A deputada estadual Ana Júlia Ribeiro (PT) foi alvo de ataques misóginos do deputado bolsonarista Ricardo Arruda (PL) após pedir sua substituição na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Assembleia Legislativa do Paraná (Alep), devido ao número excessivo de faltas. Arruda faltou a quatro sessões seguidas da CCJ. Contrariado, o bolsonarista disse que a deputada não conhecia o regimento e criticou as roupas usadas pela parlamentar. O ataque foi repudiado pela Secretaria Estadual de Mulheres do Partido dos Trabalhadores (PT).
Durante a sessão e em entrevista a jornalistas, Ricardo Arruda tentou desqualificar a deputada afirmando que ela “se comporta como se estivesse no centro acadêmico”, em crítica depreciativa à sua maneira de se expressar e se vestir. O deputado ainda sugeriu que Ana Júlia Ribeiro desconhecia o regimento da Casa.
Segundo a parlamentar, Arruda compareceu a apenas duas das sete reuniões realizadas neste ano. O Regimento Interno da Casa prevê a perda do cargo em comissões em caso de três ausências consecutivas sem justificativa. Com base nesse dispositivo, Ana Júlia solicitou o afastamento do colega da CCJ.
Referente aos ataques sofridos na segunda-feira (8), a deputada disse: “Ele tentou me humilhar dizendo que eu não sei o que estou fazendo aqui, que isso fica evidente pela forma como falo ou me visto. Alegou ainda que desconheço o regimento por ser jovem e estar em meu primeiro mandato. Não vejo nenhum demérito em ter vindo do movimento estudantil — muito pelo contrário, tenho muito orgulho disso”.
A Secretaria Estadual de Mulheres do PT divulgou uma nota de solidariedade à deputada. “A tentativa de reduzir uma mulher ao que ela veste é um instrumento antigo do patriarcado, usado sistematicamente para deslegitimar, silenciar e controlar a presença das mulheres nos espaços de poder. Quando essa atitude parte de um colega parlamentar, dentro do espaço democrático da Assembleia Legislativa, trata-se de uma violência política de gênero que precisa ser denunciada com firmeza”, afirma o texto.

Durante CCJ, Arruda acompanhava julgamento de Bolsonaro
Durante as sessões ausentes da CCJ, o deputado Ricardo Arruda se dedicava à agenda bolsonarista. A reportagem apurou que em um dia dessas faltas, 25 de março, coincide com a data em que Bolsonaro foi tornado réu pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Na mesma data, o deputado postou vídeos contra o STF.
Já em 24 de março, data de outra ausência, afirmou em suas redes: “Semana cheia pela frente: sessões plenárias, reuniões importantes no gabinete e muitas visitas para receber”. No mesmo dia, o deputado se dedicou a atacar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o vice-presidente Geraldo Alckmin, defendeu a “moça do batom”, como ficou conhecida uma das denunciadas pelos atos antidemocráticos de 8 de janeiro, e afirmou ter apresentado projeto para “proibir a vacina em criança”.