Na manhã desta terça-feira (8), a Câmara de vereadores de Olinda aprovou a proposta de Decreto Legislativo nº 8 de 2025, que concede o título de cidadão olindense para o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), réu em processo que o acusa de integrar uma organização criminosa que visava interferir no processo democrático brasileiro. Entre os 17 representantes do povo, a vereadora Eugênia Lima (PT) foi a única que votou contra a homenagem, enquanto Labanca (PV) e Biai (Avante) se ausentaram.
Desde meados das 8h30, dezenas de pessoas já protestavam na porta da Casa Bernardo Vieira de Melo, usando camisas vermelhas e carregando cartazes pedindo a prisão do ex-presidente da República e dos demais réus acusados de conspirar, no fim de 2022, para dar um golpe no Brasil. Dentro da Câmara, militantes de esquerda disputavam espaços com bolsonaristas na pequena galeria da casa legislativa. Houve empurra-empurra, troca de ofensas, gritos e até uma militante de esquerda que acusou um bolsonarista de tê-la mordido no braço.
A votação
Na votação do título de cidadão olindense a Jair Bolsonaro, a vereadora Eugênia Lima (PT) deu o único voto contrário. O colega Vlademir Labanca (PV) faltou à sessão desta terça-feira e o vereador Biai (Avante) só participou da abertura das cerimônias, optando por se ausentar das votações. Os demais 14 vereadores foram favoráveis à homenagem ao ex-presidente da República.
Bolsonaro é réu em processo que o acusa pelos crimes de tentativa de abolição violenta do Estado democrático de direito; participação em organização criminosa armada; tentativa de golpe de Estado; dano qualificado pela violência e grave ameaça contra o patrimônio da União; além de deterioração de patrimônio tombado. O julgamento acontecerá no Supremo Tribunal Federal (STF), com risco de prisão do ex-presidente.
Votaram a favor do título de cidadão olindense para Jair Bolsonaro os vereadores Wanderley Simplício (PV), Saulo Holanda (MDB), Milcon Rangel (MDB), Denise Almeida (PSD), Jesuíno Araújo (PSD), Felipe Nascimento (PSD), Professor Marcelo (PSD), Mizael Prestanista (PSD), Ricardo Souza (Avante), Márcio Barbosa (Avante), Iran Barbosa (DC), Sardinha (Agir), Jadílson Bombeiro (PL) e o autor da proposta, Alessandro Sarmento (PL).
Após anunciar o projeto, o presidente da Câmara, Saulo Holanda (MDB), colocou o projeto “em discussão” e, literalmente um segundo depois, chamou a votação afirmando “não haver quem queira discutir”. A vereadora Eugênia Lima (PT) levantara a mão para fazer uma fala, mas o presidente disse que “já passou”. A parlamentar foi à mesa diretora reivindicar seu direito à fala, mas não houve acordo. Assista abaixo.
No momento de dar seu voto, Eugênia Lima tentou fazer um discurso, mas foi interrompida com gritos do presidente da Câmara, ordenando que ela respondesse apenas “sim ou não” e acusando-a de “ferir o regimento desta Casa”. Nas galerias, os gritos eram de “golpista” dirigidos a Saulo Holanda (MDB). Mulher e única parlamentar de oposição em Olinda, Lima tem passado maus bocados na casa legislativa. Há um mês, uma sessão foi encerrada ignorando que ela estava inscrita para falar.
Na segunda-feira (7), ao ser abordado por um eleitor, que filmava o diálogo, Saulo Holanda (MDB) disse que os vereadores de Olinda têm um acordo informal de nunca votarem contrariamente a títulos de cidadão propostos pelos colegas parlamentares.
Bolsonaro 14 x 12 João Campos
Minutos antes da concessão do título a Bolsonaro, os vereadores votaram o decreto legislativo nº 7 de 2025, que concedeu o título de cidadão olindense para João Campos (PSB), prefeito do Recife e provável candidato ao governo de Pernambuco em 2026. Após a aprovação do título, vereadores de Olinda posaram para uma foto junto a um banner que dizia “João Campos, futuro de Pernambuco e do Brasil”.
Apesar de gozar alta popularidade, Campos teve menos votos que Bolsonaro na Câmara de Olinda, contando com 12 votos por sua “cidadania” na Marim dos Caetés. Além de Labanca (PV) e Biai (Avante), se ausentaram da votação três dos cinco vereadores do PSD, partido da prefeita Mirela Almeida e agora da governadora Raquel Lyra.
Homenagem também no Agreste
No município de Santa Cruz do Capibaribe, região Agreste do estado, o vereador José Adílson Vitorino (PL), popular Adilson Bolsonaro, também propôs, nesta segunda-feira (7), a concessão de título de cidadão santacruzense ao ex-presidente Jair Messias Bolsonaro. Na justificativa, o parlamentar diz que Bolsonaro foi o único presidente na história do país a visitar Santa Cruz do Capibaribe durante o exercício do mandato. O ex-presidente não entregou obras na cidade, apenas realizou motociatas, posteriormente revelado que foram pagas com cartão corporativo.
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