem está diretamente relacionada às condições de vida da população e a popularidade do governo atual, de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “Se o governo atual estiver numa situação de muita fragilidade, de muita insatisfação popular, é natural que esses atos da extrema direita possam crescer. Eu quero dizer com isso é que elas vão crescer conforme o plano de fundo social, político, econômico que tiver atrás dela”, diz.
Atualmente, no entanto, “o presidente Jair Bolsonaro, neste momento, não tem as instituições, não tem a cúpula do poder judiciário a seu favor, não tem os grandes meios de comunicação a seu favor. O Congresso Nacional no momento não se inclina a votar o projeto de anistia. Se tivessem mobilizado a partir de uma outra linguagem, talvez até eles tivessem uma uma adesão maior.”
Em março, a Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu pelo acolhimento da denúncia oferecida pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e outras sete pessoas, que integram o primeiro núcleo de acusados da tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado democrático de direito.
Dessa forma, eles se tornam réus e responderão a uma ação penal pelos crimes de organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da União, e com considerável prejuízo para a vítima e deterioração de patrimônio tombado, com penas que podem variar de 20 a 26 anos de cadeia.