O ministro das Comunicações, Juscelino Filho, pediu demissão do cargo, nesta terça-feira (8), após ser denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) por supostos desvios de emendas parlamentares enquanto atuava como deputado federal.
Em seu lugar, o União Brasil deve indicar o líder do partido na Câmara, o deputado federal Pedro Lucas Fernandes (MA), do mesmo estado de Juscelino, para assumir a pasta. Paulo Niccoli Ramirez, professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), no entanto, acredita que a demissão é um “bom momento para indicar” algum político “mais próximo” do PT e das pautas defendidas pelo campo progressista.
“Existe a possibilidade da convocação por parte do União Brasil de outro componente do seu partido para ocupar esse cargo. Mas esse momento de crise pode ser uma grande oportunidade para o governo Lula trazer alguém mais próximo do governo, alguém do próprio PT, de fato com competência de causa, digamos assim, para que a imagem do governo melhor diante da sociedade, diante da opinião pública”, analisa Ramirez em entrevista ao programa Conexão BdF, da Rádio Brasil de Fato.
O professor afirma que a nomeação de alguém do campo progressista pode alavancar a imagem dos programas sociais implementados pelo governo, tendo em vista as eleições presidenciais de 2026. “É um bom momento repensar a composição desse ministério, indicar alguém mais próximo, alguém que de fato consiga alavancar sua imagem de todos os programas sociais feitos pelo governo, a fim de que haja o melhor resultado da eleição do ano que vem, a eleição presidencial”, diz.
Juscelino Filho foi denunciado pela PGR ao Supremo Tribunal Federal (STF) pelos crimes de organização criminosa, fraude em licitação, peculato e corrupção ativa. Agora, o relator do caso na Corte, o ministro Flávio Dino, convocará a defesa do ex-ministro para apresentar os argumentos. Em seguida, os ministros votam se aceitam ou não a denúncia.
Nas redes sociais, Filho negou todas as acusações. “Hoje tomei uma das decisões mais difíceis da minha trajetória pública. Solicitei ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva meu desligamento do cargo de ministro das Comunicações”, anunciou o ministro.
“A decisão de sair agora também é um gesto de respeito ao governo e ao povo brasileiro. Preciso me dedicar à minha defesa, com serenidade e firmeza, porque sei que a verdade há de prevalecer. As acusações que me atingem são infundadas, e confio plenamente nas instituições do nosso país, especialmente no Supremo Tribunal Federal, para que isso fique claro. A justiça virá!”, escreveu o ministro em suas redes sociais.
O político do União Brasil foi indiciado pela Polícia Federal em agosto de 2024. De lá para cá, passaram-se oito meses. Na opinião do professor Paulo Niccoli Ramirez, houve demora para a demissão de Juscelino Filho devido à pressão que a legenda do Centrão exerce sobre o governo Lula (PT), e uma exoneração, nesse sentido, poderia causar “um mal-estar”.
“A gente não pode esquecer que o União Brasil tem muitos deputados federais e, sem esse partido, o PT não consegue formar uma mínima maioria para aprovar importantes projetos para o país. Então, claro que é uma questão estratégica. Esperou-se que a Procuradoria Geral da República levasse adiante as investigações”, afirma Ramirez.
Em suas palavras, o partido de Antonio Rueda é “um mal necessário ao PT”. “Querendo ou não, o Lula é provavelmente candidato à Presidência no próximo ano e terá que contar com o maior número possível de partidos, principalmente fazendo campanha em localidades do interior do país. O União Brasil seria um partido muito importante. Isso lembra um conceito alemão que é o realpolitik, que significa a política o jogo de interesses. Trata-se de um pragmatismo, que é o chão do que é política”, diz o professor.
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