Após a visita do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ao Paraná na sexta-feira (4), o governador Ratinho Junior (PSD) foi um dos governadores que estiveram em São Paulo em evento neste final de semana pedindo impunidade para os presos no ‘8 de janeiro’. Embora presente no ato na Avenida Paulista que reuniu 44,9 mil pessoas, o governador do Paraná não discursou. Ele se limitou a fazer uma postagem em suas redes sociais escrevendo “juntos pela #anistia”.
Postura que contradiz seu posicionamento após o dia 08 de janeiro de 2023. O governador Ratinho Junior foi uma das lideranças que chegou a participar da reunião chamada pelo presidente Lula com todos os governadores após a tentativa de golpe. Ele também, para imprensa, chegou a criticar o que chamou de vandalismo. Depois do encontro, Lula e os demais presentes caminharam até à sede do STF, que também foi alvo dos ataques, e Ratinho reforçou que o Paraná permanecia à disposição para auxiliar as autoridades federais.
O governador do Paraná vinha evitando manifestar a anistia dos presos pelos ataques contra a democracia ocorridos em 8 de janeiro de 2023. Ratinho se limitava a questionar o tempo das condenações. Contudo, não vinha participando de atos, como o que ocorreu em Copacabana, em março.
Foi somente em seguida à visita do ex-presidente que Ratinho se manifestou pela impunidade dos condenados. O projeto que prevê a anistia aos golpistas tem como principal objetivo perdoar o ex-presidente Jair Bolsonaro, caso seja condenado, uma vez que o texto prevê perdão para os crimes cometidos entre a eleição de 30 de outubro de 2022 até 8 de janeiro de 2023. O PL, partido de Bolsonaro, tenta aprovar regime de urgência para a discussão. Mas, sem o apoio dos líderes partidários, precisa coletar 257 assinaturas para conseguir apresentar a proposta.
Já o governador se manifestou em dois posts praticamente idênticos, em que pede a anistia. Em uma foto, posa com Bolsonaro e outros governadores de extrema-direita. Em outra, em cima do caminhão de som, Ratinho está ao lado de Zema (MG), Ronaldo Caiado (GO) e Tarcísio (SP). Todos são pré-candidatos à presidência e contam com o apoio do já inelegível Bolsonaro. Nas fotos, Ratinho aparece sem a camisa da CBF, marca dos protestos de direita.
Para o professor da UFPR e especialista em política, Emerson Urizzi Cervi, a aparição tímida do governador paranaense foi negativa. Principalmente porque ele não discursou a favor da anistia.
“Ratinho tomou uma decisão arriscada ao decidir estar lá e não aparecer para o público. Desde a eleição do ano passado, Ratinho já percebeu que não terá mais os votos do bolsonarismo mais radical. Nem o próprio Bolsonaro apoiou os candidatos de Ratinho no Paraná. Essa ida dele à Paulista, sem se comprometer com a principal tese do movimento, só reafirmou isso. Pode até ser que os líderes do bolsonarismo no Paraná estejam no governo dele, mas, esses políticos não garantem os votos dos bolsonaristas para Ratinho e seus candidatos”, disse Cervi.
Para o deputado estadual e líder da oposição na Assembleia Legislativa do Paraná, Arilson Chiorato, a participação do governador nos atos demonstra seu desrespeito com a gravidade da situação. É inadmissível a anistia para pessoas que tentaram golpe de estado. O STF já deixou claro que não foi uma manifestação pacífica. Havia até plano para matar o presidente Lula, o vice Alckmin e o ministro Alexandre de Moraes. É lamentável que o governador Ratinho nunca tenha repudiado a violência e agora venha defender a impunidade junto ao inominável”, comenta o líder da oposição.
O Paraná ainda foi um dos estados que permitiu os acampamentos em frente de a três quartéis pedindo intervenção militar e golpe de estado. Eles só foram desmobilizados em 9 de janeiro de 2023 após determinação do Supremo Tribunal Federal.
A reportagem ainda procurou o governo do estado para saber se o governador comentaria a manifestação na Avenida Paulista. A assessoria disse que Ratinho já se manifestou nas redes sociais.
