Ser vereadora pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) no Rio de Janeiro é carregar, todos os dias, a responsabilidade de uma história coletiva. No campo e na cidade, lutamos por um país que alimenta seu povo com dignidade. Neste Abril Vermelho, em memória aos 21 trabalhadores sem terra assassinados em Eldorado do Carajás, seguimos em marcha com a mesma convicção de sempre: ocupar para alimentar o Brasil.
A fome que volta a assombrar os lares brasileiros não é uma fatalidade, é resultado de um projeto. Um projeto de concentração de terra, de produção voltada à exportação e de destruição ambiental. De 2012 a 2024, o preço da comida no domicílio subiu 162%, enquanto a inflação geral foi de 109%. Produzimos soja e milho para fora, mas falta arroz, feijão e hortaliças no prato do povo.
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O Brasil é um dos maiores exportadores de alimentos do mundo, mas segue com 33 milhões de pessoas passando fome. Isso é reflexo da ausência de políticas efetivas para a reforma agrária.
A reforma agrária não é só uma pauta do MST: é uma necessidade nacional. Precisamos democratizar a terra, fortalecer a agricultura familiar, instalar cinturões verdes ao redor das cidades, multiplicar as Cozinhas Populares, retomar os Restaurantes Populares e ampliar políticas como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). É assim que se combate a fome, reduz o preço dos alimentos e protege a soberania alimentar.
O modelo do agronegócio, baseado no monocultivo e nos agrotóxicos, destrói nossos biomas e afeta diretamente a vida da população. Em 2021, o agro foi responsável por 97% do desmatamento no país. Enquanto isso, a produção agroecológica dos assentamentos do MST prova, todos os dias, que é possível alimentar sem envenenar.
Hoje, 145 mil famílias ainda vivem em acampamentos, sob lonas pretas, esperando pela terra que deveria ser um direito garantido. O governo Lula deu passos importantes, como a destinação de lotes em assentamentos, mas a conta não fecha: até agora, só 8% da demanda imediata foi atendida. Não há combate à fome sem orçamento robusto para desapropriação de terras não produtivas.
Se o Estado quer enfrentar a crise climática, a carestia e as desigualdades, precisa fazer uma escolha: continuar refém de um modelo agroexportador ou investir, de verdade, na reforma agrária popular e na produção de alimentos saudáveis.
*Maíra do MST é vereadora pelo PT do Rio de Janeiro.
**Este é um artigo de opinião e não necessariamente representa a linha editorial do Brasil do Fato.